Capítulo 18 - Capacidade

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Alisha amaldiçoou Lancer. O maldito traidor do reino, tudo havia começado por causa dele e agora, havia terminado. Sob a décima badalada dos sinos do templo, o coração do Zashti, Mingzhi Gulao, havia parado de bater. Raniel tentou chamar por sua Corrente d'alma, entretanto, aquele velho homem não possuía mais nenhuma ligação com bens materiais. Não havia nada que mantesse sua Essência Vital presa a seu corpo por tempo o suficiente para a ressurreição.

Raniel havia chorado, assim como Zithar, Kauane, Marcon e Sieron. Os citados tinham um vínculo especial com o chinês e sentiram muito sua perda. Por um instante, Alisha pensou que Zithar fosse gritar e puxar os próprios cabelos, afinal, ela havia suportado perder não só seu cunhado, como também seu amigo, e descoberto a traição de Lancer, aquele em quem ela tanto confiou. Três perdas significativas, e ela estava fazendo o máximo para que não a vissem chorando. Já Alisha, ela havia voltado para Hydarth e voltado para o carro, chorando em meio a chuva, dizendo para o pai que seu mestre havia falecido de um ataque cardíaco.

Richard, obviamente, acreditou, principalmente quando entrou na loja e viu o corpo de Mingzhi, totalmente regenerado, mas com o coração parado. A ambulância foi chamada e, graças as magias de Raniel, os exames haviam apontado para uma parada cardíaca, agora, era questão de tempo para que o corpo pudesse ser enterrado e o testamento, executado.

Nos dois dias após o assassinato de Mingzhi, Alisha permaneceu dentro do quarto com Lucky, que tentava a alegrar. Seu corpo recusava alimentos saudáveis, conseguindo consumir apenas doces e salgados, principalmente sorvete, chocolate e pizza. Marla havia ligado diversas vezes para seu telefone, entretanto, todas as suas ligações foram dispensadas, lhe restando apenas a opção de mandar suas condolências para a amiga através de mensagens de texto, muitas mensagens de texto, as quais Alisha leu com os olhos pesando de sono.

Obviamente, ela havia ido para o colégio no dia seguinte, entretanto, não deixou de levar o livro e sua chave consigo na bolsa. Richard não havia permitido que ela faltasse a aula, afinal, ela tinha de continuar forte. Na sala de aula, assim que ela abriu a porta, as cabeças de seus colegas se voltaram diretamente para ela. Foi uma sincronia perfeita e desgraçada. Alisha sentiu-se observada por bonecos sinistros, cujos olhos, vidrados e sem vida, a seguiam para todos os lugares. Notícias se espalham com o vento.

Seus lábios se contorceram em uma linha reta e, com grande esforço, se esticaram em um sorriso sem dentes enquanto sua cabeça fazia um pequeno movimento de cumprimento, como se dissesse "bom dia" para todos. Mal dia. Com uma tranquilidade inesperada, seu corpo se movimentou, serpenteando por entre as cadeiras bagunçadas até seu lugar. Como esperado, Marla estava lá, sentada na cadeira ao lado da de Alisha, esperando pela a amiga.

Ao percebe-la ali, Marla tirou os fones de ouvido e se levantou, indo ao encontro de Alisha e a abraçando.
Ela começa a falar algo, provavelmente significante, entretanto, Alisha não prestava atenção. Seu foco estava totalmente na sensação do corpo da morena contra o seu, a aquecendo de forma aconchegante e acolhedora como quem diz estou aqui.  Então, aquela sensação agradável desapareceu, dando lugar a um aperto amigável em seus ombros 

— Ok? — Marla sorri suavemente, tentando a reconfortar.

Por um instante, Alisha se sente culpada por não ter prestado atenção no discurso provavelmente maravilhoso da amiga, que tentava ao máximo ser acolhedora e compreensível. Então, para disfarçar a confusão, ela sorriu.

— Ok. Obrigada, Marla.

Elas se sentaram em seus respectivos lugares e começaram a conversar em baixo tom. Alisha manteve a mesma história que contara a seu pai e a qualquer outro: Mingzhi Gulao faleceu de parada cardíaca.  Marla, genial como sempre foi, ou simplesmente profissional em identificar maquiagem, notou que a amiga usava pó compacto em excesso. Alisha apenas deixou uma risada baixa e falsa escapar, e explicou que a maquiagem escondia suas olheiras. O que era, em partes, verdade.

Daechya - A Crônica Do Kniga *Revisando*Onde histórias criam vida. Descubra agora