Aos poucos, foi saindo do estado de inconsciência, despertada por um choro repleto de dor e tristeza. Tentou se movimentar, entretanto, estava presa pelos pulsos e tornozelos, por correntes grossas que machucavam sua pele a cada tentativa de escape. Olhou ao redor, vendo estar no mesmo salão. Ela estava pendurada pelas correntes, um pouco a sua frente estava o pedestal com o Kniga, em volto pela água inerte.
O choro vinha de Kauane. Ela estava ajoelhada, acorrentada ao chão. Seu corpo mutilado estava visível atrás de sua roupa, que havia sido rasgada, quase deixando-a seminua. Lágrimas molhavam seu rosto, parcialmente coberto pelo cabelo cabelo bagunçado, a tinta vermelha de suas bochechas sendo borrada pelo liquido transparente. Ela olhava fixamente para um ponto fixo. Alisha seguiu seu olhar, arregalando os olhos ao perceber que ela olhava para o corpo inerte de Heilos, deixado onde foi obrigado a se matar.
Sieron também estava ajoelhado. Preso por uma grande quantidade de correntes, dos pés ao pescoço. Ele olhava fixamente para o companheiro de batalha, entretanto, permanecia de cabeça baixa, deixando que seu cabelo e barba escondessem suas lágrimas.
Enquanto Nêmesis, estava deitado, tão acorrentado quanto o viking. Suas patas, quebradas, presas com força; e os pêlos, antes belos e sedosos, estavam manchados com o próprio sangue e o sangue ácido das bestas que matou. Alisha, o olhando, se movimentou, tentando o alcançar, o acariciar, tirar aquela focinheira, cuidar dele, entretanto, suas correntes não se quebravam. Ouvindo o tilintar das correntes da mestra, o canino ergueu o olhar, a encarando com tranquilidade, tentando a acalmar.
- Nêmesis. Está tudo bem. Eu irei tirar todos daqui...
Passos ecoaram. Alisha olhou para a escada e viu Khoasang entrar, acompanhado pelos mesmos cinco Armyasenkis que os capturaram e o servo que, meses atrás, invadiu o castelo de Ophiocus e causou diversos problemas, dando início a aquela jornada. Alisha trincou os dentes, e Kauane rosnou.
O mais velho, ainda coberto pelo manto de corvo e sombras, se aproximou da garota, tocando entre seus olhos humanos com seus dedos esqueléticos, traçando todo o contorno do rosto da jovem.
- Você é bela, e poderosa. Bem como as lendas dizem... - sua voz grave, era distante, como um sussurro dentro de sua mente. - Não imaginei que viria a aparecer como uma menina tão jovem.
- Do que está falando, seu maluco?!
- Oh. Raniel não te contou? - Alisha estremece ao se lembrar de um sonho, onde um sorriso, esbranquiçado em meio a escuridão, era revelado. Naquele instante, percebeu ser o mesmo sorriso insano. - Você, assim como sua família, possui o poder dos espíritos, muito útil, por sinal. No entanto, você teve a grande sorte, ou azar, de nascer com algo a mais. Possui o poder do único mago que sobreviveu a criação do livro, o poder do primeiro Zashti. Pura magia. Magia bruta que precisa ser lapidada. - A Hyd rosna, se movimentando, tentando o chutar. Seus golpes não eram capazes de o alcançar, não enquanto seus movimentos estavam tão limitados. - A história é longa, mas simplificando, eu preciso disso, junto com o livro. Por isso, se não quiser que seus amigos tenham o mesmo destino do bastardo da serpente, me diga: onde está a chave?
- Alisha! Não diga!
Em resposta, um Armyasenki surrou o rosto de Sieron, calando seus protestos e o fazendo cospir sangue. Por trás da focinheira, Nêmesis rosna, assustando a besta ao seu lado, que estava marcada diversas vezes por suas garras e mordidas.
Alisha olhou para além de Khoasang, encarando o corpo inerte do guerreiro. Fechou os olhos, segurando as lágrimas, se desculpando mentalmente. Seus lábios se contraíram em uma linha reta, então, ela rangeu os dentes, mantendo todas as informações dentro de si. Não queria saber dos deuses, ou do motivo de estar ali, apenas queria se soltar e esmurrar Khoasang até ele ter traumatismo craniano e hemorragia interna.
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Daechya - A Crônica Do Kniga *Revisando*
FantasyCapa por: @FadinhaLacerda Daechya e Hydarth, dois mundos incríveis que divergiram em algum momento da história. Hydarth, aquele que evoluiu para a ciência e tecnologia. Daechya, o que permanece relativamente atrasado, onde a magia prevalece viva e f...