Capítulo 7 - Lamentações ~ Parte 3

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A feiticeira estava sentada no sofá, observando Alisha se deliciar com os chocolates e doces que ela conjurou ao fazer uso da magia. A garota não parecia se importar com a situação, apenas mantinha o foco em comer os doces, acompanhados de um chá quente para ajudar na digestão e no relaxamento de seus músculos, doloridos mesmo tantas horas após seu pesadelo .

Quando o líquido feito de ervas desceu morno pela sua boca, o gosto que sentiu em seu paladar foi muito familiar. Aquela sensação de prazer e tranquilidade que tanto conhecia, causada pela simples e pequena quantidade de chá feito pela mulher mais adorada de seu colégio, a Tia Nill, nunca havia se repetido com outros chás, principalmente quando eram de outra pessoa. A feiticeira, percebendo o olhar perdido da garota, a tira de seus devaneios:

- Então querida, está gostando?

- Sim. - a Hyd responde, acenando com a cabeça ao mesmo tempo. - Está delicioso.

- Isso é ótimo. Me satisfaz saber que meus doces e chá te agradam. Eu nunca fiz os de Hydarth.

A feiticeira sorriu, sentindo-se branda com a presença da adolescente, lembrando-se dos dias quase esquecidos da juventude. Logo, seu bem-estar foi perturbado quando a porta da frente foi aberta com um chute, então, uma bolsa de couro foi lançada sobre a mesa de centro, espalhando sangue sobre a madeira.

- Seu rude! Tem noção de quanto tempo demora para limpar?!

A feiticeira diz, levantando-se do sofá e juntando o sangue de volta na bolsa, para manter o coração molhado. Heilos, sorrindo com escárnio para ela, joga a galhada em sua direção, acertando o chão ao mulher, que tentava desesperadamente limpar a mesinha.

- Tome mais cuidado! Isso pode quebrar!

- Aí está o seu coração, e a galhada. Agora me devolva a garota.

- Heilos, não precisa tanto. - Alisha se levanta, pondo o resto dos doces em sua bolsa e bebendo o que restou do chá em seu copo, juntamente com a chave do livro. - Ela me tratou muito bem. Onde estão os outros?

- Ótimo. Eles estão esperando lá fora, afinal, temos de ir embora. Perdemos muito tempo nesse jogo.
- Certo, obrigada feiticeira!

- De nada querida! - a feiticeira sorri, observando o guerreiro e a garota saírem da casa, então, guarda o coração em uma caixa de madeira, como a que abrigava a pulseira. Enquanto a galhada foi pendurada ao lado de outros amuletos mágicos. - Agora sim, poderei continuar a observa-la.

***

No castelo, Zithar estava agitada, andando de um lado para o outro em seus aposentos. Ela estava nervosa, temia pela segurança da jovem Hyd pela qual sentiu-se responsável. A garota havia conquistado seu coração, despertado nele algo que não sentia a muito tempo, a vontade de viver.

Bruscamente, ela parou. Sentou-se na cama, erguendo as mangas dos vestido, olhando para os pulsos cortados. Uma memória relampejou em sua mente, trazendo-lhe dor e sofrimento, fazendo-a chorar. O aperto no peito era agoniante. Por não ter lâminas por perto ela encravou as unhas na própria pele, se arranhando até que saísse sangue, tentando amenizar o sofrimento através da própria dor.

As lágrimas borravam sua maquiagem, tornando seu rosto uma confusão de cores e manchando o vestido quando a água tingida pingava no tecido branco.

- Eu sou inútil. - diz, em meio às lágrimas, com a voz embargada. - Eu não fui capaz. Não fui capaz... E agora... Alisha também pode morrer...

Seu choro era sôfrego, emitindo gemidos altos e angustiantes, tornando possível que alguém, do outro lado da porta, ouvisse o som abafado do seu sofrimento. As portas foram abertas, Marylin entra desesperada para acolher sua rainha, sentando ao seu lado e a abraçando apertado.

Daechya - A Crônica Do Kniga *Revisando*Onde histórias criam vida. Descubra agora