Capítulo 3

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Enola

Eu até entendo os Índigos... Eles estavam aqui desde o início, são os verdadeiros donos do nosso planeta. Quando começaram a chegar as outras raças, há uns 500 anos atrás, eles tentaram ser gentis e amigáveis, contudo foram massacrados, torturados, escravizados, tiveram suas mulheres violadas e sequestradas. Então, iniciaram-se os confrontos. Houveram quatro grandes guerras, nas quais grande parte da população do planeta foi dizimada.

Além disso, havia os confrontos territoriais entre comunidades próximas. O rei Otávios estabeleceu, bem antes de eu nascer, uma língua oficial no planeta e decretou que todos procurassem falar a mesma língua para ter uma boa convivência. Poderíamos falar nossas línguas naturais em ocasiões que estivessem apenas membros de nossa raça. Ele é um mestiço e foi nomeado rei pela cúpula dos planetas, por merecimento e respeito, pois esforçava-se para ser justo e manter a paz no planeta.

Há dois anos atrás, após o grande confronto que nosso povo teve com os Afrogs, devido rixas e crimes cometidos por ambos os lados, o rei promoveu um novo tratado de paz com graves punições para aqueles que o quebrassem. Todavia, muitos Índigos e Afrogs acreditavam que deviam devolver a justa medida pelas atrocidades que seus povos sofreram, e às vezes temos notícias remotas de saques e sequestros, mas sem comprovação.

De repente, sou trazida de volta a realidade... Tokai me puxou pelo braço e me colocou de pé num piscar de olhos, como se eu não pesasse nada.

- Venha comigo! - falou ele enquanto me endereçada um olhar duro que dizia "não me questione!".

Eu o segui como se estivesse indo para a morte certa. Chorava e pedia que não me machucasse. A tribo de Tokai era organizada, suas casas eram lindas e padronizadas, tudo era próspero e limpo. Ele me levou até uma grande casa que ficava numa parte elevada do terreno, e abriu a porta me empurrando para dentro.

- Você agora será minha, não tente fugir, pois não irá longe. Me aceite em sua cama e viva aqui comigo.

Nossa, como ele é direto! O que eu digo agora?! Fui pelo caminho da histeria mesmo...

- Não, por favor, eu quero voltar para a casa dos meus pais. Não quero ficar aqui com você, não quero viver com você. Nunca dormirei com você!

- Dormir? - fala ele com um olhar cruel - Eu não quero dormir com você, quero foder você! Você será minha por escolha ou não. Pense no que trará vantagem a você... Te ofereço uma proposta, eu te desejo, a quero como companheira, então fique aqui de boa vontade e ajudarei sua família ou ficará forçada aqui e não terá nenhum acordo. Pense, é trepar com um selvagem ou ver sua família na miséria, seu pai morrendo nas fronteiras, sua mãe viúva e vocês tendo que depender de esmolas...

Meu Deus, essa linguagem vulgar me deixou toda arrepiada! Esse cenário é surreal, como eu vim parar nessa situação, hein?! Deixa, eu sei como, foi minha estupidez!

- Humm... Perai, como assim? Como você sabe da situação da minha família?

- Como eu sei?! - ele me olha de forma intensa e fala com sarcarmo - eu a observo já faz um tempo. Alguns perceberam meu interesse em você, inclusive o mau caráter do Perkins. O que eu quero, eu consigo. Só não te peguei antes porque pensei no bem estar do meu povo, não queria um conflito, principalmente, depois do novo tratado do rei. Mas aproveitarei essa situação e a manterei aqui.

- Contra minha vontade? Eu te acho asqueroso - confesso que isso não é bem verdade, mas estou morrendo de medo, estou desesperada - Não suportaria ser tocada por um selvagem, muitos menos ser companheira de um. Quero distância de você - falo as últimas palavras soluçando e chorando muito.

- Não adianta chorar, você agora é minha, nunca mais será de ninguém - ele fala de forma cruel, rindo muito de minhas palavras, como se não tivesse um pingo de compaixão ou se não tivesse se incomodado com elas.

Caio no chão da sala de sua casa e não consigo parar de chorar. Ele apenas me olha e sai, trancando a porta. Após um tempo, estou esgotada de tanto chorar, já pensando no desespero das meninas quando perceberem minha demora, na preocupação dos meus pais. Pensei nas diversas possibilidades e nenhuma era boa. Não poderão fazer nada por mim agora, ninguém é louco de entrar no território dos Índigos para realizar um resgate, eles são um povo habituado a batalhas pesadas, bem preparados.

Meu povo nem ao menos tem comprovação das reais circunstâncias que envolvem a minha situação. Podem até tentar através da diplomacia, mas também não terão sucesso, eu sei. Meus pais ficarão angustiados, de mãos atadas, e tudo por causa da minha imprudência.

Adormeço no chão mesmo, com um sentimento de angústia profundamente instalado em meu peito.

O selvagem que me consquistouOnde histórias criam vida. Descubra agora