Capítulo 1

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Enola

Acordei com a luz do sol entrando pela janela do meu quarto, a qual possuía uma cortina gasta, que já viu dias melhores. Aliás, essa é a situação de muitas das minhas roupas. A situação financeira da minha família não está indo tão bem. Meu pai é agricultor, e a safra não está boa já faz um tempo. Enquanto ele cultiva e trabalha duro no campo, eu e Lauren vendemos as frutas e vegetais na feira da cidade. Minha mãe cuida da casa e costura roupas para conseguir algum dinheiro para ajudar em casa. Nossa pequena casa tem dois quartos e Lauren dorme comigo nesse quarto.

- BOM DIA!!! - grita Lauren e eu acabo tomando um susto enorme. Estava dormindo tranquilamente e essa louca já acorda gritando.

- Como uma pessoa acorda tão cedo e animada desse jeito hein?! Kkkkkk - eu falo rindo.

- Levanta Enola e vamos logo levar nossos produtos para vender na feira, acho que hoje teremos muitos clientes - Lauren fala toda agitada.

- Nossa! Havia esquecido que hoje terá a reunião de algumas raças aqui em nossa comunidade, então vai ter muita gente andando por aí... Vamos vender tudo hoje! O que você tá esperando Lauren? Levanta garota!

Lauren levanta da cama rindo muito, nos lavamos, colocamos as nossas melhores roupas (uma das poucas) e vamos tomar café. Encontramos apenas a minha mãe na cozinha, meu pai acordou ao raiar do dia e foi para o campo trabalhar. Fico triste de ver a preocupação dele com nossa situação, ele tem trabalhado tanto, sem descanso. Queria muito poder fazer algo para ajudar e melhorar nossa situação. Se continuar assim, logo vamos ter que vender nossos poucos animais, que são uma fonte de alimento para nós.

- Bom dia! - falamos todas ao mesmo tempo.

- Mãe, acredito que vamos conseguir um bom dinheiro hoje!

- Sim tia, tudo vai dar certo - Lauren fala esperançosa.

Não conversamos muito, pois eu e Lauren queríamos chegar na nossa banca na feira bem mais cedo do que os outros comerciantes para ver se vendíamos mais. Assim que chegamos o movimento já estava intenso, várias raças circulando, a segurança e os soldados do nosso povo estavam andando por toda parte fazendo a patrulha para garantir que tudo corresse em paz. Muitos líderes já haviam chegado para a reunião e estavam se encaminhando para o prédio central.

Tínhamos medo de muitos desses povos, fomos educadas desde pequenas a evitá-los e temê-los. Nossa educação, principalmente das mulheres, era muito rígida. Nós tínhamos que obedecer as regras e ser castas e educadas. Não podíamos demonstrar nossas emoções, principalmente, desejo sexual, éramos muito reprimidas. Às vezes ouvíamos escondido que os outros povos, os mais selvagens, não tinham pudores, eram super abertos em relação a sua sexualidade e falavam palavras que não tínhamos nem coragem de pronunciar. Algumas mulheres de nossa comunidade se aventuravam com esses selvagens, elas cochichavam entre si de forma conspiratória e excitada sobre o que faziam com eles. Eu e Lauren ouvíamos escondido, é claro, éramos super curiosas.

No meio do dia, os Índigos chegam, são assustadores, vestidos com roupas rústicas e peles de animais. Eu e Lauren estávamos distraídas na nossa banca, e, de repente, eu sinto um arrepio na minha nuca, como se alguém estivesse me observando. Quando viro vejo um Índigo ao longe, alto e forte, com tantos músculos que parecia uma fortaleza. Seu rosto possuía traços marcantes, sua boca era cheia e seu olhos eram negros. Ele estava me olhando fixamente e eu logo tirei a vista, estava tremendo e com uma sensação estranha, como se o medo estivesse misturado com excitação.

- Tudo bem Enola? Que cara é essa? - Lauren pergunta preocupada ao ver minha palidez e tremedeira.

- Estou bem Lauren, é que tinha um Índigo me olhando fixamente. Eu fiquei com medo e ainda lembrei como os outros povos antigamente costumavam sequestrar Zumianas para saciar seus prazeres...

- Vixe! Chega me deu um calafrio! Kkkkkkkk - Lauren pensou que eu estava brincando. Eu sempre brinco com o medo de muitas meninas da nossa comunidade, dizendo que são exageradas e ainda invento histórias horríveis para assustá-las ainda mais. No final do dia eu e Lauren sempre rimos das reações delas.

- Deixa pra lá Lauren! Você não leva nada a sério. Vamos trabalhar, é o melhor que podemos fazer!

- Olha quem fala! - diz Lauren rindo.

Não vendemos o que esperávamos. Depois da reunião, que parece que não foi boa como os líderes esperavam, os povos foram embora rapidamente e tivemos que voltar com muitas coisas para casa. Algumas doamos para pessoas que estavam numa situação pior que a nossa. Ao chegarmos em casa, vimos meu pai com uma cara triste conversando com mamãe no quintal da casa. Chegamos devagar e ouvimos uma parte da conversa.

- Allia, nossa situação está piorando a cada dia. Vou precisar vender alguns animais, na verdade, a maioria dos animais. Só vamos ficar com uma vaca e algumas galinhas. E... Estou pensando em me alistar para ser um soldado nas fronteiras, eles pagam um bom dinheiro.

- Fergus, vamos sair dessa. Somos valentes e trabalhadores. Por favor, não faça isso. É muito perigoso, muitos homens nem voltam.

- Eu já fui um soldado, Allia. Inclusive até tentei ensinar nossa filha a lutar, sem muito sucesso... kkkkk Eu posso conseguir, só por um tempo. Já até falei com o líder de nossa comunidade...

- Não Fergus, me prometa! Não quero mais, você me prometeu que não voltaria a ser soldado. No grande confronto com os Afrogs quase perdi você, nossa filha perdeu o marido, Lauren perdeu os pais e o noivo... Não quero passar por isso novamente.

- Tudo bem Allia, mas...

Nesse momento, papai nos viu, parou de falar e começou a sorrir nos cumprimentando. E durante o jantar, brincamos e conversamos sobre várias coisas, sempre evitando esse assunto.     

O selvagem que me consquistouOnde histórias criam vida. Descubra agora