É assim que é morrer?

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Yasmin

Final de ano, estávamos todos reunidos na casa do Nora e do Nathan. Os pais do Nathan também estavam lá. A casa era grande e espaçosa. Nevava muito do lado de fora das janelas. 

Saímos para brincar na neve que já se acumulava pelo chão, por causa de uma nevada anterior. Todos se divertindo lançando bolas de neve uns no outros e rindo. Lembrei de tudo o que vivemos até aqui e percebi que estávamos bem.

A Nora montou uma loja virtual e física com sede no Brasil, graças a uma sociedade com a mãe do Chris. As roupas e calçados importados faziam um grande sucesso no Brasil. Isto ainda permitia que a minha mãe fizesse um curso na faculdade e fizesse academia junto com o Natan três vezes por semana.

_ Legal este quarto _ Chris sentou na cama testando o colchão enquanto sorria para mim com um olhar sugestivo.

Sorri _ O que você está pensando?

_ Quem está pensando? Eu não.

Segui até ele que me fez sentar no seu colo e me abraçou.

_ Você percebeu como essa noite foi perfeita? Todos estavam felizes.

_ Seria o final perfeito para uma história, não acha? 

_ Sim _ sorri.

Afastou o cabelo do meu rosto  e me beijou _Eu te amo muito. Você me faz muito feliz, Yasmin.

_ Também sou feliz, Christopher.

_ Vamos nos casar? Você topa casar comigo?

Pensei que ele tivesse falado a toa, mas logo o vi tirar a caixinha de alianças de noivado do bolso.

Levei as mãos a boca, fiquei muito surpresa _ Meu Deus! Chris...

_ Sim ou não?

_ Sim _ ri nervosa e ele sorriu.

Colocou a aliança no lugar da aliança de compromisso e eu fiz o mesmo com ele. Beijou os meus lábios.

_ Seremos felizes para sempre, Yasmin _ prometeu com uma certeza incrível.

Nos casamos no ano seguinte. O Chris foi contratado para fazer o seu primeiro filme. Uma super produção o de ele já estreava como o ator principal. Trancamos a matrícula e viajamos para Los Angeles na Califórnia.

A cerimônia foi linda. Eu e a Nora choramos feito bebês. Os nossos sonhos se realizaram no meu casamento, pois eu, sua filha, estava feliz. Mas daquele dia em diante ficou mais difícil o nosso contato. Logo eu consegui ingressar na carreira de atriz também. A vida virou uma loucura.

Nathan

Recebi a ligação do advogado administrador da família meses depois do casamento da Yasmin e do Christopher. Era óbvio o motivo de um telefonema tão raro, mas eu duvidei a princípio. 

Os meus pais estavam mortos. Amanheceram mortos, os dois. Permaneceram juntos até no fim. Comecei a chorar e o telefone caiu da minha mão. Perdi o chão. Eles sempre estiveram lá. Como seria agora que se foram?

Senti um abraço apertado antes de ver o seu rosto preocupado e triste, ela dizia algo. Eu nem a vi entrar no meu escritório. Nora. Como será que eu estava aos seus olhos? Foi a última coisa que eu pensei antes de tudo escurecer.

Chris

Recebi a mensagem da Nora enquanto assistia a cena da Yasmin no seu primeiro filme. Foi um choque tremendo saber que o Natan estava no hospital. A lembrança da sua morte em meu sonho me veio a mente instantaneamente. Mas isso só aconteceria anos a frente. Não fazia sentido que acontecesse agora.

O tempo apertado do trabalho e a distância entre nós, nos impedia de estar presente, mas trocamos mensagens enquanto o quadro se desenrolava. 

O Natan estava passando por vários exames. Ninguém sabia ao certo o que ele tinha, mas eu já desconfiava. 

Nora 

_ Eu estou bem _ insistiu antes de entrar na máquina de tomografia.

_ Faça os exames _ exigi.

_ Eu apenas sofri um choque ao saber da morte dos meus pais. Foi so isso. Tenho que ir para o Brasil, Nora. 

_ Assim que soubermos o que você tem, nos iremos _ passei a mão pelos seus cabelos.

Suspirou rendido.

A verdade, era que eu me segurei para não chorar. Algo apertava o meu coração. Sentia que uma grande luta estava por vir e, se fosse isso, estava tudo bem. 

Mas e se tudo já estivesse perdido?

Natan

O mundo parecia estar acabando em tristeza para mim e, agora isso. Estar preso em um hospital.

 Já havia feito uma pá de exames, e agora, fazia uma tomografia. Achava que era uma grande perda de tempo, eu estava bem. Precisava sair logo dali. Mas o olhar preocupado da Nora me obrigava a ficar, era meu dever liberta-la da dúvida sobre a minha saúde.

_ Você tem um tumor cerebral _ disse o médico ao final do exame, nem esperou eu sair da máquina direito.

A Nora tomou um susto e eu me zanguei com o doutor por isso.

_ Precisamos operar.

_ Eu não tenho tempo para isso _ retruquei.

_ Nathan _ Nora cobrou.

_ Se não operar agora, você não sobreviverá depois_ o médico foi taxativo

_ Ele vai operar _ Nora decidiu por mim com um olhar firme, eu me rendi a cirurgia de dezoito horas mais o tempo de recuperação.

Nathan

Uma canção infantil ecoava na minha mente quando abri os olhos e me vi criança. Brincava com os meus amigos do orfanato. Tudo era incerteza naquele tempo. Eu estava em espera junto com todos os meus amigos. A espera de uma vida de verdade. Com uma família de verdade. Um futuro...

Meu pai chegou me estendeu a mão e, eu fui até ele. Caminhamos juntos até a minha mãe. Ela estava sorrindo. Ambos tinham a aparência de agora. Apenas eu era mais jovem.

Minha mãe segurou a minha outra mão e nós seguimos para uma luz muito forte.
Senti que o meu corpo se dissolveu na luz e me veio uma grande paz.
_ É assim que é morrer?

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