Primavera

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_ Há mais uma casa _ disse o corretor quando viu que não me decidi por nenhuma.

_ Vamos vê-la _ disse o Chris animado abrindo a porta do carro para mim.

A terceira casa era um sonho. Tinha jardim, piscina e edícula, apesar de não ser nenhuma mansão. Fiquei com ela porque era perfeita para mim.

De volta a imobiliária, e depois dos papéis assinados, me despedi e fui para o meu carro. Ja estava saindo quando o Chris apareceu na minha janela e o deixei entrar.

_ O que deseja?

_ Pode me deixar na praia? Eu sei que é há uns quinze minutos, mas acho que eu mereço, não concorda?

_ Merece. Com certeza. Vou te deixar na praia.

Seguimos o caminho para a praia, bem próxima.

_ Yasmin.

_ Sim.

_ Nós somos amigos, certo?

_ Sempre, Chris. Por quê?

_ Porque nunca será casual entre nós dois.

Olhei em seus olhos quase batendo, mas ele me fez perceber a tempo. Quando parei no farol me foquei nele.

_ O que você está me dizendo, Christopher? _ continuei dirigindo.

_ Eu estou te dizendo que eu entendo que você está carente. E que provavelmente, pôr este mesmo motivo, você baixou a guarda comigo. Só que não dá, Yasmin. Eu te amo mesmo. Se rolar entre nós dois, tem que ser pra valer, ou eu não posso.

Fiquei boquiaberta olhando para o Chris e tentando entender tudo o que o movia àquelas palavras.

Nem notei que havíamos chegado até ele me beijar o rosto, agradecer e sair do carro. Eu só o via se distanciar com a maior expressão de what? na minha cara.

Dias depois de me mudar, reparava nas flores do meu jardim, durante uma pausa na poda das folhagens inúmeras. O sol dava as flores um tom de pintura, pela forma como a luz se projetava entre quatro e cinco da tarde, naquela primavera.

_ Boa tarde _ ouvi a voz familiar e virei.

_ Boa tarde, Chris _ falei abrindo o portão para ele.

Entrou vendo o meu trabalho _ Parece bom. Muito bom. Você fez jardinagem?

_ Só li um pouco sobre isso.

Sorriu _ Claro que leu. Você sempre encontra um manual para tudo, não é?

Pegou um saco do pacote e pôs o lixo dentro. As folhagens e as ervas danininhas, foram rapidamente recolhidas pelas grandes e hábeis mãos do Christopher em uns minutos. Amarrou o saco e pôs de lado.

_ Obrigado. Vamos entrar para lavar as mãos e eu te servir um chá.

Sentamos na sala de estar a tomamos uma mistura de chás aromáticos deliciosos.

Uma leve paz nos envolvia, como se sempre fizéssemos isso, e fosse bem normal. Embora nunca tivéssemos tomado chá desta forma e juntos antes.

_ Você parece muito bem _ soou feliz.

_ Porquê estou. Não posso mudar nada, só posso aceitar. Então, aceito que fui feliz, mas acabou.

O olhar do Christopher varrendo o meu rosto, antes de correr por toda a minha postura, e disfarçar olhando para o resto do chá em sua xícara, me fez lembrar, que ele fazia isso, antes de discordar de mim na escola. Por isso, esperei.

Mas não disse nada. Apenas bebeu o seu chá e serviu-se de mais, bebendo mais um gole e me sorriu de lado. Reparando na minha expressão.

_ O que foi Yasmin?

_ Porquê você não diz logo o que está pensando?

_ Eu? Não penso em nada.

Depois do chá, o Chris me ajudou com alguns consertos da casa. Mudou alguns móveis de lugar e comentou comigo, sobre as decorações para quarto de bebês, que viu na revista.

Movia as paletas cores sobre a parede do quarto do bebê para que eu escolhesse alguns. Suspirou _ É sério que você vai impor uma vida infeliz para essa criança, que ainda nem nasceu?

_ Como?

_ Você disse que foi feliz, mas acabou. Isso significa que você desistiu, não é? Como o seu filho vai poder ser feliz, ou tentar ser feliz, se a referência de identidade que ele tem, que é você, não é feliz e não se importa com isso?

_ E o que você me sugere?

_ Volta pra mim _ falou sem hesitar e de queixo erguido. Tinha olhos sinceros.

_ Eu... Eu não entendo o que isso tem a ver.

_ Seríamos felizes se você não conhecesse o Natan. Não negue, pôr favor. Você sabe que eu estou certo.

Ponderei _ Não sei. Você me parecia uma grande dor de cabeça, na época.

_ Eu não era. Você sabe disso agora. Eu fui muito prepotente, arrogante e convencido. Não assumi o grau e o tamanho do meu amor por você. Por que... Eu não achei que eu precisasse me expor. Afinal, você me amava tanto... Me garanti de uma forma errada e presunçosa. Eu te perdi por puro mérito meu. Fui estúpido e idiota. Mas em nenhum momento deixei de te mostrar o meu amor, e você sabe que eu te amei por cada segundo que você passou, longe de mim... Sendo feliz.

Engoli seco, pois era verdade tudo o que ele dizia.

Continuou _ Eu só peço uma chance e nada mais. Me deixa ser feliz, enquanto te mostro que eu posso te fazer feliz. Eu posso te fazer feliz, Yasmin. Tanto ou mais do que o Natan fez. E eu digo isso sem medo de falhar, porque pode mais aquele que mais quer, e eu quero isso... Eu preciso disso, como preciso de ar para respirar e continuar vivo.

Expirei não levando à sério.

_ Creia em mim. Estou sufocando desde que te perdi. O mundo só é suportável pela esperança de te ver de novo... e de te ter. Eu te amo mais que tudo.

Mordi o lábio indecisa.

Se ajoelhou diante de mim, e tirou uma caixinha com alianças do bolso, me oferecendo, com um sorriso encenado em meio a sua tensão _ Não é mentira, eu não minto. Estou te dizendo tudo o que sinto. Seja boa com o meu coração, que eu acabei de colocar na sua mão _ citou o verso de improviso.

_ Eu não posso _ comecei a chorar.

Fui levada pelas emoções que me remeteram ao passado e pelo meu choro fácil causado pela gravidez. Chorei feito um bebê, de modo tal, que o Chris me consolava com um abraço, de pé. Todo o seu pedido elaborado, e todo o momento foi estragado por mim.

Dentro do seu abraço, eu chorei aos soluços, até as lágrimas secarem. O que demorou tanto, que estávamos sentados no chão do quarto quase vazio, quando o meu pranto virou apenas suspiros profundos.

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