Morto por 31 segundos

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Nathan

Ouvi a voz da Nora me chamando. Era uma sensação estranha, como se viesse de fora daquela sensação gostosa de dissolução. Era como se ela me chamasse para um lugar onde eu não queria mais estar. Senti dor e debilidade ao ver luz por entre as minhas pálpebras.

Foi involuntariamente que abri os olhos. Vi a Nora me sorrir, mesmo com o rosto molhado de lágrimas.

_ Não gosto de te ver chorar _ minha voz saiu sonolenta.

_ Você morreu por trinta e um segundos.

_ Eu sei. Vi os meus pais.

A loira segurou a minha mão _ Que bom que decidiu ficar.

_ Fiquei por você.

Nora

_ Já podemos ir? _ se ajeitou na cama.

Estava ansioso para enterrar os pais. Só isso importava e nada mais.

_ Você ficou em coma induzido por uma semana.

Seu olhar ficou decepcionado _ Não pude me despedir dos meus pais.

_ Eles não estavam mais aqui de qualquer jeito.

_ Mas... Eu estou. Queria ter visto eles pela última vez. Ter velado os corpos. Chorar e meditar sobre a ausência deles na minha vida. Eu nem pude ir na cerimônia...

_ Bem, a cerimônia... O Chris gravou ela para você.

Levantei da cadeira ao lado da cama e liguei a tevê do quarto sincronizando com o meu celular. O olhar do Natan ficou atento sobre as imagens. Assistiu e se emocionou totalmente imerso.

Nora

O seu lindo cabelo cor de mel havia sido totalmente tosado para a cirurgia, mas já começava a crescer. A figura muito alta ao meu lado, segurava a minha mão, enquanto caminhamos pela calçada. Tomamos um sorvete, alí perto, esperando o horário do vôo para Las Vegas.

Fez piada com a sua nova aparência e riu de si mesmo. Sorri.

_ Você fica lindo de qualquer jeito _ limpei um pingo de sorvete do seu queixo com o dedo e chupei _ E é meu. Eu tenho muita sorte.

Suspirou me encarando _ Acredita mesmo nisto?

Notei que ele se sentia culpado por algo. Desmanchei o meu sorriso e peguei a sua mão por cima da mesa.

_ Você é tudo o que eu sempre quis. Sim, Nathan. Você é mais adulto, esperto e sábio do que um velho de oitenta anos. _ o vi gargalhar _ Tem a inteligência e a força de vontade de dar inveja. _ o vi cruzar os braços sobre o peito, prestando atenção _ E isto tudo, em um corpinho de vinte. É, eu tenho sorte _ concluí com um olhar de agrado.

Sorriu gostando da minha análise e acariciou a minha mão _ Você me faz ser melhor.

_ Faço?

_ Faz. Eu sou feliz de verdade desde que te encontrei. Só você foi capaz de preencher o vazio que eu tinha no meu coração. Me mostrou o que é o amor. Eu tenho mais sorte, Nora.

_ Nem de longe, amor. Eu sou a pessoa mais feliz deste mundo. Nada vai mudar isso.

_ Nem se eu te deixar sozinha? _ engoliu seco, com um olhar triste sobre o meu.

Levei a sua mão até a minha barriga e sorri.

Seu rosto triste ficou surpreso por uns segundos antes de sorrir largamente, me beijando em seguida.

_ Vou ser pai! Meu Deus! Eu nem acredito.

_ Eu fiquei sabendo, quando desmaiei durante a sua cirurgia. Estou grávida de dois meses, agora.

Nathan

Um filho!

Nada conseguia tomar o lugar deste pensamento na minha mente. Fiquei em silêncio deste momento em diante.

A Nora me lançava um olhar furtivo vez ou outra. Queria entender o meu silêncio, ou só saber se eu estava me sentindo bem.

Como eu estava me sentindo?

Eu me sentia tão cheio de felicidade que eu não cabia em mim. Acho que cresci. Cômico pensar que alguém com um metro e noventa e três pode crescer ainda mais. Mas eu me sentia maior e não só no corpo. Me sentia grande na alma.

Poderia morrer agora que a minha felicidade não iria mudar.

Imergi de tal modo neste sentimento que quando voltei a notar o mundo ao meu redor, todos se moviam pelos corredores, Para fora da aeronave. A Nora me observava calmamente e sorriu quando o meu olhar pousou em seu rosto.

Havia um grande entendimento no seu sorriso.

O casamento foi lindo, apesar de breve. Ainda assim, eu memorizei cada expressão do rosto da minha noiva e mãe do meu filho ou filha. Gravei cada palavra dita durante a cerimônia, na minha mente. Foi um momento mágico. Tão mágico quanto o primeiro instante em que a vi.

No momento em que vi a Nora pela primeira vez, o meu coração disparou de um modo que eu ouvia ele batendo. As maçãs do meu rosto esquentaram. O meu estômago ficou estranho e os meus passos ficaram incertos. O chão parecia mudar de lugar conforme eu andava.

Eu só pensava em como ela era linda e em como eu era feio e jovem. Um fedelho cheirando à leite. Inexperiente, fraco... pequeno.

Agora, eu era um homem. E não só um homem, um pai. Eu sentia que podia fazer qualquer coisa pela minha família. Eu podia vencer e viver.




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