Capítulo 2 - O trote

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ANA CLARA

Aproximei-me do garoto que achei interessante e o cumprimentei.

Oi, sou Ana Clara.

Oi, sou Paulo.

Você é de onde Paulo?

Do Rio Grande do Sul e você?

Amazonas.

Uau, nunca conheci ninguém do Amazonas, somos dos extremos do Brasil.

Verdade, e obrigada por não me perguntar de cara se tem muito índio em Manaus, porque todos que conversei desde que cheguei na cidade me perguntam sempre a mesma coisa.

Imagino.

Você é meio calado né? Estava te observando e não vi você falar com ninguém.

Na verdade eu prefiro observar primeiro, mas também observei você, e você também não falou com muitas pessoas. O que é estranho porque você é uma gata.

Nossa você é calado mais também direto hein, costuma funcionar com frequência esse seu papo?

Calma gata, você também é rápida, não quis te ofender e nem te cantar, na verdade a intenção e que sejamos amigos, ou você não percebeu que parece que distoamos um pouco dos outros?

Verdade, desculpa! Não sou boa em lidar com apressados e sempre corto na primeira oportunidade.

Bem, Paulo acho que pela nossa primeira conversa vamos nos dar bem sim (risos), podemos começar de novo, sou Ana Clara, tenho 18 anos, sou do Amazonas, sou sincera e vim para me formar em medicina única e exclusivamente.

Ok, sou Paulo, venho do Rio Grande do Sul, tenho 20 anos, e também quero ser médico e seu amigo, se você permitir.

Bem agora que já quebramos o gelo. Paulo você sabe como vai funcionar o lance dos tutores?

Parece que serão 4 alunos com cada veterano durante esse semestre, eles deveriam nos ajudar com as coisas da Universidade, mas uma amiga me disse que não é bem assim que funciona, na verdade vamos ser bichos dos veteranos.

Como assim bichos?

Escravos é a palavra adequada, do tipo que ajuda na organização das festas, nos trabalhos da faculdade e etc.

Bem, nos trabalhos vou ajudar com prazer, posso aprender bastante, agora no resto estou fora, quem eles pensam que são?

Calma gata, você não vai querer se queimar na primeira semana, vai? E eles podem realmente transformar sua vida num inferno. Espero que possamos ficar no mesmo grupo, assim nos conheceremos melhor e nos ajudaremos.

Realmente é o que espero, porque você foi o único com quem consegui trocar mais de dez palavras até agora.

Por isso conclui que distoamos, enquanto te observava também percebi isso e o mesmo aconteceu comigo, pelo menos agora temos um ao outro pelo menos para conversar.

É o que eu espero Paulo....

O impacto...................

Nada até aqui na faculdade me preparou para o eventos que vieram, então eles entraram na sala todos de capuz preto e jaleco branco, fecharam a sala e amarraram todos numa corda, confesso que não esperava por isso, achava que jogariam ovo e trigo na gente, nos poriam para pedir dinheiro no sinal e pronto, e talvez foi por isso que fiquei em choque com o lance da corda que não tive nenhum reação no momento, apenas obedeci. Nos sujaram com tudo que se pode imaginar, ovo, talco, trigo, catchup, maionese, mostarda, areira e por fim lama, isso sempre amarrados, depois nos molharam, caminhamos por todo o campus, e eu morrendo de vergonha daquela palhaçada, e já começando a me estressar. Foi quando o maior absurdo aconteceu, nos levaram de volta a sala de aula e pediram para tirarmos a roupa, aí foi demais, eu disse que não tiraria e os outros foram na minha onda, acredito que todo mundo já estava de saco cheio, Paulo me apoiou e começamos a nos desamarrar.

Então ele falou e todos se calaram.

Parem com isso, não mandei ninguém se soltar e você bichinho quem pensa que é para parar um trote?

Eu respondi, sou um ser humano, já me submeti a todas as humilhações que vocês quiseram, agora tirar a roupa não vou e ponto. Se os outros concordarem não falo por eles, apenas por mim, não vou tirar e ponto.

Então ele respondeu: ok bichinho, pelo que vejo ninguém vai querer te ver mesmo de calcinha e sutiã, então pode ficar ai sozinha, agora os outros obedeçam.

Nossa aquilo mexeu comigo, e eu não sei explicar por quê? Era alguém que se quer eu tinha visto o rosto, mas que já jogava minha auto estima lá para baixo, não que isso importasse de fato, pois eu queria mesmo era estudar, mas já de cara ser taxada de feia, doeu de um modo diferente.

Mas o pior foi a seguir, cada vez que alguém tirava a roupa, homem ou mulher, os veteranos levantavam uma nota, parecia um mercado de carne, principalmente para as meninas, que tinham até aplausos. E foi a vez do Paulo, nossa ele era gato, Senhor do céu, não tinha como não olhar, e ele tirou a roupa olhando para mim, fiquei até corada, será que foi impressão minha? Não sei, mais as outras meninas também perceberam sua beleza e curiosamente ele pareceu não se importar.

Um cara como ele deve estar acostumado a pegar geral, então sei que sendo amiga dele, muitas iriam aproximar-se de mim para chegar nele, enfim acho que essa era minha sina, foi assim com a Mary a vida toda e agora seria com o Paulo.

E então, quando eu não esperava, o líder falou:

E o bichinho rebelde que nota merece? E então as placas de 1 e 2 levantaram, fiquei com muita raiva na hora, senti as lágrimas se formarem, mas não me permiti chorar, não ali, não daria o gosto para aquele ridículo, eu provaria meu valor nas notas e muitos dos que riram de mim, ainda precisariam da minha ajuda, disso tenho certeza.

Paulo vendo meu estado foi para o meu lado, e disse baixinho: fica tranquila, essas notas são só para te irritar, porque você furou o trote, para mim se puser um sorriso no rosto, te dou 10 facinho.

Nossa fiquei até com calor e vontade de tirar a roupa também com a proximidade dele, acho que nunca conheci uma pessoa tão bonita como Paulo, e ele estava sendo super fofo comigo, com certeza seríamos grandes amigos, não posso dizer que não pensei em algo mais, mas não posso perder o meu foco nos estudos, e assim logo de inicio arranjar um namorado iria atrapalhar tudo.

Enquanto eu divagava nos meus pensamentos, o líder voltou a falar me trazendo para a realidade de novo.

Já que o bichinho rebelde já estragou o trote vamos às apresentações, sou Cayo Albuquerque e meus tutorados serão Ana Clara, Paulo, Rafael e Talita.

Dessa vez fiquei sem chão, para o meu azar ele ainda seria meu tutor, era tudo que eu não precisava um chato no meu pé durante todo o semestre.

Passada a distribuição dos tutores o tal Cayo disse:

Agora bichinhos é hora de vocês verem o rosto dos seus senhores neste semestre, e então todos tiraram o capuz.

Minha Nossa Senhora......................

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