Capítulo 30

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JUDE HOLIE

Doía como se uma lança quente, fumegante, estivesse atravessando meu peito e parando, direto, no coração.

Luke estava parado na cama, mal mexia os olhos, o oxigênio ajudando na sua respiração e todas as parafernálias ligadas a ele só dava um ar ainda mais sombrio àquilo tudo. Sua pele pálida combinava com o tom das paredes, não que isso era uma coisa boa. Meu amigo que sempre foi extrovertido, fazia todos rirem, estava muito debilitado, dopado, em uma maca.

Peguei sua mão, ciente de que ele não sentiria, e nem acordaria, dado a quantidade de medicamentos que entrava pelo acesso intravenoso em seu braço.

–– É preciso acreditar em algo maior. É preciso, para que que façamos da nossa vida, um dia após o outro, os momentos mais mágicos que poderíamos protagonizar. Que bom que tive você, Luke! Com certeza eu fui colocada em sua vida, e você na minha propositalmente, e não à toa.

Desde quando eu ficava no ginásio, Luke nunca tinha ficado internado mais de um dia, das raras ocasiões que precisou vir ao médico, os mesmos sempre preferiram o deixar em casa, isolado. Dado a sua saúde frágil, o hospital seria pra ele o mesmo que a sentença de morte, por causa do âmbito de bactérias. Dessa vez sentia que tudo estava diferente! E o único pensamento que me ocorreu no momento, foi que que não mais o veria sorrindo.

–– Eu estou aqui! –– Afirmei em seu ouvido.

Sem soltar a sua mão eu olhei para a porta: "Unidade de terapia semi intensiva", era quase um CTI, Luke estava a um passo de lá. Será que voltaria?

Dei um passo para trás, trazendo a poltrona para perto, me sentei, jogando meu corpo cansado.

Fechei meus olhos e o rosto de Luke veio em meus pensamentos, sorridente. Tantos rostos desconhecidos, os sorrisos estranhos, a fala rápida, ele estava lá, sempre esteve, sempre ouviu.

Perder alguém é como perder uma parte de você. Assim como as pessoas passam na nossa vida e nos agregam qualidades, quando elas se vão, elas morrem, leva um pouco de nós. O pouco que cultivamos simultaneamente. É como uma árvore que não pode ser regada sozinha.

Ao longo dos anos eu percebi como sua vida era limitada, difícil, e como o grande amor que sentia por Cassidy o fazia levantar da cama todos os dias e enfrentar seus leões. Sorri, a lembrança dos dois vívida em minha mente.

A porta abriu levemente. A enfermeira veio com uma travessa com alguns medicamentos, mexeu nos acessos, lançando-me olhares solidários, pesarosos. De certa ela já estava acostumada com esse tipo de situação, o que não queria dizer que tinha se tornado dura.

–– Como ele está? –– Perguntei o que eu já sabia, Luke não tinha nenhuma melhora, era notável. Mas, eu precisava ouvir.

–– Nada bem. –– suspirou –– Sua saturação não sobe de 50, os batimentos estão fracos, assim como sua pressão baixa. –– Senti uma lágrima quente escorrer pelo meu rosto. Percebendo meu silencioso desespero, ela sorriu solidária com a situação. –– Converse com ele, alguns especialistas acreditam que as pessoas enquanto estão sedadas escutam. Pede que ele lute e fique com você.

Balancei minha cabeça. Eu não podia fazer aquilo. Amava Luke, mas não era egoísta ao ponto de querer que ele fique ali, nessas precárias condições de saúde, sem qualidade de vida, só para alimentar meu amor. Claro que não! Saber aceitar o "destino" era uma parte em que eu estava aprendendo a lidar, praticamente perder Luke, era a maior prova.

–– Não posso! Ele sofre muito diariamente. –– Olhei para Luke. –– Não me entenda mal, as vezes até eu me culpo, mas penso que acima disso aqui, existe um lugar maravilhoso no qual ele poderá ser livre e feliz, sem dor. Não desejo sua morte, mas ficaria consolada com ela pelas circunstâncias.

Uma Amorosa VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora