Capítulo 19

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Estou parada na minha posição estratégica, na exposição. Meu coração está batendo disparado, e não consigo fazer minhas mãos pararem de soar, mesmo passando-as repetidas vezes na minha roupa. Uma camisa social listrada, jeans escuros, e saltos altos, é o que estou vestindo tentando parecer o mais profissional e  séria que consigo. Faltam cinco minutos para a exposição começar. A primeira exposição de toda minha vida.

Está acontecendo em uma galeria do centro, que gosta de chamar a atenção das pessoas, por isso sempre organiza exposições diversas a cada dois meses, se não estou enganada.  Há a exposição principal, é claro, com fotografias renomadas e conceituadas, e também o espaço para os iniciantes, como eu. Me senti lisonjeada com o convite, e ainda não consigo acreditar bem que estou mesmo aqui. Passei horas pensando em como poderia distribuir as quatro fotos que estou apresentando, tentei todas as combinações possíveis e só agora a pouco decidi como vou deixar.

Começando com uma foto de pessoas na praia, vários desconhecidos. A cena era tão comum, e a paisagem tão singela, que não pude deixar de coloca-la primeiro, queria chamar atenção para a beleza do cotidiano que as pessoas não prestam atenção por estarem sempre com pressa demais, ou com outras coisas na cabeça. O mundo seria muito mais belo se simplesmente olhássemos pra ele.

A segunda, uma fotografia de meu pai entalhando uma prancha de surfe, seu trabalho. É uma foto antiga, mas que sempre esteve entre as minhas favoritas, porque mostra paixão em seu verdadeiro estado. A paixão de um homem que fez aquilo sua vida inteira, e que não ganha quase nada pelo suor gasto, mas mesmo assim mantem o brilho aceso nos olhos, pela sua paixão, que não diz respeito a mais ninguém se não ele e só ele.

Seguindo na ideia de paixão, que é o tipo de coisa que eu realmente gosto de retratar, a terceira foto é de Luke tocando guitarra. Mal dá para ver que é ele, pelo jogo de luzes que vem de trás, mas mesmo sem rosto, tudo na foto mostra a paixão que ele tem pelo que faz, basicamente como meu pai, de sua própria e magnífica maneira.

A quarta e última foto, também é de desconhecidos. Mostra uma mãe, creio eu, abraçando o filho, pelo que parece ser depois de muito tempo. Tirei em um lugar no meio da Europa, durante uma visita aos meninos em uma turnê, e nunca vou saber exatamente do que se trata, mas sei que mostra o mais singelo e verdadeiro amor que pode-se retratar.

Aquilo foi o que consegui selecionar, com a ajuda de Luke, por mais que ele não quisesse que eu colocasse sua foto. Em meio ás milhares e milhares de fotos que já tirei ao longo dos meus anos atrás das câmeras, não sei dizer se são as "favoritas" porque isso é uma rotulação complicada demais, mas são as que achei que fossem representar bem um conceito. Me representar, de alguma forma.

A exposição começa no horário marcado, e nenhum minutos a mais. É quando pessoas bem vestidas, e com rostos sérios começam a passar por mim, me cumprimentar discretamente, e a observar minhas fotos com cuidado.

Eu  presto atenção nos comentários, tento ouvir o máximo possível, é claro, da minha posição imparcial, já que seria estranho encarar as pessoas enquanto elas analisam meu trabalho. Os fotógrafos são recomendados a ficarem ao lado da exposição, pois os visitantes podem fazer perguntas, e discutir sobre o conceito das fotos, caso queiram. Mas fui estritamente recomendada a não dizer nada, antes que alguém pergunte.

Avisto Ashley vindo até mim. Depois de quase uma hora de exposição, minhas pernas já estão doendo. Fico feliz em vê-la chegar, um apoio moral que eu agradecia muito por receber.  Afinal, os meninos estavam do outro lado do país, e Luke parece ocupado demais para falar comigo por mais de dois minutos no telefone, ou trocar mensagens com mais de duas linhas. Nessa altura, eu não espero nem um "Boa sorte" mais, sabia que ele não se lembraria, devia estar ocupado demais. Taylor e Ashley, no entanto são as pessoas que viriam aqui por mim. E eu não posso estar mais grata por isso.  

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