Capítulo 19

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Acordei meio desnorteada com uns barulhos no corredor. Demorei um momento para me lembrar de onde estava, e notei que devia ser os pais e a parente de Victor se arrumando para dormir.

Deviam ser quase 4 da manhã, pois a temperatura estava uns graus abaixo do que antes. Isso me fez puxar a coberta até o pescoço e me segurar pra não bater os dentes.

Ouvi um barulho vindo debaixo de mim, e vi que Victor estava batendo o queixo de tanto frio. Se eu estava tremendo, imagina ele, que está praticamente deitado no chão?

Notei que ele não estava acordado, ainda dormia, mesmo com frio. Instintivamente, ele puxou suas cobertas mais para cima, para perto do queixo, mas minutos depois ele ainda estava tremendo. Ele não tinha dito que havia se acostumado com o ar frio que tem na casa?

Eu podia ser uma pessoa bem filha da puta às vezes, quase sempre, mas me apertava o coração ver alguém assim e não fazer nada.

Eu sabia que iria me arrepender pro resto da vida, mas me abaixei e cutuquei seu ombro.

- Victor.

Ele não se mexeu.

-Victor! - o cutuquei de novo -Acorda, porra.

Ele abriu os olhos, meio assustado e me olhou em silêncio.

- Sobe aqui.

- O que?

- Sobe aqui - repeti, já sem paciência.

Ele abriu um sorriso meio de lado e disse:

- Não foi assim que imaginei nossa primeira vez.

Eu rolei os olhos.

- Você tá tremendo de frio. Sobe aqui. Eu não vou pedir de novo.

Ele bufou e eu cheguei para o lado, assim ele poderia deitar ali.

- Deuses, que cama quentinha - ele se deitou de frente para mim e puxou as cobertas.

- Como faz tanto frio no verão?

- Tem um bosque atrás da casa. E o pé direito é muito alto, você deve ter percebido. E está de noite. No inverno isso triplica.

Ele estava lindo. A luz entrando pela janela deixava o quarto à penumbra e seus cabelos mais escuros do que já eram.

- Cruzes. Bem, boa noite - eu falei e fechei os olhos. Se eu ficasse olhando muito para ele, não iria acabar bem. Ainda mais que estamos no mesmo quarto.

Na mesma cama.

Não sei porquê imaginei que eu iria conseguir dormir.

Abri os olhos novamente. Ele estava me encarando.

- Quer uma foto? - perguntei.

- Posso?

- Eu te soco - deitei de costas, olhando o teto - Eu não sei dormir com alguém na mesma cama que eu.

- Somos dois, então. - ele disse - Quer conversar?

- Não.

Ele riu.

- Você é sempre mau-humorada assim?

- Você não faz ideia.

- Eu acho que faço... - sorriu - Sabe, acho que você só é assim comigo porque sabe que eu sou a pessoa mais incrível que já conheceu e sabe que se você baixar a guarda, eu entro no seu coração e você ficaria louquinha por mim em questão de horas. Então, esse seu mau-humor é apenas uma arma de defesa.

Os Opostos se Atraem? - LIVRO 3 - "As Diferenças Se Completam "Onde histórias criam vida. Descubra agora