Capítulo 26

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~BELLA

Eu odiava admitir, mas quem eu queria enganar? Eu gostei. E gostei muito. Seus lábios eram diferentes, não sei bem explicar. Eram mais... macios e ativos. Era um beijo enérgico e não sem graça. Ele comecava suavemente. Era intenso.

A maioria dos garotos que beijei, inclusive Marcelo, sempre me passavam a impressão de estarem preocupados com outra coisa enquanto me beijavam. Seja nas mensagens da mãe, no que iriam fazer no outro dia ou como a noite iria acabar. Eles sempre pareciam estar preocupados com coisas fúteis e não com o momento do beijo em si. Já eu não. Eu sempre tentava esquecer de tudo para ficar focada ali. Não havia beijo mais sem graça do que quando você está com a pessoa mas sua cabeça está em outro lugar, e pode parecer bobo, mas eu sempre me perguntei se algum dia iria beijar alguém que fosse como eu, que parecesse estar 100% focado no momento, sem preocupações externas.

E eu tenho quase certeza de que achei.

Não era uma coisa que ficava explícito. Era algo que dava para sentir. Victor não estava me beijando com os pensamentos em outro lugar. Ele estava ali, ele estava 100% ali comigo, assim como eu. E quando ele se afastou um pouco e acariciou meu rosto, eu tive absoluta certeza de que eu estava certa. Era só ele ali comigo. E eu havia adorado aquilo.

Eu não era idiota, sabia que as músicas que ele havia colocado eram para dizer coisas que ele não dizia pessoalmente. Não vou mentir e dizer que as que eu coloquei não tinham nenhuma mensagem oculta. Tinham sim. Mas... eu só estava um pouco confusa.

Eu gostava dele? Se sim, era o suficiente para amá-lo? Não. Eu não amava Victor. Ele apenas mexia comigo.

É isso. Ele mexe comigo.

Ele olhou em meus olhos e disse baixo:

- Por favor, me diz que isso vai acontecer de novo...

Eu sorri e responde:

- Quem sabe. Só não apresse as coisas.

Coisas? Que coisas? Nós temos uma "coisa"? Que merda eu havia acabado de dizer?

Ele sorriu de leve e me olhou.

- Tudo bem, vamos devagar. - ele concordou - Me dá a honra de te levar pra casa?

- Posso deixar você fazer isso dessa vez. - sorri.

E então, ele me levou. Se despediu com um beijo no rosto, o que achei muito cavalheiro de sua parte, e se foi.

Nós não conversamos mais no sábado. No domingo, bem no meio da tarde, meu celular apita. Era uma mensagem dele, um link, nada mais.

Abri o link e fui direcionada para o YouTube. Era uma música chamada Over and over. A banda era Three Days Grace. O nome não me lembrava coisa alguma, mas quando a melodia começou e o vocalista começou a cantar, eu sabia exatamente o motivo de ele ter mandado essa música. Era a que estava tocando quando nos beijamos.

Comecei a prestar mais atenção na letra. Era como se, mesmo tentando evitar, ele se apaixonasse por ela repetidas vezes e ela não precisava mover um dedo para isso acontecer. Ele se apaixonava repetidas vezes por quem ela realmente era, sem fingimentos.

Ouvi a música duas vezes. E nas duas eu fechei os olhos. De algum modo, eu havia gostado tanto daquela música, que não queria mais parar de ouvir. Também imaginei se a letra dela se encaixaria no que eu e Victor estamos passando.

E sim, se encaixa. Eu não quero me apaixonar. Eu não quero de verdade. Não depois do que passei com Marcelo. E se acontecer de novo? Ano que vem tem faculdade, não quero entrar nela namorando. Ia ser começar um ciclo todo de novo, ciclo esse que já comecei com o Marcelo e não deu certo, por que agora daria? Eu e Victor só brigamos, vai ser um milhão de vezes pior.

"De novo e de novo, de novo e de novo, eu me apaixono por você. De novo e de novo, de novo e de novo, eu tento evitar".

Sim, eu tentava evitar ao máximo.

Suspirei e balancei a cabeça. Eu já gostava dele. Em algum lugar dentro de mim eu já sabia que gostava dele. Então por quê ir tão devagar com as coisas?

Porque, o lado racional da minha cabeça respondeu, o estrago que o término de um relacionamento causa é menor se a área que ele tomou conta for pequena.

Isso foi o suficiente para minha cabeça e coração concordarem que tenho que ir devagar e com calma.

Depois de ouvir a música pela terceira vez, respondi Victor com uma carinha tímida e deixei o celular de lado.

Vamos com calma.

De segunda até sexta-feira Giovanna não foi na escola de manhã, apenas fez as provas à tarde. Estava com febre e dor no corpo, e desesperada por medo de não conseguir ir na viagem no sábado. Como ela não foi na aula, Gabi e eu não pudemos conversar com ela sobre sexualidade, então Gabi prometeu que iria se assumir e conversar com ela durante a viagem, o que, na minha opinião, era realmente o melhor a se fazer.

Eu queria tanto que as duas dessem certo. Gabi está completamente apaixonada. Fala da Gi o dia todo, fica morrendo de preocupação se ela está bem ou não, e foi visitá-la todos os dias depois da aula.

Sexta-feira à tarde, nossa sala estava em festa. Última prova, e no dia seguinte sairíamos de viagem para o Guarujá e ficaríamos duas semanas. Antes, o combinado era uma semana apenas, mas vimos que o preço de duas estava muito mais em conta, então aumentamos nossa viagem para duas semanas contadas. Mas sem guias turísticos, iríamos por nossa própria conta e risco.

Esse era um dos motivos que eu achava que nós não iríamos ficar muito unidos. Cada grupo iria querer ir para um canto conhecer a cidade e sair, então ficaríamos independentes, mas isso não seria um problema na minha opinião. Quanto mais longe eu ficar de Marcelo, melhor.

Eu e Victor ficamos normais a semana toda. Apresentamos o trabalho na segunda, não nos falamos muito por mensagens aquela semana por conta das provas que faríamos e precisávamos estudar muito.

Na terça, eu comecei a separar algumas das coisas que eu levaria; na quarta, eu arrumei toda a parte de higiene; na quinta, todas as roupas que eu possivelmente usaria para a praia, sair para comer, ficar no quarto ou passear. Sexta, eu separei os biquínis, todo o conjunto de roupas de banho, e os sapatos.

No total, eu estava levando uma mala enorme de rodinhas, uma mochila com coisas para o ônibus e uma mala de mão que estava um pouco pesada na minha opinião.

Enfim, sábado, dia 15 de março chegou. O total de pessoas que confirmaram que iriam na viagem passou de 13 para 20, então tivemos que alugar um micro-ônibus para caber todos. Ele iria passar de casa em casa buscando o pessoal e ajeitando as malas para finalmente podermos sair.

Assim que ele parou em casa, meu pai me ajudou com minha bagagem. Eu me despedi dele, da mamãe, de Thiago, Bruno e de Luka.

- Vocês dois, tratem de passear com ela. - falei para os meninos, passando a eles uma tarefa que eu devia ter feito há tempos.

Entrei no ônibus. Havia umas 15 pessoas já. Gabi estava sozinha em um banco de dois lugares, mas eu não sentei com ela. Me sentei sozinha em outro e coloquei minha mochila no banco ao lado, para que assim que Giovana entrasse, fosse se sentar com Gabi e não comigo. As duas precisam passar o maior tempo possível juntas nessa viagem.

Pegamos mais uma pessoa, mais uma. Paramos na casa que eu conhecia até do avesso. Marcelo saiu com suas malas, o motorista desceu e as colocou no bagageiro. Ele entrou. Usava uma bermuda jeans, tênis, camiseta polo. Óculos de sol e um fone de ouvido no pescoço. Seu cabelo castanho estava maior, reparei. Mas como ele usava óculos de sol, não pude saber para onde olhava quando passou por mim. Agradeci por ele não falar comigo, eu sabia que ele não faria isso, mas ele adora escândalo então eu precisava estar pronta para tudo.

Ele se sentou no fundo e o ônibus começou a andar de novo.

Só faltava Giovanna e Victor. Eu mal havia falado com ele, e se ele desistiu de ir?

Meu coração deu uma pequena falhada ao imaginar isso

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PRIMEIRO DO ANO AMORES!!!! Muita coisa vai acontecer nessa viagem!!! Se preparem

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