Capítulo 67

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~BELLA

Parecia que meus olhos tinham sido colados e minha cabeça selada. Eu sentia que se me movesse, eu iria quebrar. Meu cérebro acordou lentamente e eu consegui me lembrar de grande parte do ocorrido na última semana, mas não das últimas horas... ou dias? Quanto tempo dormi?

A lembrança de que eu estava grávida me atingiu em cheio como um soco no estômago, mas pela primeira vez eu não fiquei feliz quando isso aconteceu.

Desde que descobri que seria mãe, o pensamento me apeteceu todo o tempo que passei naquele lugar com aqueles homens, que eu até hoje eu ainda não sei os nomes, porém depois de tudo que eles me falaram, todas as informações que tive de lidar, quase fizeram minha cabeça explodir para lidar com tudo, absorver tudo. E o choque tomou conta de mim. Meu pai estuprou uma mulher e havia sido preso por matar um cara, e minha mãe estuprada quando tinha 16 anos. Nenhuma dessas informações era "menos pior" do que a outra. Todas elas eram horríveis desde sua essência até seu significado.

Como eu poderia cuidar de um bebê agora? Minha família estava praticamente destruída. Em que meio essa criança vai viver? E Victor? Ele ainda não sabe... Como vai reagir quando souber? Como vamos nos reerguer depois disso?

O peso do mundo caiu sobre meus ombros e eu comecei a chorar antes mesmo de abrir os olhos. Meus pais não eram nem de perto quem eu pensava serem, esconderam coisas de mim por 18 anos, eu vou ser mãe, tenho um namorado e a faculdade para dar atenção, estou morando em outra cidade... Era uma avalanche de coisas que me deixavam desesperada. Minha família era meu pilar, como posso lidar com tudo ao mesmo tempo se não tinha mais ela estruturada?

Meu dedo sem querer deve ter apertado o botão que chamava a enfermeira quando eu tentei me mover, porque segundos depois alguém bateu na porta e entrou devagar.

Ela não parecia ter mais de 25 anos, usava o uniforme do hospital e parecia meio tímida quando veio até mim.

- Me bipou?

- Foi sem querer – respondi secando os olhos – Cadê minha família? E meu namorado? E aquelas pessoas?

Ela pegou o meu prontuário, o abriu em uma folha específica, o analisou por um momento, e me disse:

- Ah, você é a garota desse caso. Apareceu em todos os jornais. – ela deu uma pausa e fechou o prontuário. - Seus pais estão na sala de espera junto com seu namorado. "Aquelas pessoas" que seqüestraram você não estão aqui. Um está preso e o outro morreu na troca de tiros.

- Tiros???

- Eu não sei se possuo permissão para te deixar a par de todos os acontecimentos de hoje de manhã. Daqui a cinco minutos seu jantar vai ser servido, minha recomendação é que coma, tudo bem? Talvez seus pais tenham permissão para te ver logo mais, e o doutor virá logo após você comer. Por hora, irei somente tirar sua pressão, tudo bem? Licença.

E dizendo isso, pegou o aparelho necessário, mediu minha pressão, temperatura, abriu novamente o prontuário e, com uma caneta que tirou do bolso, colocou as novas informações.

- Sua cabeça dói?

- Não.

Só meu coração.

- Isso é muito bom.

Bateram na porta e um carrinho com um prato coberto por uma cloche entrou, seguido pela mulher que o empurrava.

Ela puxou uma bandeja com pés e rodinhas da lateral do quarto, colocou o prato em cima dela, a arrastou até minha cama e tirou a cloche. Eu me vi de frente para uma canja de galinha fumegante que aprecia deliciosa. Depois de tantos dias comendo pão, bolacha e água em períodos rarefeitos, eu me vi diante de um banquete.

Os Opostos se Atraem? - LIVRO 3 - "As Diferenças Se Completam "Onde histórias criam vida. Descubra agora