Capítulo 64

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As duas figuras se aproximaram de mim, mas não me soltaram. Eu estava com as mãos amarradas na frente do corpo e os tornozelos unidos por uma corda.

- Depois de 3 dias, estava na hora – o outro falou.

Eu nunca tinha ouvido nenhuma daquelas vozes na minha vida. Claramente eram de homens, mas eu não os conhecia. A preocupação com meus pais e Victor, que ficaram três dias sem me ver, me invadiu. Onde eles estão?

- Onde estão quem?

Só então eu percebi que falei em voz alta.

- Meus pais. – repeti.

- Ah, seus pais... – um deles foi até a mesa, pegou uma cadeira, a arrastou para perto de mim e se sentou na minha frente. – Temos umas coisinhas para te contar sobre eles. Acho que depois, minha querida, você nem vai querer vê-los mais.
Franzi o cenho. Quem eram eles???

  - Quem são vocês?

Cada palavra que saía da minha boca era uma tortura. Minha garganta arranhava, minha voz estava fraca e minha boca seca como se eu tivesse engolido um balde de areia.

- Logo você vai saber, ainda vamos ter muito tempo juntos aqui. Antes de contar, eu preciso ter a certeza de que você é uma boa menina. Ah, e não adianta gritar, docinho. Ninguém vai te ouvir aqui.

“Docinho”. Era como Victor me chamava quando queria me provocar.
Meu peito se apertou. Onde Victor estava?

- Acho bom você se comportar – o outro falou. Ele parecia mais velho, maior... mas eu não conseguia ver seu rosto ainda. – Caso contrário, você não sai daqui. Viva.
Eles não teriam coragem de matar... Teriam?

“Se comportar” o que isso significava?
Meu pai sempre dizia que, sem experiência com autodefesa, o melhor era fazer o que mandassem em caso de seqüestro ou roubo. Sempre melhor não reagir. Na opinião dele, era melhor uns anos de traumas com acompanhamento do melhor psiquiatra do estado, se fosse necessário, do que morrer por coisas ínfimas.

Eu não discordava. Preferia ficar na minha e lidar com as consequências psicológicas depois do que tomar um tiro por, sei lá, fazer cara feia.
Ou uma facada.

Eu não sabia a arma que eles tinham, nem sabia se tinham armas. Mas eu não acho que cometeriam um crime se não tivessem nenhuma.

Surpreendentemente, eu estava calma. Eu sabia das minhas condições, sabia que eu não conseguiria correr, nem adiantava gritar, e sabia também que estava fraca, por isso, apenas abaixei a cabeça, rezando para que alguém viesse procurar por mim.

~ VICTOR

Depois que já estava na estrada, foi que pensei o quão idiota eu havia sido. Eu riria fazer o quê? Vasculhar todos os motéis, pousadas, postos de gasolina e restaurantes pelo caminho que ela fez? Vai demorar séculos. Talvez eu possa, na ida, dar uma olhada meio por cima, e caso não ache nada, vasculho mais afundo na volta, torcendo para que aqueles policiais idiotas não apareçam em casa enquanto eu estiver fora.
Eu estava incrédulo pela atitude que eles tiverem de vasculhar minha própria casa, como se eu fosse suspeito. Mesmo que fosse uma idiotice, há uma pequena possibilidade de a idéia de que eu fiz algo à Bella se concretizar na cabeça deles caso eles apareçam em casa e eu não esteja. Um deslize meu e aqueles idiotas não sairão mais do meu pé enquanto Bella está por aí com sei lá quem que pode fazer mal a ela.

Fui obrigado a afastar essa possibilidade da cabeça. Seqüestro era a palavra que não saía da minha cabeça. Era a hipótese mais provável, embora assustadora.

Apesar de ser sinistro, eu preferia pensar em seqüestro (que era algo que poderia ser resolvido com uma possível negociação) do que em roubo seguido de morte, ou estupro, ou em homicídio e ocultação de cadáver (que eram hipóteses impossíveis de serem desfeitas).

Os Opostos se Atraem? - LIVRO 3 - "As Diferenças Se Completam "Onde histórias criam vida. Descubra agora