Capítulo 3

1.3K 114 42
                                    

Rolei os olhos e tomei meu caminho para o banheiro, mas pude jurar que ele deu uma risada antes de ir procurar sua sala.

Entrei no banheiro já fazendo um coque no cabelo e jogando água no rosto. Não queria pensar muito; estava nervosa. Com raiva.

Meu avô morreu quando eu tinha uns 10 anos. Como eu só conheci meu pai com essa idade, acabei conhecendo meu avô com essa idade também. Eu tinha um problema de coração e precisava de transplante. Ele acabou me doando o dele quando morreu, que por acaso foi exatamente na noite pela qual os médicos disseram a minha mãe que eu não iria passar, pois meu caso era grave demais. Meu avô foi diagnosticado com esclerose múltipla, e morreu para me salvar.

Para o hospital conseguir retirar os órgãos, precisa do consentimento da família. Apenas meu pai foi consultado se poderiam usar o coração dele para me salvar. Ele disse sim. E eu estou viva e meu avô morto. Claro que me sinto culpada.

Eles dizem que já não havia mais nada a ser feito para salvá-lo, mas eu me pergunto até hoje se é verdade.

De volta à sala, bati na porta e entrei.

– Licença – falei.

Ao olhar ao redor da sala, vi o garoto idiota sentado em meio às cadeiras.

E bem atrás de mim.

Fingi não o ver e me sentei em meu lugar.

– Vai fingir que não me conhece? – eu ouvi ele sussurrar atrás de mim. Provavelmente estaria inclinado sobre a cadeira para ficar mais próximo ao meu ouvido.

– Eu não te conheço. – sussurrei de volta, sem olhar para trás.

– Custa falar um “oi”? Nós nos conhecemos há muito tempo.

– Não me lembro de você. Que pena.

– Tá falando sério?

– Sim.

A professora, uma mulher de mais ou menos 115 anos de idade, se virou para nós.

– Victor está incomodando você, Bella?

– Sim, está. – respondi e a turma começou a rir – Posso me mudar de lugar?

– Se alguém quiser trocar de lugar com você, a vontade.

Ninguém se manifestou.

Me virei para o tal garoto que agora tinha nome e disse:

– Parece que ninguém quer sentar perto de você, Victor.

Ele sorriu.

– Que bom, assim tenho mais tempo para te irritar.

– Você nem me conhece! Quem te deu essa intimidade?

– Intimidade é só na cama, docinho, e já disse que nós nos conhecemos desde criança.

– E e já disse para não me chamar de docinho, palhaço.

– Meninos! – a dinossaura chamou a atenção – Namorem depois, agora silêncio.

Namorar?

Deus que me livre.

Demorou uns minutos para a sala ficar quieta. Eles estavam rindo sem parar do pequeno espetáculo que havia acontecido.

Olhei para Marcelo, que me olhava sério.

Será que ele está com ciúmes?

Se ele estiver… que ótimo!

A aula se seguiu normalmente chata. A dinossaura olhava para a minha cara algumas vezes para ver se eu estava conversando. Vai arrumar o que fazer.

Os Opostos se Atraem? - LIVRO 3 - "As Diferenças Se Completam "Onde histórias criam vida. Descubra agora