Doze

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Gabriel ligou para o tal amigo e encomendou a pizza, depois colocou um filme de terror no antigo dvd que ficava em baixo da TV e eu o olhei enquanto lidava com o aparelho. Havia muito tempo que eu não usava dvd e eu estava empolgada.

Ele arrastou  o cobertor para a sala e colocou o filme  para passar. Nos sentamos, o cobertor envolta do nosso corpo, mas não nos tocamos nenhuma vez sequer. As coisas não estavam totalmente normais, a verdade é que estava muito, muito estranho. É como se aquele momento fosse completamente proibido, como se tudo estivesse indo contra a lei que diz que Louisa e Gabriel nunca (em hipótese alguma) podem se tratar como pessoas normais. Eu não era normal perto dele e Gabriel, definitivamente, não era um cara normal quando o assunto era eu.

Mas o que eu podia fazer? Apesar de a sua ideia em tentar nos dar bem fosse engraçada e completamente fora de contexto e naquele momento eu não soubesse exatamente se estávamos bem ou se não podíamos de fato estar, eu gostava de pensar que as coisas pudessem fluir. Talvez pudéssemos nos tornar amigos de verdade, uma vez que eu o conhecia como a palma da minha mão e ele também me conhecia por dentro e por fora. Aquela ideia me deixava com uma coceira na garganta. Amigos ou não, Gabriel era um filho da puta gostoso pra cacete e eu não ia negar isso, seria ainda mais difícil lhe dar com essa questão.

De qualquer forma, para alguma das duas coisas isso ia ter que prestar: ou para nos destruir, ou para ficarmos bem de uma vez por todas.

E eu realmente estava cansada de brigar.

Gabriel parou o filme e foi até a porta para pegar a pizza que havia pedido. Quando voltou, já carregava uma fatia enquanto segurava a caixa na outra mão.

Sua expressão agora estava mais relaxada e ele voltou a me olhar no rosto. Acho que aquilo significava que estávamos bem novamente.

Sorri e esperei ele se sentar para pegar um pedaço também. Quando mordisquei a fatia de pizza suculosa com mussarela e calabresa, quase morri e fui para o céu. Era a melhor pizza do mundo.

—Meu Deus —falei, com a boca cheia —O que tem aqui? Que gosto maravilhoso!

Ouvi sua risada e abri os olhos. Aquilo era tão bom que eu nem tinha percebido estar com eles fechados.

Também não tinha percebido como o som de sua risada era agradável. Fiquei olhando para ele.

—A Inglaterra tem algumas qualidades melhores do que o pedacinho de bosta de onde você saiu.

—Pedacinho de bosta? Lembre-se de que você também mora lá. —Quando falei isso, parei de mastigar e o encarei.

—O que foi?

—É que eu nunca parei para pensar porque você tem um apartamento aqui em Cambridge e porque você está aqui, agora.

Ele engoliu o pedaço de pizza e deu de ombros, lambendo o queijo que havia restado na ponta de seus dedos.

Continuei olhando.

—Eu não gosto da Califórnia. Acha que foi coincidência escolher um lugar tão longe?

—Tá, mas porque você escolheu aqui? São um pouco mais de dez horas de viagem... Acho que você acharia um lugar mais longe.

—Tipo onde? No inferno?

—Não sei, você saiu de lá né?

—Mas sai depois de você. Nosso pai Lúcifer tava reclamando que a filha dele fugiu de casa. —Deu de ombros, dramaticamente— Cansei de ouvir.

—Vai mesmo querer uma guerra de insultos, Gabriel? —Sorri, o encarando.

Ele estreitou os olhos e depois sorriu.

Atração sem LimitesOnde histórias criam vida. Descubra agora