A nossa volta para Cambridge não foi exatamente como eu imaginava. Quero dizer, nós estávamos juntos, mas durante toda a viagem houve um silêncio gritante entre nós. Eu sabia que ele estava me dando um tempo, já que provavelmente toda a minha família nos odiava naquele instante. Mas eu também sabia que o vácuo entre nós não era só por esse motivo.Gabriel havia dito finalmente que me amava e eu não consegui dizer nada em relação aquilo. Eu sabia que o amava. Poxa vida, eu estava completamente e perdidamente apaixonada, não havia como mudar isso. Só que eu não consegui simplesmente dizer.
Isso o havia deixava pensativo. Continuou assim, distante, mesmo depois de estarmos de volta em seu apartamento. Ele foi ligar o aquecedor e eu fui para meu quarto. Minutos depois, ele deu duas batidas na porta e a empurrou.
Eu estava sentada, as mãos caídas ao lado do corpo enquanto brincava com uma linha que havia se desprendido do lençol.
—Eu vou tomar um banho, agora. Quer vir comigo? —Perguntou.
Eu o olhei. Sabia que Gabriel estava se esforçando por mim. Por nós. Mas eu não conseguia esquecer o fato de que eu havia, pela primeira vez na vida, feito algo que ia contra a vontade da minha mãe.
—Eu estou cansada. Vou tomar banho pela manhã. Tudo bem pra você se eu dormir aqui no meu quarto essa noite?
Gabriel suspirou e me olhou um segundo antes de dar de ombros.
—Tudo bem, amor.
Forcei um sorriso que se desfez assim que ele fechou a porta.
Senti meus olhos ardendo e funguei, tentando me controlar.
Mesmo sabendo que Daphne supostamente estava me detestando, eu peguei o meu celular e digitei uma mensagem.
"Eu e Gabriel acabamos de chegar em casa. Só tô avisando que chegamos bem. Está tudo bem. Eu te amo, bjs."
Me deitei, o celular sobre a barriga. Depois de meia hora, eu soube que não teria uma resposta, então me virei para o canto da cama e depois de chorar por longos minutos, acabei adormecendo.
(...)
Acordei sentindo o meu estômago um pouco doente. Mesmo assim me levantei e fui tomar um banho.
Ao sair do banheiro, senti cheiro de café e bolinhos de chuva. Gabriel estava com uma espumadeira enquanto mexia na panela e cantarolava uma canção que passava em seu celular, através de seus fones de ouvido. Ele mexia os ombros e cantou o refrão mais alto me fazendo entender as letras da música. Estava cantando Rolling Stones.
Fiquei feliz por vê-lo tão alegre e descontraído e me sentei no balcão. Observei durante alguns segundos até que Gabriel me notou ao se virar para colocar os bolinhos em uma vasilha e sorriu para mim.
—Bom dia. —Disse, vindo até onde eu estava e me dando um beijo. —Está se sentindo bem?
Suspirei.
Não estava me sentindo as mil maravilhas, parecia que um caminhão pesando toneladas havia me atropelado. Mas apenas balancei a cabeça e sorri.
—Estou. —Falei e olhei em meu relógio —Preciso estar na faculdade em meia hora, ainda não mandei uma mensagem a Mika. Você pode me levar?
—Mais é claro. —Falou e abriu o maior sorriso —Nosso primeiro dia oficial como namorados, amor. Quero que todos nos vejam juntos.
Balancei a cabeça e peguei a xícara com café que ele havia servido para mim.
—Fiz esses bolinhos pra você. Acho que estão gostosos, só deixei queimar um pouco.
Olhei para a vasilha e senti meu estômago contrair. O cheiro atravessou minhas narinas e eu precisei prender a respiração por um tempo. Não queria magoa-lo, ou parecer uma nojenta mesquinha. Mas tentei não ser rude ao dizer:
—Eu vou apenas tomar o café, mas obrigada.
Ele suspirou e apoiou o cotovelo na bancada, se inclinando para mais perto de mim.
—Eu não quero que tenha se arrependido, Lou. Sei que sua família é tudo pra você e entendo se você não quiser... Você sabe, continuar isso.
Segurei um de suas mãos e sorri.
—Eu não me arrependi, Gabe. Eu fico bem com você, eu realmente amo... —Ele arqueou uma sobrancelha e eu engoli em seco. —Amo ficar com você.
Apertei os olhos. Porque era tão difícil dizer realmente o que eu estava sentindo?
Gabriel suspirou e soltou sua mão, indo até a cafeteira pegar um pouco de café para ele.
Bati os dedos no balcão. Covarde!
—Tudo bem então. Vou ir vestir algo quente e já te levo pra faculdade.
Ele passou e me deu um beijo no topo da cabeça, indo para seu quarto.
Quando ouvi a porta batendo, corri para o banheiro e tranquei a porta, vomitando na privada toda a comida o que estava no meu estômago.
Quando me recompuz, dei descarga e encarei o vômito descer junto com a água sanitária. Olhei meu reflexo no espelho e passei uma água no rosto. Respirei fundo. Eu não podia estar tão mal... Isso não devia demorar a passar. Escovei os dentes e sai, encontrando Gabriel com a chave do carro nas mãos.
—Pronta? —Perguntou.
—Sim.
(...)
Eu realmente pensei que não estava tão mal, mas acho que as pessoas ao redor já tinham notado na minha cara. Mika me deu um abraço forte assim que me viu, mas me afastou e franziu a testa.
—Meu Deus, quem foi que morreu?
Respirei fundo antes de responder e espirrei. Esfreguei o nariz com as costas da mão sem nenhuma delicadeza e balancei a cabeça.
—Ainda ninguém, mas eu temo que logo eu vá ser essa pessoa.
—Mas o que você tem? —Ela encostou as costas da mão na minha testa, rosto e pescoço. —Está queimando em febre, Louisa. Como veio até aqui desse jeito?
Meu corpo estava duas vezes mais dolorido e eu, mesmo sendo a teimosa que era, concordei em não poder ficar para as aulas daquele jeito.
—Eu pensei que fosse só um mal estar. —Falei, soltando outro espirro seguidos de uma tosse seca —Acho que vou me sentar um pouco.
Me sentei em uma das arquibancadas perto da entrada da faculdade e apoiei o cotovelo nos joelhos, enterrando o rosto nas mãos.
—Você veio a pé? Porque não me ligou?
—Gabriel me trouxe e como eu disse, pensei que fosse só um mal estar então... Acho que acabou não sendo.
Ela balançou a cabeça e colocou a mão na cintura.
—Você é uma danada, Louisa. Fica aqui, eu só vou buscar o meu carro e te levo para um hospital.
—Não. Hospital não. Me leva pra casa, eu preciso dormir.
Ela fingiu não me escutar e seguiu a passos apressados para o estacionamento. Cinco minutos depois ela havia parado o carro na entrada da faculdade e eu empurrei meu corpo cansado até lá.
Mesmo depois de ver que o caminho em que íamos não nos levaria para o apartamento de Gabriel, eu decidi não pestanejar. Ao invés disso, fechei meus olhos cansados e dormi.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Atração sem Limites
RomanceLouisa precisou se mudar para a casa do meio-irmão Gabriel, com quem tinha um grande problema de convívio desde que se conheceram. Um relacionamento a base de intrigas e sarcasmos começou a dar lugar para carícias e um romance que não tinha a aprova...