Sete dias sem ela

Você terá vingança, desgraçado

"Desgraçado".

Era a única palavra que emanava pela cabeça dos dois marotos enquanto o rabugento de cabelos negros permanecia em seu lugar com a sobrancelha arqueada e um meio sorriso de vitória diante a evidente condenação dos colegas de classe.

A rincha entre as duas casas era algo histórico.

Mais do que ganhar a taça das casas, era importante ferrar com aquela equipe rival. Por isto, os professores ignoravam certas desavenças pelo bem da escola.

Pelo bem da comunidade bruxa.

No entanto, por ter inundado o dormitório da Sonserina, os marotos haviam passado dos limites. Como castigo, estavam suspensos do quadribol por duas partidas. O pior era que seriam as partidas decisivas para o primeiro semestre. Não havia legitimidade uma punição como aquela.

- Por que não limpar o jardim da escola ou sei lá...? - E Sirius tentava argumentar com veemência, principalmente por James ser um dos jogadores.

Ainda assim, a professora McGonagall permanecia irrefutável quanto a decisão.

Arrumando as redondas armações sobre o osso do fino nariz, a senhora retornou a mesa. Conferindo as atividades do dia, ignorava as súplicas e promessas.

Não mudaria de ideia. Havia sido sua palavra final.

- Isto não vai ficar assim, Ranhoso. - James rangeu como um cão raivoso, acompanhando o sonserino que já retornava para a aula.

- Concordo. – O olhar em desprezo ressaltava o evidente sarcasmo. - Quem sabe outras de suas atitudes não sejam punidas e piore o seu castigo, Potter.

Fechando o punho em ódio, o impulsivo rapaz estava determinado a desfigurar aquela maldita cara prepotente.

Pondo-se de frente, Snape desafiava friamente. Diferente dos primeiros anos de escola, o rancor lhe motivava a revidar em igual tamanho qualquer ação daqueles desprezíveis transgressores.

E como aquele olhar petulante incomodava o grifinório. Por mais dolorosa que fosse a ideia de abandonar o quadribol, valeria a pena somente em ver aquele amaldiçoado cuspindo sangue e sem aguentar levantar do chão. Por isto, quase o acertava se não fosse a mão de Remus sobre seu ombro, impedindo-o de provocar outro agravo.

Respirando pesadamente, desta vez, ele obedeceria.

Relembrando o conselho do amigo, não valeria a pena causar um assassinato quase na porta do diretor. Precisava ter o sangue tão frio quanto o daquela cobra para conseguir retirá-la do pódio. Oh, sim! Sentia a cólera lhe percorrendo as veias e o motivando a destruí-lo em seu próprio jogo.

Sorrindo em deboche para os quatro rapazes, em especial para o enfurecido de óculos, Snape irrompeu os corredores junto a escuridão da negra capa sobrevoando enquanto retomava ao seu caminho.

- Deveríamos voltar para a aula também? - Perguntou o desengonçado Peter, apontando para uma parte da sentença que carregava em mãos. Por mais que estivesse evidente que nenhum dos garotos fossem acatar, insistiu uma última vez. – Neste papel diz que depois das duas partidas, seremos reavaliados. Não seria bom se tudo estivesse "ok"?

- Ah, Peter! - Repetiu James, fechando mais forte o punho e acertando pequenos muros contra o próprio queixo. Necessitava pensar numa boa ideia com urgência. Precisava desfigurá-lo. Só a lembrança daquele rosto em sua mente lhe causava asco. - Eu não tenho cabeça para aula, eu só quero quebrar a cara deste desgraçado.

- Não sei por vocês, mas eu vou para aula. – Soltando os demais, Lupin seguia para o corredor. - Amanhã cedo iremos para um congresso sobre história da magia e não quero mais nada dando errado.

- Como assim? - Assustou-se Sirius diante a repentina notícia. - Amanhã? Você não pode nos abandonar agora, Moony. – Franzindo o cenho, levou a mão ao próprio peito, incrivelmente desapontado. - Este é o momento da nossa vingança! Vamos fazer algo memorável e só poderemos fazer isto juntos.

Maleando a cabeça em negativo ao olhar para trás, deu um pequeno soco contra o próprio peito, tentando entrar na dramatização:

- Eu estou com vocês. Vou dar meu total apoio.

- É diferente!

- Sirius, desculpa. Foi repentino. – Explicou, olhando para o mais alto. - Nenhum dos monitores da grifinória poderá faltar a este evento.

- Você nem parece indignado. – Sirius espreitou os olhos, cruzando os braços, descrente. - O Ranhoso acabou com nossas próximas duas semanas. – Pelos rostos, os demais não se incomodavam em liberar Remus, assim o indignado jovem tentava justificar. - Você tem a obrigação de ficar conosco. É uma questão de morte ou morte.

- Espere... - James parecia ter uma ideia. - Todos os monitores?

- Sim.

- Onde foi divulgado?

- É uma atividade interna apenas para as monitorias. A visita será somente para a Grifinória.

- Lily é uma monitora. - Dando de ombros, o crescente sorriso em seu rosto previa o desastre.

- Sim. Para a sorte de vocês, o Ranhoso estará sozinho para ser atingido por esta... - Levando o dedo indicador ao queixo, pensou alguns segundos, logo continuando com aspas ao ar. – "Implacável vingança".

- E por quanto tempo eu terei que ficar... – Corrigiu Sirius. - Nós teremos que ficar longe de você?

- Sete dias.

- O que você está pensando, James? - Perguntou Peter, dobrando o papel e guardando no bolso traseiro da calça.

Não foi necessário nem uma palavra para que Sirius compreendesse.

Fingindo tossir como se idealizasse uma irrecusável proposta, o garoto deu um passo afrente, propondo ao licantropo:

- Para provar que está indignado. Que, realmente, podemos contar contigo. Que não é um traidor para...

- Fale logo, Sirius!

- É simples. Você deverá nos preparar algumas doses de poção polisuco.

Remus massageou o cenho, premeditando o desastre. Todavia, não havia tempo e reconhecia como os amigos estavam abalados pela punição. Quer dizer, atingidos justo no quadribol.

Apesar de tudo, era compreensível.

Assim, revirando os olhos, concordou:

- Eu nem quero saber o que vocês vão fazer. – Levantando o indicador, avisava severamente. - Mas não é para se transformar em nenhum professor e só farei pois vou viajar e quero demonstrar como "estou nesta com vocês".

Diante os rostos contentes, suspirou vencido:

- Agora vamos para aula.