A falsa Lily

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Todos tinham conhecimento sobre como o mais velho herdeiro da família Black brincava com os corações alheios por diversão. No entanto, Severus jamais imaginou que pudesse se tornar uma de suas vítimas.

Amaldiçoava os olhos inchados por denunciar como estava abatido, trabalhando num colírio oral para mascarar a imensa tristeza quando precisasse confrontá-lo.

Respirava com dificuldade já que o peito doía de tão vazio.

O choro não conseguia permanecer engasgado na garganta e as lágrimas não queria cessar. Jamais imaginaria que aquele tão aconchegante abraço pudesse se tornar uma lâmina tão fria e dolorida. E como doía.

Agora, era uma criança desenganada, cuja morte nunca foi uma alternativa.

Esmurrando o travesseiro em ódio, por que justo Lily? Por que justo sua melhor amiga, senão a única? O soluço trazia mais lágrimas e a cabeça latejava pelo exagero de álcool e sabe lá mais o que na noite passada. Amaldiçoava-se por não recordar, se bem... Sinceramente, não sabia se queria.

Todavia, o inimigo só ganhava a guerra quando constatava a derrota do oponente. Por isto, não podia "aparentar" destruído.

Por mais que seu coração fosse estilhaços de vidro sem conserto, jamais poderia deixar o maldito do Sirius Black descobrir.

Prendendo a poção com o dorso da mão no interior da boca, precisava engolir. Precisava aparentar não se importar.

Tinha aprendido a lição, por isto, jamais permitiria a engessada máscara de desprezo cair outra vez.

Arrastando-se pelas sombras das altas paredes de pedra, adentrou a sala, ficando ao aguardo do imbecil.

Batendo a ponta dos dedos na superfície da mesa, os minutos pareciam não passar.

Como não houvera percebido?

Como poderia ser tão estúpido?

Como poderia encarar Lily quando a garota retornasse?

Sirius havia corrompido o angelical sorriso e o conforto daquelas dóceis mãos.

Como sempre planejavam, aqueles malditos marotos haviam conseguido destruir a única motivação que ele se apoiava para viver.

Derramado água sobre os raios de sol que indicava seu cotidiano amanhecer.

Certamente, no intuito de afastá-los para que o Potter pudesse se aproximar, já que o maldito sempre vinha com sorrisos e piadinhas desagradáveis para perto da garota. Nem conseguia enumerar nos dedos em quantas tentativas o quatro olhos fracassara.

Fazendo uma massagem nos olhos, não poderia voltar a chorar. Precisava ficar calmo e frio, afinal, já tivera o coração arrancado do peito. Logo, antes que ele pudesse parar de bater, deveria congelá-lo.

Deste modo, ele não estaria mais suscetível a tristezas provenientes daquelas brincadeiras...

"Brincadeiras"?

Pro inferno que aquilo era uma brincadeira como Lily havia pontuado.

... Ou, naquela época, já seria Sirius?

Pensando bem, desde quando, ele era ela?

Olhando para o líquido vermelho preso no pequeno frasco entre as duas mãos, nada importava, agora descobriria.

---;;

A única tradição que Sirius compartilhava com sua família era acerca o conhecimento sobre o céu. As histórias por trás de cada estrela e as tragédias que resultaram em constelações. Por isto, comparecia a aula da professora Sinistra, mesmo quando opcional.

Sete dias sem elaOnde histórias criam vida. Descubra agora