Sete dias sem ela

Fios quebrados

- Estou ocupado, Lily. - Repetia, sem parar o passo. Para falar a verdade, não queria fitar a ruiva.

- Você está sempre ocupado. - Apressando-se, segurou-lhe pelo ombro.

O tom de voz firme pedia que parasse.

Retrocedendo um passo por reflexo, não entendeu os resquícios de raiva que a ferida expressão lhe lançou.

Engolindo em seco, refletia: Havia o magoado? Não entendia e, para piorar, nada recordava.

Até a última semana, eles tinham um cronograma de atividades combinado. E ela sempre esteve em todos os planos de Severus, por isto... Será que ele estava decepcionado por não ter sido avisado da viagem? Todavia, foi tão repentina que nem teve tempo de fazer as malas. Mesmo assim, poderia ter mandado uma carta ou... Abaixando o rosto, receou. - Não somos mais amigos?

Notando o desconcerto, o rapaz proferiu uma apressada desculpa:

- Eu percebi que pertencemos a destinos diferentes, Lily...

O silêncio pairou entre os dois.

Segurando-lhe pelo pulso, quando este já retornava o caminho, buscando fugir da indesejada conversa, Lily exigia uma explicação sensata. Não permitindo que ele escapasse, insistiu:

- Não, Severus! Eu quero que você seja sincero. - Franzindo o cenho para o rapaz que evitava encará-la, foi franca. - Qual o problema comigo? - ... – Foram os garotos?

Os instintivos olhos nunca falhavam.

Fitando-lhe de relance, com o coração sobressaltado, nunca imaginou que aquele verde já não lhe traria esperança ou conforto.

Entristecido, o maldito Potter havia destroçado a sua mais bela lembrança.

Agora, nem mesmo um patrono iria conseguir conjurar. Se bem que... Aquela desilusão lhe capturou a alma.

Meneando a cabeça em negativo, a carinhosa mão usou um leve toque para afastá-la. Não queria envolvê-la, pois odiava ser objeto de pena.

Não era orgulho, só...

Enquanto revivesse aquela história, apenas se entristeceria...

Baixando a cabeça, cabisbaixo, antes que a garota insistisse naqueles tolos questionamentos, só cambaleou num adeus.

Arrastando-se pelos corredores, apertava os livros tão fortes contra o peito, acreditando que conseguiria se fundir a eles. Pelo menos, as folhas de papel aguentava tudo, desde decreto de guerra até apaixonadas cartas de amor. Elas jamais mudavam seu conteúdo pela influência do ambiente externo. Papel sempre seria papel, tendo mentiras ou verdades escritas.

Encostando as costas contra a alta coluna de concreto próximo ao jardim, retirou a carta da parte interna do livro, fitando-lhe o lacre.

Na realidade, tinha receio do que poderia estar escrito ali.

Definitivamente, não estava preparado para perdoar. Por mais que houvesse a remanescente chance de gostar de James, seria estranho depois de tudo.

Sim, extremamente estranho.

Jamais conseguiria fingir que nada havia acontecido. Até porque, não era a primeira vez que James o machucava e, por mais que houvesse conhecido e viciado em seu carinho, nutria um imensurável rancor. Embora o descanso encontrado no seu caloroso abraço... Não! Sempre estaria apreensivo e magoado naquele sítio de ódio cultivado pelos dois.

A falsa Lily foi apenas... Droga! Como foi tão idiota e se tornou vítima de uma poção?

Por qual motivo ficou cego por aquela felicidade? Por que ignorou os fatos e...?

Conformado, certamente, seu destino era morrer envenenado.

Precisava seguir em frente, mas... Fitando novamente o amarelo papel, como, quando o coração estava tão dolorido?

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- Sabe Sirius, mamãe está cada vez mais louca desde que você saiu. - Passando o frasco de porção para o mais velho, lembrava preocupado. - Ela vai surtar quando descobrir que você está apaixonado por um mestiço.

Ele riu.

Utilizando os cotovelos como apoio para encostar no parapeito do muro, brincou enquanto esboçava o sorriso cafajeste, pelo qual tantas garotas suspiravam naquele colégio.

- Não é como se você fosse diferente agora que deixei o caminho livre.

- Não... - Fitando o cabisbaixo amigo perdido nos próprios questionamentos andares abaixo da plataforma, por mais difícil que fosse aquela decisão, estava convencido. - Eu fico feliz se o Severus estiver.

- Então, acho que é sua responsabilidade perpetuar o sobrenome Black. - Virando-se para mirar o que os negros olhos observavam, deu uma tampinha contra a omoplata, não perdendo a oportunidade para uma brincadeira. - Não precisa me agradecer pela ajuda do meu melhor amigo em lhe conduzir ao caminho de volta.

- Eu quero matar este seu "melhor amigo". - Estreitando os olhos, achou importante frisar.

Por que justo James? Todavia, ao recordar a felicidade nas palavras de Severus, tentava engolir aquela sopa de jiló.

Vencido, sempre quis acertar a cara daquele idiota. Por isto, se ele machucasse Severus, seria a oportunidade perfeita para realizar seu sonho.

- Acho que a gata velha fará isto por você. Ela está possessa desde que ele perdeu o jogo.

- Ele ainda está machucado?

- Desiludido, desesperado... As feridas da queda já sararam por conta de uma planta que ele implicou em tomar, ainda assim, ele não para de repetir sobre o quanto foi burro e queria uma chance de fazer tudo diferente. - Relembrando com um pequeno riso, segredou. - Eu tenho que lutar para continuar sério, pois sei que ele não está se referindo ao jogo em momento algum.

- Dois idiotas.

- E todos não somos, Regulus?

Refletindo, Sirius estava certo. Por isto, soltando um muxoxo insatisfeito, só torcia para que aqueles dois idiotas fossem felizes.

- Eu não acho que o Severus vai ler aquela carta.

Levando a mão ao queixo, o grifinório refletia.

Felizmente, sempre tinha bons planos, exceto pelo pequeno detalhe em como eles estavam condenados a terminar ruim.

Certamente, Severus perdoaria James se eles tivessem uma segunda chance de conversar de igual para igual. Qualquer coisa, o "não" eles já tinham.

Arriscando, perguntou devagar:

- Você acha que consegue levar o Severus ao banheiro do terceiro andar?

- Perto da cozinha da lufa-lufa? - Diante o sorriso afirmativo, precaveu. - Não me faça querer te matar também, Sirius.