O amor não supera tudo

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Puxado, Snape não conseguia seguir para a aula depois daquela palavra. Regulus nunca havia feito nada para irritar a garota, então... "Babaca?". Observando os ruivos cabelos tão suaves, ele teria lhe machucado de alguma forma? Refletindo, o amigo não seria capaz. Uma pessoa tão educada, elegante, gentil... Definitivamente, Regulus não conseguiria. Sempre tinha um abraço tão confortável, palavras macias, audaciosas e revolucionárias... Então, qual seria a justificativa para tamanha raiva?

Atritando os calcanhares ao chão, parou de caminhar.

Batalhando para organizar os pensamentos ao receber o semblante intrigado, ponderou:

- Você não pode tratar o Regulus desta forma.

Soltando-o, James cruzou os braços, suspendendo as sobrancelhas como se perguntasse se falava sério. Agora teria regra de etiqueta para falar com um imprestável? Revirando os olhos, não conseguia acreditar. Mas... Até que poderia ser uma regra útil, afinal.

Após um longo silêncio, considerou:

- Você trata os meus amigos da mesma forma.

- Mas são situações diferentes.

- Eu fico, igualmente, magoado. – Ops. - Quer dizer, magoada. – Relaxando os ombros, mentiu ressentido. – Só tratei o Regulus daquela forma para que você soubesse como me sinto.

Fitando o chão, culpado, Severus nada disse.

"Os marotos", como os amigos dela se intitulavam, era a praga de Hogwarts. Não conseguia esquecer as inúmeras vezes que havia sido trancado na cabine do banheiro, empurrado para o armário de vassoura ou perdido alguma dispendiosa atividade apenas pelas risadas alheias.

E, Lily, sabia disto. Inclusive, dizia não suportar aqueles imprestáveis... No entanto, cada vez mais, eles se aproximavam. Rendendo-se pesaroso, era o esperado diante da competição das casas. Cada vez mais, eles seriam uma equipe dedicada em obter a importante e legionária taça.

Fechando o punho, talvez...

Maleando a cabeça em negativo, não tinha sangue de barata para... Embora a amasse... Será que a amava? Ou...

- Nunca vai ser a mesma coisa. – Ríspido, não tinha espaço para dúvida. Diante a expressão indignada da menina, sabia que havia a perdido para sempre. Atordoado pelas lembranças reprimidas, lágrimas se formavam em seus olhos, arrependido pelas palavras que proferiria. No entanto, simplesmente, não conseguia aceitar aquela inacreditável comparação. - O Regulus nunca foi "babaca" com você. Não é o perfil dele... – As palavras saturavam em ódio, apesar da voz embargada pela difícil tentativa de não sucumbir ao choro. - Obter diversão pelo sofrimento dos outros é algo apenas para seus colegas.

- Eles nunca te fizeram mal.

- Imagina.

- Foram apenas algumas brincadeiras, Severus.

- Você está ficando louca. – Fitando uma coluna distante para disfarçar o olhar marejado, prendia a respiração, confessando não reconhecer a amiga. Criando coragem para encará-la, franzia o cenho em extrema indignação. - Degradar alguém é brincadeira? Eles me humilham, eles transformam minha existência num inferno.

- Você está sendo dramático.

- Jura? – Recebendo os atentos olhos sobre si, Severus continuou. – Apesar de ser contra as regras, eu encontrei um filhote de Agoureiro durante a aula de trato com as criaturas mágicas. Escondendo em uma pequena caixa dentro da minha mochila, eu o levei para a sala precisa, e cuidei da sua asa quebrada. Embora falem que ele só canta quando prevê chuva, quando entrei na sala para alimentá-lo, encontrei a gaiola vazia e ele sobrevoava cantando quase em agradecimento. Eu não poderia deixá-lo preso, assim, coloquei numa pequena caixa metálica para retirá-lo até a floresta enquanto entardecia. – Mordendo o lábio inferior, pedia para o coração esquecer e detestava como o sangue fervia ao relembrar o ocorrido, não conseguindo parar de tremer em ódio. - O maldito Potter, seu querido amigo, treinava para um amistoso de quadribol. Como se detectasse meu nervosismo, ele, simplesmente, arrancou a caixa das minhas mãos.

Sete dias sem elaOnde histórias criam vida. Descubra agora