Alfonso não dormiu. Não conseguia. Então o olhar dele caiu no sobretudo dela, que ela havia largado na poltrona. Ele se aproximou, abrindo-o, e achou no bolso interno: As duas armas dela. Ele não queria essa vida. Não queria ter que fugir, se esconder. Foi por isso que apanhou uma das duas, tateando os bolsos até encontrar os pentes. Ele ignorou a quantidade. Apanhou apenas um. Demorou até conseguir soltar o pente vazio, mas colocar o novo foi fácil. Encaixou com um "click" baixo. Ele respirou fundo, e olhou sua imagem no espelho. Estava pálido, quase verde. Abriu a boca levemente, colocando a arma ali, e respirou fundo. Segundos se passaram, e ele retirou a arma dali. Não ia morrer... Antes de levar ela. Fora ela quem causara tudo isso. Abriu a porta do quarto devagar, e ela dormia, novamente o anjo delicado largado nos lençóis, os cabelos esparramados, usando o mesmo short e blusa. Estava de bruços, abraçando o travesseiro. Ele se aproximou em silencio e apontou a arma. Ambos estavam parados, ele segurava a arma com as duas mãos, apontando para a têmpora dela: Não havia como errar. Faria isso, encontrariam os dois mortos, colocando assim final ao mito de Alexander Pierce e sua mulher. As mãos dele tremiam. Ele respirou fundo e...
Anahí: Você precisa engatilhar. – Disse, sonolenta, se afofando no travesseiro. Alfonso estancou. Ela suspirou, e indicou com a mão, ainda de olhos fechados – A trava de metal. Encaixe o dedo e puxe para baixo. Vai estalar. – Ensinou. Alfonso olhou. A trava estava lá, como ela dissera, para cima.
Mas Alfonso não engatilhou a arma. Estava olhando-a. Como, meu Deus?! Como o ouvira, como sabia?! Anahí suspirou de novo, se virando de barriga pra cima, tirando o cabelo do rosto. Ela acendeu o abajur da mesa da cama.
Anahí: O que foi, não conseguiu? – Perguntou, os olhos azuis debochando dele. Então sorriu – Oh. Não me diga que não tem coragem. – Disse, parecendo interessada.
Alfonso: Você salvou minha vida hoje. – Disse, desgostoso.Anahí: Eu te coloquei na linha de fogo. – Lembrou. Alfonso rosnou – Vamos lá, eu irrito você. Estou aqui, na sua frente, desarmada. Atire. – Ela abriu os braços, oferecendo o peito, sorrindo – Atire, e eu nunca mais vou lhe incomodar. – Disse, esperando.
Alfonso: Você acha que não sou capaz. – Disse, se tornando raivoso – Eu vou mostrar a você se não.Ele engatilhou a arma e apontou, então do nada havia sido puxado no ar, caindo na cama ao lado dela, que lhe tomou a arma, jogando no chão. Alfonso revidou. A empurrou. Anahí, que não esperava, quase caiu da cama, recuperando o equilíbrio no ultimo segundo e partindo pra cima dele que se lançava pro chão, na direção da arma. O apanhou pelo pescoço e Alfonso se viu puxado de volta pra cama, agora lutando contra o braço dela. Não conseguiu se soltar, então se levantou com a mesma. Anahí riu gostosamente, gargalhando, e ele sacudiu as costas, tentando fazê-la cair, mas só o que conseguiu foi fazer os cabelos dela ricochetearem no ar, e perder o equilíbrio. Anahí se aproveitou e puxou ele de volta pra cama, ficando por baixo, e prendeu as pernas em volta de sua cintura (Lembrando que ela estava nas costas dele, como de macaquinho). Alfonso se debateu, lutou... Mas ela o estava enforcando. Ele não conseguia respirar. Ela viu ele perdendo a força como um peixe que morre sem ar, e ficou olhando o teto. Cada vez mais fraco... Fraco...
Anahí: Posso soltar? – Perguntou, como quem comenta o clima. Alfonso não teve voz, mas respondeu não se mexendo. Ela afrouxou o pescoço dele, que tossiu, puxando ar. Com um movimento ela saiu debaixo dele, passando pra cima, os cabelos caídos em volta do rosto, muito descaradamente sentada no colo dele, amparada em seu peito.
Alfonso: Você debocha de mim, diz que não sou capaz, mas quando eu vou, você não permite. Covarde. – Acusou. Anahí riu.
Anahí: Autsh. Você teve sua chance. Eu ainda te ensinei. – Disse, falsamente indignada.Alfonso: Saia de cima de mim. – Ordenou, uma vez que ela estava muito confortável no colo dele.
Anahí: Porque? Isso excita você, Alfonso? – Perguntou, passando o nariz pelo pescoço dele. Alfonso virou ao rosto.
Alfonso: Saia. – Rosnou, furioso.
Anahí: Me obrigue a sair. – Desafiou.
Alfonso: Você é impossível. – Disse, tossindo em seguida.
Anahí: Pode ser. Agora escute. – Disse,tocando o queixo dele – Se você tentar me matar de novo, eu posso perder a paciência. Meu humor não é sempre tão bom, não tente a sorte. – Aconselhou.
Alfonso: Eu vou morrer de qualquer jeito. Ia me matar depois de terminar com você. – Rosnou.
Anahí: Quem disse que você vai morrer? – Perguntou, tamborilando os dedos – Só vai morrer se me desobedecer. É pratico. – Explicou – Eu entendo você. Todo esse drama com seu cachorro morto e blábláblá. – Ele percebeu que ela queria rir.
Alfonso: Cale essa boca. – Rosnou.
Anahí: Veja, eu mandei você dormir, não foi? Assistir televisão, ler, qualquer coisa. Não tinha mais nada pra fazer do que vir atrás de mim?
Alfonso: Não consegui dormir. Você merecia o tiro que eu ia te dar. – Cuspiu.
Anahí: Foi por isso que você hesitou, tremendo, olhando pra mim? – Perguntou, encostando o queixo no peito dele. Estavam próximos demais. O hálito de Anahí tinha um perfume doce, e os cabelos dela tinham um breve perfume de lilases e rosas. – Veja. Vou lhe dar um presente.
Alfonso: Vai devolver minha vida? – Perguntou, irônico. Anahí riu.
Anahí: Nah. Melhor. – Disse, e se sentou, puxando-o, fazendo-o se sentar. Ela enlaçou as pernas no colo dele, muito intima, estreitando os corpos dos dois – Eu vou ajudá-lo a dormir. – Disse, beijando o queixo dele. Alfonso franziu o cenho. Não havia tocado nela nem em um segundo.
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O Turista (Livro 01)
Adventure"Tudo começou quando ele conheceu uma mulher em um trem." Obra original e completa. Não disponível para download ou adaptações. Todos os direitos reservados.