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Semanas Depois

Naiara Marques- ON

O tempo passou e o fim do ano chegou. Para ser mais exata, o Ano Novo. O dia de nos despedimos de 2018 e receber 2019 de braços abertos e prontos para tudo que vai nos acontecer.

Não me sinto pronta para o próximo ano, creio que será uma segunda parte de 2018 e isso me deixa meio... apreensiva.

Esse ano foi o mais sofrido de nossas vidas. Perdemos muitas pessoas, sofremos, sorrimos, festejamos. Foi o ano mais difícil de compreender.

Sinto que uma parte em mim morreu. Não sei necessariamente o quê. Mas sei que está morta, pelo simples fato de não senti-la mais. Grande parte das minhas emoções sumiram e não sei bem como isso aconteceu. Se foi pelo fato do Rafael ter me feito morrer naquele dia ou pelo fato de ter matado ele.

Na minha adolescência, o Rafael foi muito importante para mim. Tanto emocionalmente como psicologicamente. Me ensinou muitas coisas e foi o meu primeiro amor. Nunca pensei que pudesse sentir algo tão forte como senti naquela época. Era algo tão devastador e bom ao mesmo tempo. Ele tinha o dom de me fazer sentir tão viva em alguns dias, e nos outros, tão morta e maltratada.

Nosso relacionamento era algo tóxico. Aonde o amor me deixou tão cega, que aceitava todas as baixarias que ele me fazia passar. Era tanta humilhação e dor que eu sentia. Tinha vezes que meu coração doía tanto dentro do peito, que chegava à ir para o hospital. Implorava horrores para a enfermeira fazer aquela dor passar. Mas é como dizem: "não existe remédio para aliviar a dor de dentro!".

Relembrar desse passado sombrio aonde me torturei a passar, deixa minha garganta com um nó e uma angústia sem fim. Foi algo que me consumiu inteira mesmo. Que me fez muito mal.

Não me orgulho em dizer o quanto fui tão vulnerável. O como consegui ficar nesse tipo de relação. Mas estava cega o suficiente para enxergar o quão mal aquilo estava me fazendo.

Porém, Deus é grandioso e de bom coração. Me fez abrir os olhos e sair do buraco aonde me enfiei. E estou orgulhosa por chegar aonde cheguei. Mesmo com um passado terrível de se lembrar.

Mesmo com toda a dor e sofrimento que passei, matar o Rafael foi uma das piores coisas que já fiz. Ver o corpo dele, lembrar do corpo dele e ver a mãe dele chorar desolada por perder o filho, me deixou muito mais triste do que antes.

Não sou uma pessoa errada por sentir pena. Mas não sou como o Olavo. Ou como o Diego. Ou como qualquer outro traficante por aí. Não consigo matar pessoas sem sentir um peso na consciência. Foi uma vida que eu tirei e isso me deixa morta por dentro.

Rafael merecia sofrer SIM. Mas com o tempo. E quem daria o troco ia ser a vida, e não eu. Aqui se faz, aqui se paga. Rafael foi péssimo em todos os aspectos.
Péssimo pai. Péssimo namorado. Péssimo vingador. Péssimo amante. Péssima pessoa.

Mas mesmo assim, eu não deveria ter tirado a vida dele. Poderia ter deixado na mão do Olavo, que está acostumado com isso há muito mais tempo. Só que não sei o que aconteceu para eu pegar aquela arma e simplesmente apertar o gatilho.

Não sei como tive coragem de apertar um gatilho...

Fui tirada dos meus pensamentos ao ver uma mão passar na frente de meus olhos, me fazendo tomar um susto.

Vem Comigo 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora