35. GEOVANA

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Estava tão acostumada com a inconsciência que já tratava a escuridão como uma velha amiga que visita sua casa com frequência para pôr a conversa em dia. Apesar de sentir a mente despertando para a realidade, retardei o momento o máximo que pude porque parte de mim estava com medo de abrir os olhos e encarar que Bernardo Persson estava mesmo ali na minha casa.

Tinha por certo que todas as chances entre nós haviam se dissolvido no instante em que embarquei no jatinho-UTI, decidira naquele momento deixar tudo que vivi em Albuquerque para trás e fazer o possível para seguir com a minha vida como ela era antes, embora tenha descoberto que aquilo era impossível. Não podia negar que mudara. Minha experiência e, sobretudo, o sentimento que Bernardo fez nascer em mim anularam qualquer possibilidade de ter a minha antiga vida de volta. Eu não podia viver a velha vida sendo uma nova Geovana.

Abri os olhos por fim. O teto branco entrou em foco e me vi, para meu alívio, sozinha. Teria sonhado aquilo? Visto errado? Com cuidado me pus de pé e caminhei descalça até a porta tentando não fazer qualquer ruído. De lá de baixo podia ouvir a voz dele abafada pela porta da sala. Meu coração deu saltos, ele estava mesmo ali. Como? Por quê? Apressei-me a lavar o rosto, prendi os cabelos com um elástico e calcei chinelos, determinada a descer e encará-lo. Mamãe estava na cozinha, o cheiro de almondegas e batata assada preenchia a casa toda, a porta da sala estava fechada de modo que ninguém viu quando me aproximei. De dentro, a voz de Albert soava abafada.

― O julgamento de Victória será dentro de algumas semanas, talvez seja por isso que ela anda tão tensa.

— Eu não posso imaginar como é o sentimento de ser traído dessa forma. Nunca passou pela minha cabeça ser infiel à Vanessa ou o contrário. — Respondeu Bernardo e percebi que havia pegado a conversa pela metade. — Lealdade é uma das coisas mais importantes pra mim, então, Albert, se a sua preocupação é que eu machuque sua irmã dessa forma, tem a minha palavra que não vai acontecer.

Meu irmão não respondeu. Respirei fundo e vesti a expressão mais fria que consegui ao aparecer à porta e encarar os dois sentados frente a frente. Albert com uma expressão séria avaliando cada movimento de um Bernardo tenso que foi o primeiro a me ver, ficando de pé no mesmo instante. Meu irmão virou a cabeça na minha direção e me ofereceu um sorriso que retribuí, caminhou na minha direção e beijou-me no rosto sussurrando um "tudo bem" antes de me deixar a sós com o médico.

Sabia que ele ficaria por perto, se eu murmurasse seu nome viria em meu socorro e colocaria Bernardo para fora. Não que isso tenha passado em algum momento na minha cabeça. Precisei de muito esforço para olhá-lo nos olhos, em um rompante, todos os sentimentos que vinha reprimindo desde que viera embora voltaram com uma violência assustadora e tive de usar todo o meu autocontrole para não desmoronar. Para tal, agarrei-me à mágoa. Estava chateada pela forma como Bernardo lidara com meus sentimentos — e com os dele próprio — se conseguisse me manter sob aquele pensamento, poderia agir de modo firme e manda-lo embora.

Um Novo Começo (2ª Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora