22. BERNARDO

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— Férias? O senhor?! — Rosana repetiu a pergunta com espanto. — Não me diga que está doente, doutor?

— Não é nada disso, Rosana, estou perfeitamente bem. — Garanti. — Apenas preciso de tempo extra para uma especialização e uma paciente que precisa de certa exclusividade.

— Ah, vai tirar férias para trabalhar! — Ela parecia aliviada. — O senhor quase me assustou, doutor!

Passado o choque os outros voltaram ao trabalho e Rosana me fez assinar uma infinidade de papéis prometendo me avisar assim que o novo médico fosse convocado o que devia levar em torno de uma semana. Quando deixei a sala ainda pude ouvir as especulações do lado de dentro:

— Acha que é aquela garota da ala VIP? — Quis saber uma garota que não reconheci a voz.

— Quem mais seria? — Respondeu Rosana. — Viu como ele é só atenção com ela?

— Que garota sortuda! Soube que ela mora na mesma casa que ele. — A primeira voz comentou. — Que magia uso pra trocar de corpo com ela?

— Ah, lá se vai meu sonho de fisgá-lo! — Lamentou-se outra voz.

Ri baixinho e segui meu caminho, aquelas enfermeiras não mudavam nunca. Fiz uma ronda pelos pacientes do pós-operatório realizando alguns exames e pedindo outros aos enfermeiros e residentes que me acompanhavam, ainda precisava deixar algumas coisas em dia na administração se ia mesmo sair de férias, minha política era sempre pacientes primeiro, burocracia depois. Passei ainda na UTI para ver alguns pacientes em coma induzido, cada menor avanço ou retrocesso podia ser fatal ou crucial.

Fiquei um longo tempo na frente do quarto de Geovana antes de entrar de fato, não sabia como falaria com ela ou o que diria, sempre que pensava na maneira como chegara ao hospital, tão perto da morte outra vez, sentia espasmos de pânico. Fazia tão pouco tempo que nos conhecíamos, ainda sabia tão pouco sobre ela, mas me importava tanto com ela que era como se fizesse parte da minha família a vida inteira. Deslizei a porta para o lado e ela virou a cabeça na minha direção, estava sentada, o semblante tão pálido que parecia um fantasma.

Por um tempo que pareceu eterno fiquei parado observando-a respirar, como se contemplasse o milagre da vida pela primeira vez, fiquei perto de chorar, mas me contive. Era ergueu uma sobrancelha enquanto me olhava, mas não disse nada como se esperasse me recuperar mesmo que não soubesse o que se passava na minha mente. Uma espécie de alívio percorreu meu corpo e sorri, me aproximando devagar — apesar de desejar correr e abraçá-la agradecendo por estar viva —, temia que uma reação impulsiva tivesse um resultado desastroso como da última vez, não iria arriscar feri-la nunca mais.

— Deus... um dia você ainda vai me enlouquecer! — Suspirei sentando ao lado dela e segurando sua mão, estava gelada.

Havia pelo menos mil coisas que queria dizer, mas todas as palavras pareciam ter desaparecido da minha mente. Geovana não disse nada, as cordas vocais ainda estavam machucadas pelo número de vezes que foram forçadas por seus gritos durante as alucinações, sem contar nas paredes da garganta que expeliram vômito e sangue várias vezes ficando irritadas no processo. Não a olhei nos olhos a princípio, perto como estávamos sentia que não era prudente fazê-lo.

Um Novo Começo (2ª Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora