24. GEOVANA

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Quando Bernardo saiu com Brígida, ouvi Gina dar um suspiro de tristeza e voltar para a cozinha a fim de arrumar as coisas. Levantei-me após um tempo tentando processar tudo aquilo, a pior parte era que fazia sentido e uma parcela de mim não queria que fizesse. Mas o que era aquilo? Ciúmes? Ridículo. Que direito tinha de ter ciúmes de Bernardo, não era nada mais que paciente dele. Meneei a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos e segui até a cozinha onde Gina começava a colocar os pratos na lava louças, passei a ajuda-la limpando a mesa em que comêramos.

— A que horas você vem pra cá, Gina? — Perguntei para quebrar o silêncio inquietante que tornava o ar da casa sufocante.

— Às seis. — Informou. — Normalmente o menino sai cedo para o hospital, se não vier logo ele sai de casa sem comer ou com duas torradas e água.

— Ele não sabe cozinhar? — Franzi a testa.

— Claro que sabe! — Riu ela. — Cozinha melhor que eu, inclusive. Acontece que sua disposição para cozinhar para si mesmo é tanta quanto a de tirar uma folga do trabalho.

— O que ele gosta de comer? — Fazia alguns dias que sanava minha curiosidade sobre Bernardo com perguntas para ela.

— Raramente ele come em casa, passou a vir mais depois que você chegou. — Contou ela. — Normalmente ele prefere comidas leves, mas quando era criança sempre foi louco por massas, pãezinhos doces, lasanhas, bolos. A dona Raquel, mãe dele, sempre foi muito rigorosa com a alimentação dele.

— Os pais dele também são médicos?

— Sim. A mãe é cardiologista e o pai cirurgião plástico e empresário. Ambos são muito famosos no ramo médico, dona Raquel dá aulas em uma universidade de medicina em Boston, mas já trabalhou muito tempo dando aulas no Reino Unido em universidades prestigiadas. — Explicou. — Se a relação dele com a mãe não é muito boa, com o pai, seu Edgar, é ainda pior.

— Por quê? — Coloquei os restos de comida na pia para triturar. — Ele não gosta do pai?

— Seu Edgar queria que o filho estudasse administração para cuidar dos negócios dele, mas o menino se recusou. Escolheu oncologia para frustrar os pais e para salvar vidas, como ele mesmo diz, de verdade. — Deu uma risada leve.

Gina ainda me contou que os pais de Bernardo eram mais focados no prestígio que nos pacientes propriamente e isso o irritava muito. Também lhe perguntei a respeito dos seus próprios filhos, ela tinha três, Claire que estava estudando turismo, Demeter que estudava arquitetura e Paul formado em relações internacionais, trabalhava na embaixada americana na França — este, ela me disse, conseguiu se formar em grande parte com a ajuda de Bernardo que lhe conseguiu um estágio numa empresa de prestígio.

Apenas os mais novos moravam com ela, mas os três filhos eram seu maior orgulho, tanto quanto Bernardo que ela considerava como seu filho também. O mais velho se casara com uma senhorita francesa que Gina ainda não conhecia pessoalmente, mas sabia que já tinha um netinho chamado Louis. Confessou que Bernardo lhe oferecera diversas vezes férias para que passasse um tempo com o filho na França, mas ela sempre recusara porque sabia que, se fosse, não teria ninguém para lhe puxar a orelha sobre trabalhar demais e, além disso, ele comeria pessimamente todos os dias.

Um Novo Começo (2ª Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora