23. ALBERT

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Em um fim de semana três meses após o desaparecimento de Geovana, decidi visitar Victória. A mãe dela havia encontrado a minha no supermercado e contara do comportamento incomum da filha, que havia se trancado no quarto por várias semanas e, de uma hora para outra, decidira sair da cidade para um curso intensivo em San Diego.

Era natural que Vic assumisse um comportamento depressivo sobre o desaparecimento da melhor amiga, era como se a ficha finalmente tivesse caído. No início, estranhei o fato de ela não ter ficado abalada, apenas saiu para curtir com os amigos como se Geovana fosse voltar para casa a qualquer momento, contudo, conforme as semanas iam passando e não havia sinal, ela ficava mais e mais abatida, quase paranoica, até chegar ao ponto de isolar-se. Como não era muito próximo dela como Geovana, não sabia muito que fazer para ajudar, quando mamãe me contou sobre a conversa com a senhora Macfaller senti-me culpado por não oferecer nenhum consolo e, de alguma forma, ter contribuído pela omissão para o estado depressivo dela.

Suzana Macfaller atendeu a porta com uma expressão preocupada, estava ausente do trabalho havia duas semanas para cuidar da filha que se recusava a ver um psicólogo. Ela era gerente de marketing de uma empresa de cosméticos, provável razão para que Victória fosse tão vaidosa sempre, por isso, quando entrei no quarto e a vi, tão pálida e apagada, quase não reconheci a garota que vivia às voltas com a minha irmã insistindo para passar no shopping e ver as últimas novidades da Marcy's.

Ao contrário do quarto da minha irmã, o quarto de Victória era uma confusão de rosa e lilás. O papel de parede tinha grossas faixas que alternava entre as duas cores, o piso era revestido por um carpete branco, próximo à janela havia uma poltrona de couro branco com uma almofada em forma de flor, ao lado da janela ficava uma escrivaninha cheia de livros, fichários e porta-canetas quase vazios, a cama ficava ao lado da porta junto do criado mudo com gaveta fechada à chave, um armário ocupava toda a parede do outro lado da cama e, ao lado da poltrona e da janela, ficava um rack com um aparelho de TV e DVD, alguns DVDs na parte de baixo estavam desorganizados e, em frente ao móvel havia um tapete cheio de almofadas redondas e coloridas. Todos os móveis eram brancos com exceção da escrivaninha que conservava a cor escura e envernizada da madeira com que fora construída.

Vic estava na poltrona, abraçava a almofada de flor enquanto olhava pela janela, apática. Percebi as malas feitas próximas ao armário eram cinza com os zíperes em lilás. Sobre a escrivaninha, notei, havia uma foto dela com a Geovana na formatura do ensino médio. Chamei o nome dela, mas não se mexeu para me olhar, aproximei-me e, por alguma razão, lembrei da minha irmã meses atrás, presa na dor da perda, incapaz de sequer verbalizar o que sentia.

— Vic? — Chamei-a novamente e, dessa vez, ela virou o olhar na minha direção. — Sua mãe disse que você está indo embora... vim me despedir.

— Ah... sim... — As palavras eram tão altas quanto sussurros, pareciam vazias e sem força. — Obrigada, Al.

— Sei que deve estar sendo difícil pra você, Vic. Está para todos nós... — Consolei-a segurando sua mão.

Um Novo Começo (2ª Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora