19. GEOVANA

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Era tarde, os pálidos raios poentes lançavam cores alaranjadas e douradas pela janela, os braços de alguém me envolviam fortemente enquanto seus lábios se moviam contra os meus, era quente e despertava sensações intensas em todas as terminações nervosas do meu corpo, eu me sentia... segura. Mas, quem era ele? Por que estava me beijando? Aquela ternura era real? Então veio a dor, uma pontada tão forte na cabeça que era como se estivessem martelando um prego no meu crânio, empurrei Bernardo para longe de mim, meu coração batia de maneira tão louca que a pulsação era mais alta que qualquer outro som à minha volta, pressionei as mãos contra as têmporas com força, minha visão embaçou e não sentia nada além da dor alucinante intensificada por um zumbido agudo crescente, não tenho certeza se gritei, não tenho certeza se Bernardo estava falando comigo, não via nada.

A imagem desapareceu como se desintegrasse diante de mim, o cômodo mudou para uma sala de estar com papel de parede vintage vermelho cheio de arabescos em dourado, havia um caixão no centro, a tampa aberta mostrava um homem pálido cujo rosto não reconhecia, os cabelos eram castanhos, os lábios estavam descolorados em um tom estranho entre o branco e o roxo. Então essa imagem também desapareceu e veio a velha memória conhecida, um beco escuro, carros estacionados dos dois lados, a iluminação precária que só cobria parte do local, a música alta que vinha do prédio atrás do homem cujo rosto não conseguia ver com clareza, mas ao contrário das outras vezes ele estava em pé diante de mim, não havia uma mulher sem rosto segurando seu corpo morto e ensanguentado, seus lábios se moviam, mas não conseguia entender o que me dizia, então a bala atravessou o seu peito e espirrou sangue em mim, levei um tempo para entender o que estava acontecendo...

Então acordei.

Era o mesmo quarto em que estava com Bernardo há... quanto tempo? Aturdida me questionei se o encontro realmente acontecera, se as imagens na minha mente eram reais, o que houve comigo? Meneei a cabeça, mas senti um enjoo forte e parei, a luz acima da cama estava ligada, mas o resto do cômodo estava engolido pela escuridão o que me dizia que era noite. Eu estava sozinha, lembrava muito vagamente do que havia acontecido, as imagens, a sensação de derrota e cansaço no ponto de ônibus, a voz da senhora do escritório de advocacia, "fantasma", ela dissera. O olhar intenso de Bernardo, a sensação do toque dos seus lábios macios contra os meus, não sabia o que daquilo tudo era realidade e o que era fruto da minha mente, tudo se misturava em uma confusão de dor e angústia.

O som da porta abrindo me fez virar a cabeça naquela direção a tempo de ver Alice com uma expressão séria que se suavizou a me ver acordada. Ela se aproximou cautelosa da cama e checou o soro, notei que não voltou a me olhar como se receasse qualquer palavra que pudéssemos trocar, aquilo me intrigou, desde que acordara e durante o tempo que passei no hospital, ela era uma das poucas pessoas além da doutora Swan com quem conseguia conversar.

— Alice... — Tentei falar, mas minha voz soou grave e áspera, a garganta doeu horrivelmente como se ao falar navalhas cortassem as paredes internas do meu pescoço.

Um Novo Começo (2ª Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora