31. ALBERT

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Um mês atrás...

Minha cabeça parecia afundar contra o travesseiro como se pesasse uma tonelada. Se as pessoas tivessem consciência real do quão horrível é uma ressaca — principalmente a de vinho — nunca levariam o segundo copo (ou taça) à boca. Mexi-me devagar enquanto tentava focalizar o quarto em que estava. Não o reconheci. As paredes eram vermelho-vivo, os móveis tinham ar provençal e eram todos de cor branca. Havia uma cômoda abaixo de um espelho ovalado e cheio de arabescos na moldura fixado na parede, a cama era de casal cercada por um dossel extravagante, ao lado dela um criado mudo com gaveta, uma poltrona e a porta da sacada. Vislumbrei uma porta que parecia levar ao banheiro e, mais ao lado, uma espécie de saleta. Parecia um quarto de hotel.

Precisei de muito controle para não pular de susto quando me dei conta que estava nu e, deitado ao meu lado, um cara parecendo ter a mesma idade que eu dormia pesadamente com o lençol cobrindo-lhe as nádegas e o torso desnudo livre. Tinha cabelos escuros, a barba rala dava um ar elegante e despojado, cílios longos e um corpo em forma. Minhas roupas estavam espalhadas por todos os lados, exceto a camisa que parecia ter desaparecido, por isso levou algum tempo para que as recolhesse e descobrisse que a porta que vira não levava ao banheiro, mas a um closet de executivo. Atravessei a saleta segurando a pilha de peças em frente da minha intimidade numa tentativa ridícula de escondê-la. Um conjunto de sofás de couro marrom, uma estante com TV, aparelho de blu-ray, alguns livros e DVDs aos quais não prestei atenção, uma mesa de centro com tampo de vidro e algumas revistas financeiras sobre ela. Mais ao lado, no final do quarto, havia outras duas portas, uma levava à saída e a outra ao banheiro.

Enquanto me vestia tentava recordar como fora parar ali e, sobretudo, que lugar era aquele. Não tinha qualquer lembrança daquele cara na cama. Meu celular ainda estava no bolso da calça e, ao liga-lo, vi que havia vinte e nove chamadas perdidas da minha mãe. Eu devo ter enlouquecido! Pensei. Ainda zonzo e muito enjoado, lavei o rosto várias vezes enquanto forçava a memória a trabalhar na reconstituição dos meus passos na noite anterior.

Houve uma festa na empresa de advocacia na qual era estagiário para a faculdade, lembrava-me que acontecera no Lovecraft Bar, na 421 Ave. Porém, não estava com clima para festa e decidi que iria para casa, mas fui advertido pelo meu supervisor que deveria comparecer uma vez que, com meu ganho de causa no primeiro trabalho que me fora confiado, ganharia um status de membro júnior coisa pela qual havia trabalhado com afinco no último ano. Assim, optei por deixar de lado a angústia — e a culpa por fazê-lo — e me dar uma chance de diversão. Algo ao qual não sou de nenhuma forma propenso. Sempre fui o tipo quieto, não gostava de festas e evitava reuniões barulhentas o máximo que podia. Preferia a calma e a metódica dos meus estudos silenciosos, mas há uma primeira vez para tudo. Ou uma segunda para ser mais franco.

A primeira vez que encarei uma bebedeira foi na festa de calouros na faculdade. Ao descobrir que havia sido aceito em direito achei que valia deixar meu comportamento "certinho" de lado e provar o que os demais chamavam de diversão. Grande erro. No dia seguinte estava tão enjoado e grogue que prometera a mim mesmo nunca mais encostar em um copo de álcool na vida, promessa que mantive até a noite anterior quando me vi rodeado por meus colegas de escritório, alguns aperitivos e um vinho doce cuja marca não prestei atenção. As risadas aos poucos tornavam-se vívidas na minha memória, meu supervisou anunciara minha "promoção" e a maioria da equipe comemorou, claro que nem todos lá gostavam de mim, mas procurava manter o mínimo de educação com esses últimos de modo a não piorar sua antipatia.

Um Novo Começo (2ª Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora