20. BERNARDO

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Respirei fundo pela décima vez enquanto encarava meu reflexo no espelho do lavatório da sala de troca. Era um espaço pequeno com uma mesa de cerâmica, alguns materiais de higiene, as paredes revestidas de azulejos brancos a mesma cor de todas as paredes do lugar, o pequeno espelho estava fixado a uma altura média acima da pia e, do outro lado da porta, atrás de mim, podia ver os grandes armários de aço inoxidável em que se guardavam as túnicas verdes de cirurgia e os latões de lixo, também de aço, onde descartávamos luvas, máscaras e toucas usadas nos procedimentos.

Sabia que a partir do momento que cruzasse a porta da sala de troca teria de esquecer qualquer coisa relacionada à minha casa e a pessoa que deixara lá tomando café da manhã, feliz por ter resolvido a questão silenciosa que pairava sobre nós e, ao mesmo tempo, constrangido pelas perguntas não feitas; precisaria focar unicamente no paciente que estava sobre a mesa com um tumor maligno no pâncreas. Tumor esse que eu era responsável por remover. Era uma cirurgia de risco, havia debatido o caso com Clark e o conselho por um bom tempo alguns dias antes, estávamos preocupados com a localização do tumor, que alojara-se no corpo do pâncreas, e a possibilidade de ter danificado a artéria celíaca, o que levaria o paciente a óbito por hemorragia durante o procedimento.

∞Ж∞

Semanas antes

— Os riscos são grandes, Persson, não podemos arriscar uma intervenção nesse caso. — Vetou Clark analisando os documentos sobre a mesa.

— Ainda assim, há vários tipos de procedimento que caberiam no caso, Clark, eu poderia fazê-lo.

— Acho que o doutor Clark tem razão, Bernardo. — Um dos conselheiros da junta manifestou-se, era Edward Lewis, cirurgião prestigiado. — Mesmo um oncologista profissional como você pode vir a perder o paciente caso a artéria celíaca se rompa e, claramente, ela está comprometida. É melhor continuar com a quimioterapia e a radioterapia.

— Não vai ter resultados! — Objetei frustrado. — Se esperarmos mais tempo as chances de que se espalhe ainda mais e ele venha à óbito são triplicadas!

— Racionalize, Persson! — Esbravejou Clark. — Não há procedimento possível para o caso desse homem, uma invasão só agravaria o risco de perder o paciente! É impossível uma excisão, nem mesmo você pode mudar isso!

— Estou dizendo que eu posso operá-lo, Clark! — Retruquei. — Já fiz antes! Radioterapia e quimioterapia não vão resolver, o fígado não vai aguentar! Pela dificuldade de alcance do tumor, posso fazer um enxerto da artéria.

— Se fizer isso o fígado ficará sem fornecimento de sangue. — Apontou Lewis.

— Posso usar a artéria mesentérica. — Argumentei. — Por favor, senhores, não é como se eu fosse um residente ávido pela primeira cirurgia! Estou dizendo que sou capaz de operar esse paciente, posso salvá-lo, já expliquei todos os riscos e complicações do processo ao responsável e recebi aprovação para prosseguir.

Um Novo Começo (2ª Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora