Êxtase

Capítulo 06

Sabe o princípio de ter expectativas quebradas? Senti isso quando descobri que Jeon não era uma criança indefesa, e acho que minha surpresa juntamente a certa tristeza veio porque se ele fosse as coisas realmente seriam mais fáceis.
Mais admito que consigo superar as  rapidamente demais, Jimin diria que é um problema aceitar tudo de bandeja, mais preciso do emprego então não me vejo com outra alternativa, Jungkook parece ser legal, mesmo que a pouca base da personalidade aparente ser de alguém de olhos tristonhos porém, curiosos demais.

O acho fofo no meu ponto de vista.

Também não vou esconder que o achei fascinante de certa forma.
Seria estupidez dizer que me atrai pelos olhos vibrantes e meio trêmulos?
Não me leve a mal, não é como se eu estivesse interessado nele porque ele é doente e tudo mais, mas também não é como se eu não pudesse me interessar! atração é romance são coisas diferentes...

— Se apaixonar pelo garoto não me parece algo inteligente.

Jimin comenta após pegar uma maçã da geladeira, parece que consegue ler meus pensamentos essa criatura.

— Quem está se apaixonando aqui? _ Perguntei recebendo um olhar de escárnio. — Conheci o menino ontem, não tem sentido eu estar apaixonado, nunca viu frozen não?! Elsa diz que não casamos com o primeiro que aparece.

— Taehyung, conheço você mais do que a mim mesmo, sei que uma hora ou outra você vai começar a gostar dele, vai se decepcionar possivelmente; mas, não deixo de apoiar de qualquer modo, a partir do momento que entramos na vida de alguém nós tornamos importante para essa pessoa.

Jimin comenta, pegando os documentos e deixando-me plantado sobre a sala.
Ele tem razão, em todos os aspectos pra ser exato, sou um idiota porque é provável eu estar mentindo pra mim mesmo durante esse percurso.
Mas não sei... Não sou dono do futuro, entendo o'que acontece mas não controlo.
Cuidar de pessoas com alguma deficiência não é nada simples, precisa ter dedicação, paciência e acima de tudo alto controle, penso em quantas oportunidades Jungkook já perdeu, apenas pelo preconceito ou por algo do gênero.
Penso em quando criança, na escola, os milhares de capetinhas com carinhas gordas o criticando "fale direito" e logo imagino seus olhos de jabuticaba marejados de tristeza e até mesmo uma certa raiva; raiva essa não dos capetas encarnados em gente, mas sim de si próprio.

Respiro fundo decidindo ir trabalhar de uma vez.

A casa dos Jeon hoje me parece movimentada, acho que a mãe de Jungkook vai ficar no escritório o dia inteiro, bem, pelas fofocas que ouvi passarem é mais ou menos isso.
Me pergunto se o menino tem proximidade com os familiares, porque ouvi-los falando que amam o filho é algo natural, mas ouvir Jeon respondendo de forma recíproca é outra.

— Você parece distraído...

Assusto-me um pouco com a voz grave de Yoong o jardineiro, ele caminha de forma lenta, encarando a correria dos empregados antes de voltar o olhar para meu rosto, há luvas em suas mãos, a roupa um pouco suja de terra, não demoro muito até ver Namjoon passando também com luvas sobre as palmas, uma máscara e os olhos concentrados aos fundos da cozinha.
Abro a boca, as questões que quero fazer não saem porque não sei realmente se serei respondido… ou se o jardineiro sabe me responder.

— Pergunte. _A voz baixa ressoa e me sinto confuso. — Notei sua atenção em Namjoon.

— Jungkook está bem? _Seus olhos também vão em foco ao maior.

— Ele teve que fazer alguns exames hoje, o médico da família está aí.

Concordo, mesmo que meus olhos se arregalam pela resposta.
Sigo então meu caminho, subindo as escadarias que vão ao quarto do rapaz, batendo de leve na porta e ajeitando o uniforme antes de simplesmente adentrar.
Os olhos do médico me tem atenção, olhos azuis claros, os fios castanhos são medianos, lisos, e digo que consegue ser da altura de Namjoon ou até maior.
Aproximo-me; o corpo de Jeon deitado na cama, coberto, adormecido no entanto.