Capítulo 26

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Quando aqueles olhos lindos me analisaram pela primeira vez, mostrando-me que não eram infantis como pensei, jurei que estava maluco.
Foram semanas me questionando se valeria realmente a pena cuidar de um menino cujo a idade não era lá tão afastada da minha.
Me questionei se seria um emprego bom ou cairia em um golpe qualquer… e com o passar dos dias, semanas e até meses, acabei conhecendo uma das pessoas mais incríveis que já passaram pela minha curta vida até agora.

Jungkook…
Doce e totalmente único.
Os olhos de jabuticaba grandes e vibrantes com uma espécie de luz incrível no meio, os cílios grandes e as bochechas rosadas, lindo, em todos os aspectos da palavra.

A forma que me apaixonei poderia ser considerada um crime, mas… acho que todo mundo poderia se apaixonar por Jeon Jungkook se o conhecesse diretamente.
Se visse as manias… como quando sentava-se acima dos pés, ou arregalava os olhos a mais para prestar atenção em algo, o franzir do nariz quando murmurava ou gaguejava as palavras.
Jimin poderia me apedrejar, acho que..m agora depois desse tempo acredito que ele não mais o faria, contudo no período que fiquei na casa dos Jeon's acredito que tenha tido vontade.
Talvez ele tivesse razão.
Eu não havia saúde, mesmo assim queria cuidar de alguém que se tornou meu porto seguro, uma espécie de pessoa especial onde eu ia para poder me acalmar das situações.

Pensei dezenas de vezes se esse amor que acabei construindo não foi porque Jungkook realmente estava doente, e peguei a pena ou algo do gênero e aumentei as expectativas dela para essa paixão, contudo, acredito que não…
Realmente o amava…
E sei disso porque me faz falta.
Ele queria tentar permanecer vivo, por nós, pela vida, pelas incontáveis coisas e sensações que estavam por vir.
Lutou, batalhou e se doou a apenas tentar, mesmo que no fundo meu menino sempre soubesse que não iria vingar.
Ele sabia melhor do que qualquer pessoa que as chances, mesmo sendo boas, não eram excelentes e que quando o corpo dá sinais, é necessário entender.
Algumas doenças podem levar a pessoa a ter disartria… pesquisando sobre elas descobri uma que a família de Jungkook já havia conhecimento antes.

Huntington.
Na doença de Huntington, as partes do cérebro que ajudam a suavizar e coordenar os movimentos se degeneram. Durante os estágios iniciais, a face, o tronco e membros podem se mover involuntariamente e rapidamente.
Fazer caretas, flexionar os membros e piscar mais frequentemente tendo os movimentos descoordenados e lentos, o corpo todo é afetado, dificultando extremamente o caminhar, sentar, comer, falar, engolir e até mesmo vestir-se.
Frequentemente ocorrem alterações mentais antes ou quando movimentos anormais se desenvolvem. Essas alterações no início são sutis. Mas aí chega a irritação, ou a situação de excitação e agitação, a falta de controle dos impulsos e até mesmo a situação de se tornar promíscuo.

Acho que no final de tudo, ele sabia disso.
Eu… de certa forma queria me fazer de desentendido, vendo a situação tornar-se pior e mesmo que não necessariamente vendo, sabendo sobre.
Aquele dia na clínica quando o beijei foi um adeus.
Não havia como continuar sabendo que a presença seria sinônimo de dor, vê-lo chorando apertou meu peito tão imensamente.
Me senti um imbecil por ir embora, um covarde com o rabo entre as pernas, aceitando a partida de um amor que não deveria deixar partir, que deveria sim ter apertado sobre meus braços e acolhido até o último minuto; contudo, o quão mais doloroso seria ficar?
O quão totalmente forte eu conseguiria ser para ver Jungkook se esquecendo, se sentindo amedrontado e às vezes irritado por não conseguir fazer as coisas simples sozinho? 
Foram mais alguns meses, 4 exatamente que passei ao seu lado.

Ele voltou da clínica, o visitei como amigo.
Ouvi os murmúrios pela casa, seus pais chorando e até mesmo presenciei sua mãe irritada dizendo sobre uma possível separação.
Me senti pequeno perante a todos os momentos que Yoongi precisou de segurá-lo com a ajuda de Namjoon e mais alguns enfermeiros, pois Jungkookie tentava acabar com a dor que sentia de alguma forma.

Não havia mais soluções.
Lembro-me vagarosamente da vez que sentados em sua cama, seu corpo suado pendeu-se para o lado, a mão esquerda pousou sobre minha coxa, e um sorriso pequeno bordou sobre seus lábios antes do seu agradecimento sair quase num sussurro rouco.
Ele repetiu o ato três vezes seguidas, e quando o questionava o motivo, ele dizia apenas “por ficar” daquela forma que seu nariz acabava franzindo ao mencionar.
Como eu poderia ir embora? Havia pensado.
Contudo, foi depois da notícia da sua ida ao hospital que resolvi não aparecer.

Jimin que atendeu o telefonema, os olhos dele chegaram aos meus meio estranhos quando desligou a chamada e sentou-se ao meu lado.
Eu já sabia, não havia como não, porém lembro-me totalmente do que repercutiu de minha boca.

— É da casa deles, não?_A mão esquerda de meu amigo apenas alcançou a minha palma descansando.

— Jungkook piorou e agora está internado, foi Namjoon que ligou para avisar.

Não me ouve respostas, e sei que fiquei minutos parado, com a atenção em nada específico.

— Você quer ir vê-lo?

— Não…

Foi o que disse.
Amedrontado por ser talvez a última vez, neguei.

— Você deveria ir…

Jimin me respondeu, ele apertou minha palma de forma meio acalentadora, e mesmo que minha coragem toda tivesse saído do meu corpo, da minha essência, no final aceitei.
Era o cair da noite, quando estacionamos a moto na entrada do hospital, pude entrar depois de alguns minutos de espera e meu amigo foi comigo.

Encontrei sentado naquelas poltronas ao lado de fora do quarto Namjoon e seus olhos inchados, por mais que quiséssemos falar centenas de coisas um ao outro, não tínhamos nada oque comentar naquele segundo.
Ele, que sempre pareceu tão forte, parecia detonado… como ficaria eu quando entrasse através daquela porta? 

Eu descobriria… só ainda não sabia disso.
Estava quieto demais, a ponto que tive certeza que doparam meu menino.

Jimin me deu a coragem que não habitava meu corpo quando me puxou pelo pulso, adentrando primeiro.
A expressão de surpresa ultrapassou seu rosto, chegando ao meu em minutos.
O corpo do meu garoto deitado naquela maca, centenas de aparelhos que talvez tentassem o manter vivo, as marcas das tentativas de descanso, a magreza que ultrapassava um limite da minha própria cabeça, e os lábios antes vermelhos vívidos, agora ressecados.
Contudo… os cabelos ainda eram dele, os olhos enormes de jabuticaba, mesmo que levemente sonolentos ainda eram dele.

O sorriso de dentes proeminentes que sempre amei e para sempre vou amar, era dele, de Jungkook.
Por Deus! 
Ainda era o rapaz que me apaixonei deitado ali, me analisando,  talvez em um célere de segundos lembrando-se de quem de fato eu era, ou apenas sorrindo por algum pensamento que nunca saberei.
Eu queria poder ter dito algo para acalentar os pais dele que estavam ali ao lado, Junyan com a feição perdida segurando a mão do seu filho, enquanto sua mãe chorava sentada na poltrona.

Não me recordo quando tempo fiquei lá, más lembro-me que me aproximei, afastei os cabelos dele para o lado e o beijei a testa, sussurrei algumas lembranças que fizeram seus pais saírem da sala, mas quando eles voltaram, o médico também, dizendo que precisava ser feito.

Iriam desligar os aparelhos.

Foi nesse momento, que me despedi do meu garoto, do meu pequeno raio de êxtase que chamava-me dê Andrômeda.

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⏰ Última atualização: Jan 13 ⏰

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