Êxtase

Capítulo 17

Um bocejo escapa-me ao que remexo sobre a cama, os meus olhos se abrem com cautela; meio atordoado noto que Jungkook não está mais ao meu lado.
Dormimos juntos, e dizer tais palavras ou pensar nelas não seria dessa mesma forma se fosse a alguns meses atrás.
Pensar que realmente dormimos juntos, que a palavra dormir tem o significado realmente explícito ao sono, é algo novo no meu campo de visão.
Saber que o meu garoto tem sentimentos recíprocos aos meus é realmente uma coisa puta legal.

Levanto-me, ajeitando a cama de casal e passando as mãos sobre as roupas amarrotadas, suspiro baixo e direciona-me ao banheiro; o cheiro de baunilha está presente, nunca parei verdadeiramente para observar os detalhes daqui, as paredes claras, o azulejo com detalhes de flores azuis, o tapete pequeno, fofo e a escova de dente infantil posta dentro de um copinho plástico.
Jimin costuma dizer que observar profundamente as pessoas, faz você apaixonar-se pelos detalhes dela, sempre achei isso conversa fiada, porém agora, vejo verdade no que ele disse.
Olhar o banheiro de Jungkook faz-me acreditar realmente que ele é um menino doce e gentil como todos os funcionários me dizerem quando vim trabalhar; claro que o meu garoto acabou-me confirmando isso, mesmo que vez ou outra a sua voz murmura palavras de duplo sentido, ou o seu olhar ganha um tom a mais de ousadia, ainda é difícil não olhar para ele e automaticamente pensar "Nossa que garoto angelical."

Saio do quarto, andando pelos corredores silenciosos e me direcionando a cozinha, onde Yoongi  parece muito ocupado em sintonizar uma rádio.
Trato de pegar uma xícara de café, e encarar a menino por alguns segundos.

— Onde todo mundo se meteu?

— Os pais de Jungkook o levaram para o médico, ele tem exames de rotina, e pelo que andei ouvindo pelos cômodos ele vai começar novamente a aprender a dizer as palavras direito com um fonoaudiólogo.

Ela suspira baixo, deixando o rádio de lado e se aproximando para pegar um dos biscoitos do pote.

— As crises dele não vão passar totalmente porque tá em tratamento ainda._ O comentário se torna baixo ao que outros funcionários passam pelo cômodo. — Mas a fala dele provavelmente será corrigida, além de que os outros problemas que podem aparecer futuramente seriam anulados.

— Quais são os riscos de erro?

A minha voz sai mais grave que o comum e Yoongi desiste de comer os outros biscoitos para me analisar melhor, automaticamente junto às mãos em cima do balcão, evitando encará-la novamente.
Quando criança, ainda morando em Daegu lembro-me da senhora Park mãe de Jimin e dos problemas de saúde que ela acabou a desenvolver com o tempo, os tratamentos começaram a surtir efeitos positivos, mas também teve os efeitos colaterais, e quando os médicos propuseram um método mais avançado, lembro-me de Jimin comentar que as coisas poderiam ficar mais complicadas, depois de dois meses no hospital, o câncer havia sido curado mas senhora Park atrofiou as pernas, e mesmo com toda a fisioterapia ela não voltou a andar.

— Não sei quais seriam os efeitos colaterais de tantos comprimidos Taehyung, mas Jungkook está disposto a passar por isso, o que é algo ótimo comparado a antes que ele chegará a comentar sobre a morte e até mesmo escolheu o próprio caixão.

Assusto-me com as palavras, vejo os seus olhos repletos de lágrimas, quando penso em perguntar mais sobre o assunto, sou interrompido por Minho que entra na cozinha.

— Estou a pensar seriamente em fazer um bolo de chocolate depois do almoço, kookie pediu-me isso mas precisei contar à senhora Jeon antes.

Ele comenta indiferente, aproximo-me cauteloso e com um cruzar de braços, suspiro fundo.
Não sabia que Jungkook tinha uma visão de morte já formada a ponto de ir comprar o seu próprio caixão, isso é assustador e mórbido.
Como os seus pais concordaram com um pedido assim?
afasto-me, indo até o meu próprio quarto de empregado, procurando dentro da mochila pelo telefone, preciso conversar com Wendy.

(...)

Complicado, essa é a palavra que rodeia os meus pensamentos. Debruço-me sobre o batente da janela do segundo andar, prestando atenção quando o carro estaciona em frente a casa. Quando todos saem do carro, os meus olhos se impressionam ao testemunhar Namjoon tirando do banco de trás uma cadeira de rodas dobrável, analiso tendo cuidado para não manchar os vidros, quando ele ajuda Jungkook a sair do carro e logo o meu menino se senta, sendo empurrado por Junyon.
Ainda sem entender, vejo a senhora Jeon carregando consigo alguns sacos de soro.
Corro as escadas, chegando ao primeiro andar, os outros funcionários fazem uma fila única na sala, enquanto a família adentra eles cumprimentam felizes.
Ninguém me parece chocado ou tão pouco assustado com o que está a haver.
Minhyuk chama-me com as mãos num gesto sutil, e vou ao seu alcance.

— Por favor explique-me...

Murmúrio baixinho, e ele assente com a cabeça assim que o senhor Jeon passa ao nosso lado.
Jungkook encara-me com os seus olhos brilhantes, um sorriso bonito estampa os seus lábios me deixando ainda mais confuso.

— Ele com toda a certeza teve uma queda de pressão, o soro acaba ajudando os remédios fazerem efeito mais rápido, como Namjoon é  enfermeiro particular eles deixam trazer a cadeira e as bolsas de soro pra casa.

Concordo mesmo sem entender totalmente, faço menção de subir as escadas, ir atrás de Jungkook mais Minhyuk me impede ao segurar o meu ombro com um pouco de força.
O que me resta é voltar para o quarto, esperar alguém chamar-me, ou ligar para Jimin e comentar com ele os acontecimentos.

(...)

Não sei quanto tempo se passou até a campainha ressoar, mas o meu suspiro não tardou em aparecer.
A conversa que tive com Jimin serviu para o meu melhor amigo rir da minha cara, me chamando de bobo apaixonado e alegando que se mais ninguém ficou preocupado, teoricamente eu também não deveria me preocupar.
Não adiantou de merda nenhuma, porque me sinto ainda mais eufórico.
Saio do quarto, vendo os funcionários empenhados na cozinha, enquanto outros andam por um lado e por outro dentre a enorme casa, afasto-me da multidão, subindo as escadas até o quarto de Jeon, mas antes encontrando senhor Junyon parado ao corredor, conversando ao celular, quando nota a minha aproximação o mesmo afasta o aparelho da orelha.

— Taehyung, faremos uma festa hoje, comemorando a melhora de Jungkook e também a parceria que conseguimos na empresa, você poderia por gentileza ajudar Namjoon a arrumar o meu menino?

— Sim senhor. _ Respondo de automático, ganhando um sorriso.

Ao chegar ao quarto de Jeon, noto Nam mexendo dentro das gavetas, os seus olhos encontram os meus e me sento-me na cama esperando as suas ordens.
Vejo o soro pela metade ao lado da cadeira de rodas e sinto-me taciturno ao olhá-lo.

— Onde ele está? _ Pergunto baixo, mantendo as mãos ao lado do corpo.

— Estou arrumando para tomar banho. _ A resposta rápida e seguida do enfermeiro correndo para o banheiro, encostando a porta e me deixando à espera.

Preciso ser positivo.
Conversar com Jeon e acreditar na sua melhora.

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