Capítulo 24

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Meus pensamentos embolados logo foram se organizando sutilmente.
Não foi fácil, desde o começo minhas crises de ansiedade sempre me atormentaram, e mesmo achando que poderia lidar com elas, tive uma recaída.
Acho que… no fundo todos temos problemas, uma espécie de válvula que nos impede de ir para frente, com medo das decisões que podemos tomar serem horríveis, sem ao menos tentarmos.
A tremedeira, os pensamentos enfermos, a situação de incapacidade.
Um dos demônios do nosso século.

Meu passado com álcool não é motivo de orgulho, e meu presente com ele menos ainda, mas estava ali, uma válvula de escape para todas as respostas que eu não possuía.
Para toda a incerteza e sensação de incapacidade, me lembro vagamente da minha recaída brutal no bar que fui.
A intenção era me divertir, esquecer, talvez tentar me desvencilhar das coisas, mas foram copos e copos, e lá estava eu como no passado, em uma situação de perigo enorme, onde a morte poderia me visitar naquele banheiro.

Quando de fato acordei vi o rosto sério de Jimin encarando-me com olhos estreitos.
Então, ele me banhou, tentando tirar qualquer tipo de sujeira acumulada, cuidando com carinho no momento que mais precisei, porque ele havia prometido.
Mesmo com nossa discussão e com as palavras maldosas que o disse ele ainda permaneceu ao meu lado.
Também me lembro do mesmo dizer que está cuidando de mim enquanto eu prezo por outra pessoa.

Aquilo me doeu profundamente.

Me machucou mais do que pensei, pois enquanto Jimin me banhava eu chorava baixo sabendo que era fraco, incapacitado e naquele momento totalmente inútil e debilitado.

As coisas aconteceram de forma rápida.
Quando acordei daquela noite conturbada meus músculos doíam e o corte que mantenho no abdômen estava me incomodando horrores.
Mas sabe... 
Assim que o encarei com mais profundidade meus lábios se abriram em um sorriso idiota.
Pois por mais que as pessoas sumam ou precisem sair de alguma forma da nossa vida, elas deixam cicatrizes.
Jungkook me deixou uma afinal de contas...

Eu poderia realmente estar chorando nesse momento, desejando a todo custo não ter perdido as pessoas que perdi e passado por todo esse tumulto de sentimentos, mas não estou.
Meus pés em movimento descem as escadas, meus olhos permanecem estreitos pelo sol ofuscante.
Minhas mãos soam e sinto cada parte da minha musculatura se tencionar...
Foi uma decisão difícil de todas as formas, foi algo que lutei para não aceitar e demorou para que eu pudesse seguir adiante.

Se engana quem pensa que minha crises alcoólicas haviam terminado, engana-se quem achou que tais coisas não fizeram minha mente fraca se desestabilizar e meus cabelos serem puxados em agonia, ansiedade...
Minhas crises foram aumentando gradativamente e os remédios vieram com elas, Wendy me ajudou profundamente nesse quesito, e acho que os amigos de Jungkook, Suho e Lalisa foram as pessoas mais próximas que tive durante esse tempo além de Jimin que sempre me teve como irmão mais novo, pagou meus remédios e minhas consultas.
Eu gostaria de ter sido mais forte naqueles meses, mas não podia.
Não respondi as cartas de Jungkook, e a cada uma que chegava meu emocional ficava mais desequilibrado.
Perdi meu trabalho, pois sem Jungkook eu não teria nada o que fazer na casa dos Jeon's.

Hoje estou aqui, descendo as escadas para a saída da psicóloga.
Não tenho mais necessidade dos remédios, mas ainda mantenho a consulta em dia.
Hoje é o dia que tirei para poder enfrentar meus medos.
Vou visitar quem um dia chamei de meu menino.

( ... )

Ando sobre o corredor fechado acompanhado de Suho.
É difícil controlar a ansiedade em um momento como esse, mas preciso me manter firme.
Meus olhos vagam por todo o ambiente, enquanto enfermeiros e médicos andam distraidamente e rapidamente em busca de seus pacientes.
Paramos em um local próximo a janela principal e logo encontramos o rosto de Namjoon e de um rapaz alto de cabelos castanhos.
Ambos me encaram por alguns segundos, é quando sou permitido olhar sobre o vidro da porta.

Lá está Jungkook...

Suas mãos trabalham sobre um violão, as notas são tocadas com paciência... compaixão.
Sua concentração é tão intensa que chega a me arrepiar.
Seu corpo sentado sobre o tapete verde escuro é tão delicado.
 Os cabelos agora maiores tampam consideravelmente seus olhos de cílios longos, a curvatura de seu maxilar está desenhada e consigo ver com tamanha precisão os músculos de suas pernas cruzadas.
Entretanto os lábios continuam avermelhados; as bochechas rubras e o jeito que ele sorria ao conseguir reproduzir as notas, com seus dentinhos proeminentes à frente, ainda é o mesmo...
Ele de certo modo ainda é o menino que conheci quando fui trabalhar naquela casa...

Aproximo-me melhor vendo alguém sentado ao seu lado, meus olhos se voltam na figura de Junyan sorrindo abertamente .
Esse parece cansado porém satisfeito com os avanços de seu filho.

— Você pode entrar se quiser. _ O médico responde tocando meu braço, logo direcionando os olhos novamente para a figura morena sentada ao chão. — Ele sentiu realmente sua falta, mas quando não recebeu mais notícias acabou criando á ideia que você o esqueceu...

— Eu nunca poderia esquecê-lo, mesmo tentando diversas vezes.

— O amor que você sente por ele é realmente bonito Taehyung.

— Vamos! _ Namjoon pega meu braço, incentivando-me a adentrar o cômodo.

Ele entra primeiro e murmura algo com Junyan que apenas assente e sai da sala, encontrando comigo no corredor.
O homem nada me diz, ele abaixa a cabeça e logo encara-me novamente, um sorriso cansado e visto em seus lábios e seus braços me envolvem em um abraço rápido no qual não esperei receber.
Retribuo o afeto e Junyan afaga meus cabelos para em seguida se afastar.

Dentro da sala, Namjoon conversa com Jungkook e o médico assente para que eu finalmente entre.
Sem mais delongas obedeço todos eles e faço minhas pernas se moverem a diante...

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