Perturbado

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Pov Saint

Ao acordar de manhã, minha cabeça ainda estava tão desnorteada que se tivessem me dito que eu não era eu mesmo, teria acreditado. O que havia acontecido na noite passada ainda estava perturbando meus pensamentos, mas eu não conseguia organizá-los para entendê-los melhor. Quando realmente abri meus olhos e tomei as sensações do meu corpo, reparei que o menino dormia suavemente em meus braços, abraçado em meu corpo.

Eu tinha que sair daqui, levantar, tomar um banho, gritar para o mundo que eu só podia estar louco. Mas ao mesmo tempo, eu não queria. O Nong estava dormindo inocentemente e eu me peguei olhando para ele, concentrado em seus traços. Ele parecia estar sorrindo mesmo durante seu sono. Eu ainda estava pensativo, havia tanto para falar e tão pouco tempo. Nós mal tínhamos conversado e eu já havia agido tão precipitadamente.

Percebi que precisava tomar uma atitude e sair daquela cama. Os meninos logo estariam aqui para realizar suas brincadeiras supérfluas conosco e depois já teríamos que ir embora. Eu necessitava tomar um tempo para pensar nisso, mas não seria agora. Com cuidado, levantei e posicionei o menino de uma forma que ele ficasse confortável. Pelo seu hábito de dormir em qualquer lugar e seu sono pesado, não foi difícil o movimentar.

Eu arrumei a cama e dobrei as roupas dele que estavam espalhadas pelo quarto. Achar algumas semelhanças entre ele e seu personagem não era impossível, afinal. Eu resolvi sair e tomar café da manhã, antes que os outros acordassem. Eu, com certeza, não estaria em condições de responder perguntas. Fui para o refeitório e dei de cara com o diretor, comendo sozinho.

— N'Saint! Venha, coma comigo. — Isso era exatamente o contrário do que eu queria. Servi um prato e me sentei na mesa com ele. — Que cara é essa, Nong?

Me chamar de "Nong" nesse momento sensível me remetia a Perth. Ótimo, agora eu estava pensando nele novamente. Minha cara realmente devia estar péssima.

— Não é nada, P'New. Eu só não durmo muito bem fora de casa. — E era verdade. Mas essa noite, após cair no sono, eu realmente não vi mais nada.

— N'Saint, eu já trabalhei com muita gente, já estudei muito sobre expressões corporais e faciais. A sua não é de alguém que não dormiu bem e sim de quem está preocupado com algo. Você realmente não quer conversar? Eu não irei te forçar, obviamente.

Eu não queria, mas eu necessitava falar. Não o que aconteceu, porém algo que estava me incomodando muito. Acabei ficando um bom tempo sem conversar nem pensar em nada, apenas vidrado na paisagem do lado de fora.

— P'... Como eu me retrato de algo que eu me arrependi? Que eu não deveria ter feito em nenhuma hipótese? — O diretor me olhou, franzindo a testa e analisando cada expressão que eu fazia. Por isso, tentei ficar o mais neutro possível. Tive medo que ele me perguntasse algo sobre isso.

— N'Saint... Isso sempre vai acontecer. Arrependimento é algo normal na vida. Mas, a sua atitude a partir de agora vai determinar o que você precisa fazer. Pode parecer contraditório, não? Mas se você fugir, precisará voltar. Se ficar, precisará lidar com isso cara a cara. Em qualquer uma das situações, você necessitará resolver. A decisão é sua. — Ele falou, levando sua xícara de café para a boca calmamente. O homem parecia tão sábio. Era engraçado e incomum ver esse lado tranquilo do diretor.

— Eu entendo. É só... — Eu me interrompi. Já havia sido o suficiente.

— Então você está arrependido, huh? E sobre o que é isso? Me conte. — Era P'Yatch que havia chegado. Ele estava escutando tudo?

— Não é nada, P'. — Eu terminei de comer e me despedi de ambos rapidamente. Com certeza eu faria ou falaria bobagens para eles se ficasse lá.

It's Probably LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora