Nossa Laís é uma jovem de apenas quatorze anos, uma garota alegre e sorridente, que gosta de fingir que a vida é boa e que está tudo bem, estuda em uma das maiores escolas do condado de Borborema como bolsista, fruto de uma súplica que a vó Nicota dela fez ao prefeito da pequena cidade.
Quando estava na escola ou na casa da vó Nicota era como se ela fosse outra pessoa da que podíamos ver quando estava em casa. Por falar na casa dela vamos ver com quem ela mora:
Laís mora com seu pai o senhor Luiz Torquato, ele era minerador e passava o dia nas minas e uma boa parte da noite no bar do senhor Pascoal. O que? querem saber sobre a mãe? Pois bem, a mãe dela lhes abandonou quando ela tinha apenas quatro anos, segundo seu pai ela teria ido por não gostar dela e dele também e que ela deveria ser grata ele não ter abandonado ela. O diálogo com o pai era pouco, pois quase todas as sete noites da semana ele chegava bêbado e não tocava na janta que ela fazia e comia só.
Agora me perguntem o porque dela insistir em fazer o jantar e deixar o prato dele na mesa, bem como a toalha e a roupa limpa na cama? Lembremos de uma cena para que entendam.
Estava Laís estudando em seu quarto aos sete anos, quando a porta se abre bruscamente, quebrando o trinco ao ser lançado na parede com força. Era seu pai que chegou e ao olhar na cozinha que tudo estava organizado e não tinha comida para ele e irado sobe para falar com a filha.
- Sua fedelha chata e mal agradecida. - ele fala se aproximando dela que automaticamente se encolhe com medo. - Eu me mato de trabalhar para você comer e vestir e nem um pão deixas para mim?
- M-mas pai o s-senhor sempre não janta. - ela tentou em meio as lágrimas que já a dominavam se justificar mas o pai lhe alcançou e brutalmente enfiou o dedo na sua garganta lhe fazendo vomitar disse:
- Se eu não como você também não. - vendo que ela já tinha vomitado muito a jogou no chão em cima do vômito e lhe segurando pelos cabelos lhe esfregou o pijama de coraçãozinho e seu rosto em cima do vômito. - A partir de hoje eu quero tudo na mesa quando eu chegar, não é da sua cama se eu como ou não. Outra coisa levante e vá pegar minha roupa limpa e uma toalha para mim colocando na cama se não lhe farei pior, lembre-se essa será sua obrigação de todos os dias. - dito isso desceu para a sala e a menina ficou ali um pouco de tempo chorando no vômito e se lamentando até que conseguiu forças para ir até o quarto e fazer o que lhe pediu.
Ai para! Não quero lembrar de que Laís tenha passado isso. Mas sim que ela nesse mesmo ano conheceu o Senhor Jesus e com a sua fé tão grande ela tinha a esperança de uma vida transformada pelo Poder de Deus.
Não podia ir aos cultos porque era a noite, mas ia na escola dominical e no círculo de oração e sua fé crescia cada dia mais, ganhou de seu pastor uma Bíblia quando ela completou treze anos e era esse presente que vivia escondido na fresta do colchão que lhe mantinha viva, pois todas as vezes que se sentia perturbada ela lia a Palavra de Deus.
Agora me perguntem se ela chorava. Claro que chorava, sempre que lembrava da mãe, que sentia a brutalidade e as maldades do pai ela se escondia para ele não ver e chorava e no meio de suas lágrimas saia a oração que quase virou uma reza.
- Oh Senhor, tu que é tão poderoso para fazer tudo que fizestes e ainda faz mude minha realidade, transforme minha vida meu Pai! Tua Palavra diz que de Ti vem nosso socorro e a última palavra para nossas vidas sempre vem de ti.
Era essa a oração de Lais sempre que sentava nos fundos da casa de Vó Nicota e chorava escondido de tudo e de todos. Todos? Não a avó sempre via e corria a lhe preparar as comidas preferidas pelo simples fato de vê-la sorrir novamente.
- Alguém vai fazer quinze anos próxima semana. - Nicota diz partindo o bolo de chocolate para lhe servir.
- Passou tão rápido. - ela suspira mais para ela que para a mulher.
- Cada ano que passa, fica mais perto de sua bênção chegar filha.
- Será?
- Não Laís não esmoreça agora, você já chegou até aqui, lembre que com dezoito anos iremos embora para longe.
- Eu até quero acreditar, mas aqui dentro de mim tenho um pressentimento horrível de que não vai ser assim vó. - ela baixa a cabeça escondendo os olhos marejados.
- Então isso é para nós orarmos mais um pouco minha flor. - a velha diz afagando seus lindos cabelos.
- Por tocar no seu cabelo me lembrei, porque você ainda insiste em ir com o cabelo arrepiado como se fosse cacheado mal penteado para a escola? Não tinha sido só uma aposta?
- Sim vó mas a aposta termina esse ano, foi para eu usar o cabelo assim durante cinco anos.
- Mas vocês não tem juízo não? - a avó diz rindo.
- Naquela época eu acho que não. - a menina acompanha a avó na risada.
- Nunca mais aposte nada ouviu?
- Eu já pensei nisso, mas a semana passada eu apostei que a professora Vera caia no chão molhado e perdi então tive que imitar uma galinha no pátio.
- Oh minha cabecinha de vento, que faço com você?
- Me enche de bolo que resolve.
- Resolve nada, comeu bolo a vida inteira e continua atrapalhada e serelepe do mesmo jeito que tinha cinco anos e cortou as flores do meu jardim sem talo para por no jarro.
As duas começam a rir e contar as atrapalhadas do passado.
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Vida Transformada
SpiritualLivro 10 Laís Torquato é uma jovem cristã que foi criada por seu pai, após a mãe ter os abandonado. Com quinze anos foi vendida por seu pai e teve sua juventude roubada pelo bêbado que a comprou. Seus únicos momentos de sossego era quando lia a Bíbl...