Após se alimentarem era a hora de seguir viagem, um motorista passou a dirigir o carro, aparentemente o marido de Laís era um homem de posses, pois deu uma boa quantia ao juiz que os casou. Só não se entende o porque que um juiz mora num lugar tão despossuído.
No percurso Laís olhava pela janela do carro e ficava pensando em quem deixou para trás. Sua vó que quando chegasse da capital não a encontraria e sua amiga que tanto se esforçava para lhe fazer sorrir quando ela se encontrava triste. Com certeza ela iria se esforçar para ser mais alegre para a amiga não ter problemas com ela, mas isso já iria virar passado, pois acreditava que nunca mais viria as duas pessoas que lhe apoiaram em todos os momentos.
Laís já estava cansada de ver mato e mais mato, recostou a cabeça no vidro e tentou adormecer, mas logo as lágrimas lhe invadiram novamente e foi perceptível ao seu marido que lhe disse:
- Já chora novamente? - ele diz com voz grave mais aparentemente calmo.
- Desculpe, não percebi que lhe incomodava. - ela diz tentando secar as lágrimas mas os seus olhos pareciam duas correntezas de rio fluentes.
- Não me importo, pode chorar até derreter, mas acredito que está julgando pelo início o final da história. - ele insiste. - Já lhe prometi não lhe fazer mal e pretendo cumprir, apenas fui criado dentro do mato e não sou homem delicado, fui acostumado com guerra e lidar com peões.
- Como quer que eu veja um lado bom se no dia do meu aniversário fico sabendo que meu pai me vendeu?
- Ele não merece suas lágrimas, não passa de um verme viciado que faria de tudo por um tanto de dinheiro para beber. - ele disse voltando a vista para a estrada. - Sei que errei em tentar achar uma esposa nas condições de aposta ou pagando mas olhe para mim, quem em sã consciência se casaria comigo? A guerra me transformou num bárbaro e hoje carrego as marcas, mais pareço um monstro do que um homem.
Laís o olhou e conseguiu sentir pena da pessoa que estava falando, mas mesmo assim não mudava a sua situação, continuaria sendo a escrava comprada para um fim.
- Ainda está longe? - ela perguntou vendo que já amanhecia o dia e ainda estavam na estrada de barro, rodeados de mato.
- Logo após aquelas montanhas. - ele respondeu seco.
Ela preferiu não falar mais nada, não teria clima para iniciar amizade com seu raptor. Claro que ela era consciente de que o maior culpado era seu pai e clamava a Deus que não deixasse ter ódio dele por tê-la vendido, mas o homem ao seu lado não era um flor de pessoa e ela era consciente disse também.
- A única coisa que peço ao chegarmos na fazenda é que nunca tente fugir. Não serei compassivo com você se tentar, mas do contrário na casa você terá total liberdade de mudar e fazer como quiser, tem muitos empregados que lhe obedecerão como minha esposa e por favor se dê ao respeito e ao menos na frente dos outros finja que me respeita, não peço que finja amor, pois também não fingirei. - ele disse rompendo o silêncio.
Ela ficou com vergonha de ouvir aquilo e agradeceu o carro ter divisão do motorista para eles com um vidro fumê.
- Posso fazer uma pergunta? - ela pergunta com a sua curiosidade a flor da pele, na verdade ela queria saber muita coisa sobre ele, mas não arriscaria perder esse momento de paz por falar demais.
- Faça a segunda a primeira já fez. - ele diz.
- Porque só agora, digo com essa idade procura tão desesperado por uma esposa ao ponto de comprar uma? - ela se arrependeu de dizer isso na hora que falou mais já tinha dito.
- Não lhe interessa, lhe interessa só daqui pra frente o meu passado é só meu.
Na verdade ele não teria coragem de dizer a ela que a vida foi dura com ele, foi obrigado ir lutar com bárbaros ainda jovem para defender sua família das mãos dos midianitas que atacavam pela região e como filho único se afastou dos pais tempo suficiente para eles morrerem e ele só saber cinco anos depois. Ficou sabendo que a moça que ele gostava e que jurou lhe esperar já tinha duas crianças de outro, cansou de esperar ele voltar e se casou com o primeiro que apareceu. Isso tudo deixou o coração do senhor Bocaiuva fechado e ele se isolou na fazenda e se esforçou para ser o rico que era hoje em dia.
- D-desculpe eu não quis me intrometer na sua vida. - ela diz triste.
Ele apenas lhe olhou de lado, tinha quase a impressão de que sentia pena da jovem ao seu lado, tão linda e delicada sendo filha de um fanfarrão daqueles. Mas não podia baixar a guarda não a conhecia e precisava que ela o temesse para lhe obedecer e manter a casa em ordem.
- Daqui cinco minutos chegaremos. - ele diz olhando para a estrada.
Laís olha pela janela e vê um tão lindo campo de uvas que não tem mais fim, é com certeza o maior campo de plantação de uvas na região, lembrava bem de ter visto algumas fazendas pelo caminho mais nenhuma comparada com aquela.
- Nossa que lindo! - ela sussurra mais para ela do que para qualquer pessoa.
- Eu suei muito para ter tudo isso aqui. - ele sussurra de volta olhando ainda para fora do carro.
Ela lhe olha, sabe que ele ouviu ela falar aquilo e fica com vergonha. Até que o carro para e eles descem ela fica ali parada estática olhando tudo aquilo, ele se aproxima dela pegando no seu braço e subindo as grandes escadas que dão acesso a maior casa que ela já havia visto, mais parecia um palácio.
- Seu quarto é o segundo do segundo andar. - ele diz. - Mas antes de subir quero que conheça os empregados da casa. - então um a um ele apresentou os quinze empregados que servem só dentro de casa, bem como o chofer e mordomo.
- É um prazer conhecer a senhora. - o mordomo fala em nome de todos os empregados.
- O prazer é meu. - ela olha aquele homem tão velho mais tão bonito dos olhos claros e rapidamente sente simpatia pelo mesmo, lhe dá um sorriso e com o mesmo sorriso ela olha para os demais e diz: - Por favor me chamem de Laís mesmo não gosto de ser chamada por títulos. - eles afirmam que sim.
- A Magnólia lhe ajudará se instalar, não terei compromissos hoje para poder lhe passar suas tarefas na casa como dona dela. - o marido diz ela apenas o olha afirmando e se vai com a criada que ele citou.
A mocinha era bem jovem como ela e falava pelos cotovelos, rapidamente as duas acharam uma coisa em comum, quase todos os empregados eram servos de Deus. Ela entrou no enorme quarto que seria o seu e ficou maravilhada ao ponto de dizer:
- Nossa essa com certeza é a maior jaula que já vi. - a amiga olhou para ela estranhando o comentário e perguntou:
- Jaula? Está aqui forçada?
Ela percebendo a besteira que disse tentou se justificar com medo que chegasse ao ouvido dele.
- N-não é uma expressão que dizemos em minha cidade natal. - suspirou aliviada por ver que a menina compreendeu ou fingiu que entendeu e sorriu dizendo:
- Todo passarinho gostaria de uma dessa não? - ela apenas riu pensando que ela não gostaria de ser presa nem em uma jaula de ouro.
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Vida Transformada
SpiritualLivro 10 Laís Torquato é uma jovem cristã que foi criada por seu pai, após a mãe ter os abandonado. Com quinze anos foi vendida por seu pai e teve sua juventude roubada pelo bêbado que a comprou. Seus únicos momentos de sossego era quando lia a Bíbl...