Vida Transformada

O amor tudo suporta...

- Não precisa ser hoje essa conversa se não quiser alteza. - Rodolfo disse chegando perto dela. Percebeu que ela não o olhou abaixou a cabeça e respondeu.

- Tudo bem não temos por que adiar.

- Talvez seja difícil para a senhora. - ele insiste.

- Rodolfo me diga o que espera de mim? - ela falou se afastando um pouco dele.

- Não espero nada além do que esteja disposta a me oferecer. Talvez um pouco de amor, uma companhia na velhice.

Ela o olhou, sorriu e voltando abaixar a cabeça segurou em sua mão o puxando para sentar perto dela.

- Quando eu cheguei aqui no palácio eu estava ferida demais para enxergar um homem como um futuro companheiro. Passei por muita coisa e as marcas eram mais fortes do que é hoje para mim.

- Eu sei, eu via como a senhora era cismada até com os guardas do corredor.

- Mas mesmo assim você tentou se aproximar de mim. Não pensou que eu não estava preparada?

- Eu a amei no primeiro momento que lhe vi. Esperei seis longos meses para poder dizer que me interessei por ti e não suportaria esperar nenhum dia a mais do que aquela tarde no jardim de inverno.

- Eu não suportei ouvir o que tentou dizer, por isso fugi. - Ela diz sentindo que começava a chorar.

- Por isso lhe mandei a carta.

- Não tem um só dia na minha vida que eu não a leia, ela tem me sustentado de pé dia e noite. Olhe eu a trago aqui na minha bolsa sempre. - levantou e pegou a bolsa tirando de lá um papel já manchado pelo tempo e amassado, mas mesmo assim muito bem guardado dentro de um envelope.

- Eu a sei de cor: "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino." é uma passagem bíblica. - ele diz se aproximando dela e retirando o papel de suas mãos. - Eu quis dizer que a esperaria não importava o tempo nem as condições.

- Eu entendi. - ela diz soluçando.

- Minha rainha se não estiver pronta ainda eu espero. - ele não entendia as lágrimas dela. - Só não aguento vê-la chorar.

- Não. - ela disse firme. - Estou pronta sim e minhas lágrimas são de arrependimento de não ter tido essa conversa a mais tempo. Perdemos muito tempo Rodolfo.

- Antes era impossível a senhora estava casada com o rei, sei que foi por conveniência que ele nunca encostou na senhora e o admiro por isso. Mas depois tinha seu sofrimento com sua filha e eu não me sentia no direito de colocar meu coração na frente dela.

- A culpa foi minha, eu também sempre te amei, mas não tive a coragem suficiente para abrir o caminho.

Ele se aproximou dela com carinho, a abraçou e lhe dando um beijo na testa disse:

- A senhora quer a partir de hoje não perde mais nenhum segundo?

- Quero, é tudo que eu quero. - ela disse o abraçando.

Ficaram ali mais um tempo trocando abraços e beijos, colocando o amor em dia e então cada um foi para os seus aposentos. No castelo havia só um cômodo com alguém ansioso e preocupado andando de um lado para o outro esperando uma luz para onde a sua amada tenha ido.