Shane
Abro os olhos e vejo tudo de cabeça para baixo, então eu lembro que alguém bateu contra o carro e que tivemos um acidente. Olho para Rachel que está inconsciente e tento me soltar para salvar ela.
Seu rosto está cheio de sangue, seus cabelos dourados estão tocando no chão, assim como seus braços. Ainda bem que usou o cinto de segurança.
Tento soltar o meu cinto, mas está difícil. Estou tonto, com dores em todos os lugares, estou assustado inclusive, não sei se tenho forças para sair daqui. Só que eu não posso desistir.
— Rachel! Rachel, por favor, acorda! — Chamo.
Ela não acorda. E nesse momento, oiço sirenes de ambulâncias e vêm nos socorrer. Eles cortam os cintos de segurança e depois nos colocam em macas, onde correm para nos levar para dentro da ambulância.
Estou sentindo dores em todos os lugares, uma forte dor de cabeça e também tenho medo que Rachel não esteja bem.
Mas uma coisa eu sei. Aquilo que aconteceu não foi um acidente. O homem que bateu contra nós queria nos matar.
Vejo Rachel ao meu lado, sendo socorrida e eu fico torcendo para que ela esteja bem. Para que nada de ruim aconteça.
Acordo, mas dessa vez estou no hospital. Tento acessar a minha memória, mas um branco ocupa a minha cabeça. Não me lembro. Isso é muito estranho. Só me lembro de estar com a Rachel no carro, depois mais nada vem. Mas eu tenho uma ideia do que aconteceu.
Paul está sentado num sofá perto da minha cama, lendo um jornal, mas não parece atento na leitura. Ele está com o rosto angustiado. Possivelmente, por minha causa.
— Não se preocupe, eu estou bem. — Digo.
Ele me encara. — Fiquei assustado quando soube o que aconteceu.
— E a Rachel?
— Ela ainda não acordou.
— Que horas são? — Olho para a janela e ainda vejo o sol brilhando.
— Uma da tarde.
— O quê? Não pode ser. Eram seis da tarde. Eu dormi esse tempo todo? — Olho para o quarto branco, para as minhas mãos machucadas e o soro ligado ao meu braço.
— Sim, Shane. Você lembra do que aconteceu? Porque eu te conheço e sei que você dirige bem, respeita todos os sinais...
— Eu não sei. Não me lembro de como isso aconteceu. Parecia que estava tudo bem. — Fecho os olhos. — Eu coloquei a vida da Rachel em perigo.
— A culpa não é sua. Tenho a certeza disso.
— Se eu fosse prudente, isso não teria acontecido. Mas alguma coisa está faltando. Uma memória que se escondeu na minha cabeça e não encontro. Mas o quê? — Penso, tento lembrar, porém é tudo inútil.
— Sinto muito! Você ainda está com dores? — Ele toca o meu braço.
— Estou, mas não deve ser nada. Posso lidar com isso.
— Quer que vá ver como a Rachel está?
— Não! Eu vou. Só preciso que chame uma enfermeira para me tirar daqui.
— Está louco? Você precisa descansar. Não saia até o médico disser. — Ele levanta e fica do meu lado.
— Preciso saber como ela está. É melhor você não me impedir, Paul.
— Senão o quê? — Ele arqueia a sobrancelha.
— Imagina que estivesse na minha situação. Você não ia querer ver a Jolene?
— É diferente porque eu amo a Jolene. Você mal conhece essa Rachel! — Ele franze a testa.
— Mesmo assim. — Fico sentado na cama. A dor aumenta quando mudo de posição, mas não demonstro isso. — Eu vou.
— Como eu sei que você não vai desistir, vou chamar a enfermeira. — Ele diz e sai do quarto.
Entretanto, tento acessar as minhas memórias bloqueadas. Eu sei que tem um detalhe importante que eu preciso saber. Algo muito importante. O único problema é que não consigo lembrar. Espero que Rachel consiga.
Rachel
—... me sinto culpado por você estar aqui. Não sei se perdi o controle enquanto dirigia, se eu não respeitei um sinal, não me lembro. Sinto muito. Vou entender se você não confiar mais em mim. — Suspira. Eu reconheço a voz do Shane e abro os olhos. Ele está segurando a minha mão e olhando para mim com culpa.
— Shane! — Sussurro, mas sinto uma dor na cabeça, como se falar piorasse a dor. Também sinto por todo o lado e então eu me lembro das pessoas que eu amo. Eu vi a minha vida inteira passando pela frente. Como é que estamos vivos?
— Não faça esforço. — Shane acaricia o meu rosto.
— S-Shane...
— Relaxa, pequena! Estou aqui.
— Você está bem.
— Sim. Estamos bem por um milagre. — Ele sorri. — Desculpa o que aconteceu.
— A culpa não foi sua. — Digo.
— Porquê você diz isso? Lembra do que aconteceu? — Ele pergunta.
— Eu... — Tento lembrar. — Alguém bateu contra nós. A culpa não foi sua.
— Você não viu o rosto do homem que fez isso?
Fecho os olhos e suspiro.
— Desculpa. Não devia fazer isso, você acabou de acordar. Está com muitas dores?
— Sim. Você não está?
— Estou fazendo um esforço para estar aqui. — Ele fecha os olhos. — Eu não me lembro do que aconteceu.
— Não é tão mal assim. Você não quer lembrar do momento em que a sua vida estava por um fio. — Faço um esforço por causa da dor de cabeça.
— Não importa! Eu não quero esquecer, não quero ficar assim. Não importa se o que aconteceu foi terrível, pequena, eu não vou me sentir bem por ter perdido alguma coisa. — Shane parece incomodado com isso. O bastante para eu perceber que está sendo ruim para ele.
— Os médicos vão ajudar você.
— Você viu o homem? — Ele pergunta mais uma vez.
— Não tenho a certeza... só posso dizer que ele é negro, careca, é jovem... — Tento colocar as imagens na minha cabeça de novo. —... ele tinha uma tatuagem de lobo nas mãos. Mas isso não interessa. Tínhamos que saber o número da matrícula do carro.
— Você tem razão. Estou fazendo uma tempestade num copo de água. — Ele levanta com cuidado e fecha os olhos por causa da dor.
— É melhor você descansar. — Digo. — Você não está bem.
— Eu vou fazer isso. — Ele beija a minha testa. — Ainda bem que está bem.
Ele sai do quarto, caminhando lentamente e fecha a porta, mas não demora para Daise entrar e vir me abraçar. Seus olhos estão molhados e vermelhos, dá para perceber que ela estava chorando.
— Você está bem? — Ela pergunta.
— Eu estou. Você não vai se livrar de mim tão cedo. — Sorrio.
— Ainda bem que não foi grave. Eu não ia suportar! — Ela me abraça de novo.
— Eu sei.
— Aquele acidente...
— Não foi um acidente, Daise. Eu vi um lobo negro batendo contra o nosso carro. Eles me acharam. Acho que querem vingar a morte do Marco.
— Não diga uma coisa dessas, nem brincando, Rachel! — Ela começa a tremer. — Você não acha que é por isso que Vladivostok está aqui? Por causa dos lobos negros?
— Não! Eu ouvi ele falando para o Jacob que ia me encontrar. — Passo a mão na testa.
— Fica calma, Rachel. Você está se recuperando.
— Como eu posso ficar calma com toda essa situação? — Começo a chorar. — Eles serão capazes de ir atrás...
— Eles não vão nos encontrar. Os panteras vão fazer alguma coisa. Eu sei que não é um caso perdido. — Ela limpa as minhas lágrimas.
— Você está dizendo isso por causa do Darwin?
— Estou dizendo isso para que não desista de lutar. Não vamos desistir, só vamos ser mais cuidadosas. E vamos nos defender se for preciso.
— Eu sei que você e todo mundo pensa que eu sou forte, Daise, mas não sou. — Cubro o rosto com as mãos.
— Claro que é! Você é a pessoa mais forte que eu conheço.
A porta se abre e olhamos para o doutor que entra no quarto. Ele segura uma prancheta e traz consigo o estetoscópio ao redor do pescoço.
— Seu amigo avisou que já acordou. — Ele sorri. — Como se sente?
Respondo às suas perguntas, tomo alguns remédios e depois de conversar mais um pouco com a Daise, eu caio no sono.
Quando volto a abrir os olhos, já está escuro lá fora. Daise disse que fiquei horas inconsciente após o "acidente". E agora estou um pouco melhor. Ainda sinto dores, mas estão suportáveis.
Preciso pensar em alguma coisa para fugir dos lobos e dos panteras. A nossa situação está cada vez mais difícil. Já não sei o que fazer.
Daise entra no meu quarto com uma caixa de piza e refrigerantes. E eu fico me perguntando se ela é doida ou alguma coisa parecida para dar essa comida para alguém que tinha acabado de ter um acidente.
— Você está com fome? — Ela pergunta.
— Queria comer uma salada, mas eu perdoo você. — Sento na cama com cuidado. — E o Shane?
— Eu sabia que você ia perguntar por ele, Rachel! — Ela sorri. — É por isso que me antecipei. Ele está descansando. Vocês vão ter alta amanhã.
— Tive medo que acontecesse alguma coisa. — Suspiro e como uma fatia de piza. — Espero que não tenha contado à minha mãe o que aconteceu.
— Não. Eu sei que ela viria correndo para aqui assim que soubesse. É perigoso demais. — Ela também come.
— Obrigada. Tudo que preciso agora é de outro problema.
Olho para a TV. Uma mulher morena e atraente fala sobre as notícias. Volto a minha atenção na minha piza e penso no que Shane me disse.
Ele acha que temos futuro.
Eu sei que ele está enganado e também preciso livrar ele dos meus problemas. Ele não pode se envolver nisso. Não quero que acabe mal.
— O Shane disse que acha que tem futuro comigo. — Digo. — Eu não vejo futuro na gente.
— Porquê? Ele parece ser uma boa pessoa. E não preciso lembrar que ele tem olhos castanhos.
— Mesmo assim. Shane tem muito para oferecer, mas não para mim. Ele pensa isso porque não conhece os meus segredos, não sabe onde está se metendo. Não quero que saia machucado. — Dou mais uma mordida na piza. — Ele não merece.
— Você já não está naquela vida. Você está tentando ter uma vida normal, e as pessoas normais se apaixonam e casam. Rachel, você precisa disso. Vejo nos seus olhos que é o que você quer. Você pode contar para ele, talvez ele entenda. E a única coisa que está impedindo você é o Jacob que não pára de te perseguir. Um dia, tudo isso vai acabar. Você não precisa fugir do amor. — Ela diz.
— Eu sei, mas acho que não pode ser com o Shane. Ele não.
— Por ser mais novo ou esperto demais? Você não manda no seu coração. Infelizmente, não pode decidir quem quer que ocupe um lugar nele. — Ela diz com a boca cheia. — O que o Shane tem de errado?
— Não sei.
Eu simplesmente acho que Shane não é a pessoa certa para mim. Não sei explicar o porquê, apenas acho isso. Acho que a gente não daria certo porque somos de mundos diferentes.
Comemos a nossa piza em silêncio e terminamos tudo. Não sei de onde vem tanta fome, pois quando tomo remédios, comer é a última coisa que eu gosto de fazer.
Enquanto isso, olho para a TV que estão falando sobre um acidente. E depois mostram as imagens do carro do Shane. Daise também fica atenta na TV.
— O estado do carro é irrecuperável. Mas o que importa é que vocês estão bem. — Ela diz ainda olhando para a TV.
— Sim.
E agora mostram os enfermeiros levando as macas para a ambulância e mostram o meu rosto. Não dá para perceber que sou eu, a não ser por alguém que me conhece muito, muito bem.
Jacob!
— Não! — Desço da cama com cuidado.
— Rachel! — Daise diz. — Isso é gravado. Tenho a certeza que Jacob deve ter visto isso mais cedo. — Ela olha para mim assustada.
— Então, eles devem estar no hospital. — Vou buscar as minhas roupas imediatamente. Daise me ajuda a vestir.
— Mas eu não vi ninguém suspeito esse tempo todo.
— Não importa! Temos que sair daqui.
Nem termino de abotoar, visto um casaco e saio do quarto com Daise. Olhamos para todos os cantos para ver se tem alguém suspeito.
— Daise, vamos por aqui. — Puxo o seu braço e caminhámos para a direita no fim do corredor.
Como o Karma é algo muito forte, vemos Vladivostok conversando com o meu médico. Mas ele não está sozinho, está com mais dois homens do seu lado. E um deles vê a gente.
Caralho!
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Completamente quebrados
Любовные романыLivro VI História de Shane e Rachel Rachel era uma criança quando viu seu pai ser morto pelo homem que ela mais odeia: Jacob Evanovisk. O mesmo cuidou dela desde então e a integrou na sua organização do inferno. Agora Rachel está fugindo e es...
