A coisa mais chata que existe é ficar em casa sem fazer nada. Mas imagina fazer isso por uma semana depois de um acidente de carro? Um completo inferno.
A nossa vida foi ver TV o dia todo, comer, conversar ( sobre assuntos que eu não queria falar, como o Shane, por exemplo) e dormir. Mas temos de fazer isso depois de quase termos sido apanhadas pelo Edmund.
E sobre o Shane? Bom, temos conversado por celular esses dias todos. Ele sempre liga para mim e para ser sincera, não estou pronta para me encontrar com ele hoje, por isso vou ficar mais um dia em casa.
Pelo menos, Daise está se divertindo com Darwin. Ela foi para o apartamento dele hoje. Então tenho que ficar sozinha e com saudades de todos os que eu amo.
Felizmente, Jacob não voltou a ligar para mim. O meu médico deve ter dado o meu número para ele, mas o importante é que não nos encontrou.
Pego no meu celular e ligo para a minha mãe. Tenho que fazer isso sempre porque morro de saudades e porque tenho que saber se está tudo bem por aí.
— Filhinha!
— Tenho muitas saudades, mamãe! — Fico com vontade de chorar.
— Eu também, meu amor. Já faz muito tempo que não nos vemos.
— Tem razão. Eu vou para aí amanhã. Não aguento mais. — Faço beicinho mesmo sabendo que ela não pode me ver.
Oiço o som da campainha e vou abrir a porta, mas antes espreito pelo olho mágico.
— Tem a certeza? Seria muito bom, filha. Mas tem a certeza que é boa ideia?
Shane entra e fecha a porta por mim. Ele está usando uma camisa branca e jeans. E está sem óculos. A única vez que o vi sem óculos foi quando a gente transou.
— Sim, eu tenho. Preciso disso. — Me concentro em responder a minha mãe e não nos olhos castanhos que estão na minha frente. Porquê ele veio?
— Eu sei. Mas tenha muito cuidado.
— Claro que sim, mãe!
— Te amo!
— Eu também te amo! — Desligo.
— Oi, pequena! — Ele cruza os braços. — É impressão minha ou você está fugindo de mim?
Reviro os olhos sorrindo e abraço ele. Porquê? Porque ele se preocupa comigo e demonstrou isso todas as vezes que ligou para mim essa semana. Minha mãe sempre diz que devemos manter os amigos perto.
Ele aperta o abraço e beija a minha testa. — Também tive saudades!
— Obrigada! — Me afasto.
— De nada. — Ele senta no sofá. — Penso que temos muita coisa para conversar.
— Você só veio aqui arrancar informações de mim?
— Você sabe que eu quero explicações, mas também estou aqui porque me preocupo com você.
Sento ao seu lado. — Está bem. Mas antes eu preciso da sua ajuda.
— Tudo o que você quiser!
— De verdade? Isso é sério, Shane? — Não sei explicar, mas meu coração aquece.
— Claro que sim.
— Eu vou visitar a minha mãe amanhã. Você pode me levar para lá? — Espero que diga que sim.
— Meu carro está uma lástima, amor! — Ele diz.
— Com o meu carro. Eu sei onde é, mas não sei que caminho seguir, entende?
— Então, eu posso. Você e a sua amiga linda?
— Pode parar de chamar ela desse jeito? E sim! As duas.
— Está com ciúmes? Eu esqueço sempre o nome dela, pequena.
— É Daise!
Ele fica em silêncio por alguns minutos. Ele é estranho ou é impressão minha?
— É só ela que você quer ver? — Ele olha para mim um pouco triste.
— Na verdade, há mais alguém.
— E essa pessoa sabe que a gente...
— A gente não tem nada, Shane! — Digo antes que ele termine.
— Para você não é nada?
— Podemos mudar de assunto? — Peço.
— Sim. — Ele tira uma coisa do bolso da jeans. — É por causa dele que você não gosta de mim? — Mostra a minha foto com Marco que tenho procurado como uma doida nesses dias.
— Onde você achou isso? — Pergunto.
— Na sua bolsa.
— Você não pode mexer nas minhas coisas desse...
— Por favor, responde! — Ele fecha os olhos.
— Ninguém está me impedindo de gostar de você. Eu simplesmente não quero nada com ninguém.
— Quem é ele?
— Ele era o meu namorado. Ele está... morto. — Desvio o olhar.
— Eu sinto muito. Não sabia.
— E vou contar porquê estou fugindo. — Ou uma parte dela. — O homem que bateu contra o nosso carro é de uma máfia. Os lobos negros. Marco também, agora andam atrás de mim porque acham que eu sou culpada pela morte dele.
— E o russo? Ele não me parece que seja desses lobos negros.
— Não é. Ele é dos panteras vermelhas. Também andam atrás de mim porque eu sou filha do chefe. — É tudo que ele precisa saber.
— Eu entendo. — Suspira. — Preciso saber de mais uma coisa.
— O quê?
— Porquê transou comigo naquele dia? — Ele olha para mim. Quando ele está sério, eu sinto calafrios.
— Sinceramente, eu não sei porquê.
Ele se aproxima de mim e acaricia o meu rosto. — Você não pensa em mim nem um pouco?
— Isso já são duas coisas!
— Responda!
— Não. — Minto.
Ele afasta a sua mão. — Percebi.
— Você merece alguém melhor. Alguém com menos problemas.
— Eh! Estou farto de ouvir sempre as mesmas respostas. — Ele beija a minha testa. — Até amanhã!
Ele levanta e vai embora. Me sinto um pouco mal por ter deixado ele triste. Ele não merece isso, mas também não quero ter que ficar com ele e contar tudo sobre a minha vida.
Mas o que ele quis dizer com estar farto de ouvir as mesmas respostas?
Levanto também e vou para o quarto fazer as malas. Não pretendo ficar poucos dias. Quero matar saudades. Talvez três ou quatro dias, ainda não decidi.
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Completamente quebrados
RomanceLivro VI História de Shane e Rachel Rachel era uma criança quando viu seu pai ser morto pelo homem que ela mais odeia: Jacob Evanovisk. O mesmo cuidou dela desde então e a integrou na sua organização do inferno. Agora Rachel está fugindo e es...
