Completamente quebrados

Capítulo vinte e um - A gente pode tentar!

              Presente

    Chego em casa com Travis, depois de sairmos do supermercado, e abro a porta com as chaves. Entramos no apartamento e vejo flores por todo o canto e um cesto grande cheio de biscoitos, chocolates, marshmallows, frutas secas e muitas outras coisas que eu adoro.
   Sorrio e seguro um buquê de flores. Deve ser Daise que fez isso para me deixar feliz, mas ela não tem tanto dinheiro assim. Será que foi o Jacob? Espero que não tenha sido ele. Já me sinto mal por usar o dinheiro que ele me deu.
   — Mamãe, quem fez icho?
   — Eu não sei.
   Daise sai do quarto e sorri como se soubesse de tudo. — Meus amores!
   — O que significa tudo isso, Daise? — Pergunto.
   — Não é óbvio?
   — Não, não é.
   — Bom, quem mandou tudo isso foi o Shane.
   — Ele vilá? — Travis pergunta.
   — Eu estou aqui! — Oiço aquela voz grave atrás de mim e meu coração pára. Depois de tudo o que eu disse ontem, não pensei que voltaria a ver ele novamente.
   — Shane! — Travis vai correndo para os braços dele.
   Ah não! Preciso fazer alguma coisa para o meu filho não gostar tanto dele assim.
   — Como você está, pequeno? Você cortou o cabelo! — Passa a mão no cabelo dele. — Ficou lindo!
   — Obigado! A mamãe me levou no cabelei... cabeleile... — Ele ri.
   — barbeiro, filho. — Olho para o Shane. — O que você está fazendo aqui? — Pergunto.
   — A gente precisa conversar. — Ele levanta.
   — Travis, você pode me ajudar a guardar todos esses doces? — Daise pergunta para ele e vão correndo com o cesto de doces e as sacolas que trouxemos.
  Shane se aproxima de mim. Sinto o cheiro do seu perfume e do seu hálito. Ele está de jaqueta de couro e calças jeans. Justas, claro.
   — Me perdoa! — Ele diz.
   — Porquê está me pedindo perdão?
   — Por tudo. Estou aqui porque eu quero tentar. Quer dizer, quero ajudar você com o bebê.
   — Não quero obrigar você.
   — É minha obrigação enquanto pai. Você não fez esse filho sozinha. Eu sei que disse que essas coisas não são para mim, mas quero tentar. Não quero cometer o mesmo erro que o meu amigo Paul. Pensei nisso a noite toda e conversei com os meus pais também.
  Mordo o meu lábio porque não sei o que dizer. Era isso que eu queria, não é? Que ele também cuidasse do bebê. Mas não desse jeito. Eu queria que a gente fosse uma família.
   — Diga alguma coisa. — Ele dá mais um passo.
   — Tudo bem. Eu não posso impedir você de estar perto do seu filho. Acho que a gente pode tentar.
   — Obrigado!
   Ficamos parados olhando um para o outro, por vezes desviamos os olhares, mas não dizemos nada. Penso em perguntar sobre a sua namorada, mas é melhor não.
   — Você quer alguma coisa? — Pergunto.
   — Não. Estou bem.
   — Sente-se então. — Tiro as flores do sofá.
   — Não precisa fazer isso por mim. — Ele segura o meu braço.
   — Não é nada.
   — Sente-se. — Ele me faz sentar. — Você deve estar exausta por cuidar do Travis.
   — Ele não dá muito trabalho. Saiu a mim. — Digo.
   Shane endireita os óculos. Quando ele abre a boca para dizer alguma coisa, Travis vem correndo e sobe no sofá. Ele senta no meu colo.
   — Mamãe, pode fazer bolo de chocoiate? — Ele faz beicinho.
   — Depois eu faço, Travis.
   — Não machuca a sua mãe, Travis. Tenha cuidado. — Shane diz olhando para a minha barriga.
   — Não faz mal. — Digo e abraço ele. Ele ri comigo e seguro as suas mãos. Brincamos um pouco, mas me lembro que Shane está aqui e paro.
   — Podem continuar. — Ele sorri.
   — Travis, está na hora do banho! — Daise sai da cozinha e cruza os braços.
   — Não! Mamãe! — Ele me abraça e choraminga para Daise não fazer nada. — Mamãe, vai me dar banho.
   — Eu não sou tão terrível assim, Travis!
   — Mamãe! — Ele olha para mim. — Eu queio a mamãe.
   — Tudo bem. Depois não pede para jogar videogame com você. — Ela vai no quarto.
   — Mamãe?
   — Sim, meu bebê!
   — Vochê vai deixar de gostar de mim quando o bebê nascher? — Ele fica triste.
   — Claro que não! Onde você tirou essa ideia? Você é o meu filho, meu bebê, eu sempre vou amar você do tamanho do universo. Entendido?
   — Sim. — Ele me abraça e deita nos meus braços.
   Olho para Shane um pouco envergonhada, não sei porquê, mas estou. Normalmente, Travis não age assim na frente de pessoas estranhas. Ele só faz essas perguntas quando estamos sozinhos. Não quero que ele tenha intimidade com Shane.
   — Você gostou do meu presente?
   — Sim. Mas não precisava.
   — Eu sinto que precisava sim. Conversei com os meus pais e eles acham que eu devo apresentar você para eles.
   — Eles estão aqui?
   — Não. Eles chegam de Nova Iorque daqui a três semanas.
   — Então, está bem. — Olho para Travis, que está brincando com o meu casaco.
   — Acho que já vou. — Ele levanta. — Bom, qualquer coisa, liga para mim.
   — Vou fazer isso.
   — Vochê vai voltar amanhã? — Travis desce do meu colo.
   — Vou ver o que posso fazer. — Ele beija a testa dele, depois a minha testa. — Fiquem bem.
   Ele caminha até a porta e depois vai embora. Ele realmente quer tentar fazer isso. Isso já é muito bom para mim. Acho que a gente pode tentar.
   Levanto e levo Travis comigo para tomar banho. Preparo a banheira para ele e deixo seu barco lá dentro também para ele poder brincar. Travis detesta quando Daise dá banho nele porque ela não deixa ele brincar.
   — Mamãe, quando eu crecher vou ter um barco muito gande!
   — Vai sim. Se você estudar bastante.
   — Mamãe?
   — Sim, filho?
   — O Shane vai ser meu pai? — Ele pergunta ainda brincando com seu barquinho.
   O que eu vou responder? Não posso dizer que não porque ele vai ficar muito triste, mas também não posso dizer que sim e iludir a criança.
   Que situação!
   — Bem... eu... — Não sei o que responder.
   — Travis, eu vou fazer bolo gelado! — Daise entra no banheiro me salvando de uma catástrofe.
   — De vedade? — Travis sorri de orelha a orelha.
   — Você quer?
   — Sim.
   — Então, é melhor a gente terminar para poder ajudar a Daise. — Digo.
   Daise sai e respiro aliviada. Termino o banho do Travis e vou vestir ele. Felizmente, não me faz mais a mesma pergunta. Mas até quando? Eu sei que ele não vai esquecer esse assunto.