Capítulo vinte - O sonho escapou das minhas mãos

763 85 6
                                        

           Seis anos atrás

   Estava treinando com Vladimir porque Jacob insistiu. E eu estava ficando muito boa naquilo, tanto que quase venci ele. Mas claro que eu, que sou pequena, não venceria um homem de dois metros.
   — Já está cansada? — Ele pergunta depois de me ver bebendo água.
   — Estou. Acho que já vou embora.
   — Eu também. Tenho um jantar na casa dos Summer. Não quero chegar atrasado.
   — Você praticamente vive naquela casa. O que tem de tão especial? — Arrumo as minhas coisas.
   — Não é da sua conta. Você não entenderia. — Ele também bebe a água.
   — Vou tentar não contar para o meu pai que está tramando alguma coisa.
   — Não sei se você já reparou, mas o seu pai sabe de tudo. E estaria fazendo um favor, já que preciso da ajuda dele.
   — Você é inacreditável. Não sei como eu ainda converso com você. — Eu vou tomar um banho antes de sair. Quero ir para casa o quanto antes.

   Eu estava na rua de madrugada pensando num jeito de matar alguém, mas não conseguia. Eu não era como o Jacob. Eu seria incapaz de tirar a vida de alguém. Ninguém nesse mundo tem esse direito.
   Oiço passos atrás de mim e continuo andando, mas quando olho para trás, vejo dois homens olhando para mim. Sinceramente, eles não parecem nada amigáveis. Pego na minha arma e viro para eles.
   — O que vocês querem? — Vou direito ao assunto. — Porquê estão me seguindo?
   Quando um deles vai responder, oiço dois tiros e eles caem no chão. Fico tremendo porque não vejo ninguém, mas não baixo a arma.
   — Q-Quem está ali?
   — Calma! — Oiço uma voz de homem e viro. Aponto a arma para ele.
   O homem loiro levanta os braços e vejo a tatuagem dos lobos negros. Jacob disse que eles são inimigos e que devemos acabar com os inimigos.
   — O que você quer? — Pergunto.
   — Você não vai me matar. Eu não vou fazer nada. — Ele se aproxima e abaixa a minha arma. — Eu prometo!
   — Porquê eu iria confiar em você? — Pergunto.
   — Não precisa confiar.
   — Porquê me ajudou?
   — Porque você é tão nova e eu tenho a certeza que não tem experiência. Agora vamos sair daqui antes que os outros cheguem e nos matem.
   — O quê? Outros quem? — Pergunto.
   — Eis a questão! — Ele puxa o meu braço e me leva com ele num carro. Isso poderia ser um sequestro, mas a minha cabeça parou de funcionar.
   Ele começa a dirigir e fico calada. Estou com a minha arma pronta caso ele faça algo de errado.
   — Que idade tem você? Doze?
   Olho para ele com ódio. — Dezesseis. Mas o que isso importa?
   — Você é dos panteras vermelhas?
   — Você é dos lobos negros?
   — Sou. Meu nome é Marco. Prazer!
   — Prazer!
   — Que fria! Para a sua sorte, eu conheço você, Rachel!
   Olho para ele. — Como?
   — Você é a filha do Evanovisk. Todo mundo sabe disso. Porquê acha que ele te treinou? Para poder se defender.
   — Encosta o carro, por favor!
   — Não posso fazer isso. É perigoso demais. Além disso, não quero que vocês declarem guerra contra os lobos negros, se alguma coisa acontecer com você.
   Não digo mais nada.
   — Vou levar você para casa, mas não diga que eu ajudei você. Fica o nosso segredo.
   Agradeço mentalidade por ele ter aparecido. Se não fosse ele, eu teria que matar alguém ou seria o contrário. Jacob estava errado. Nem todos os inimigos eram cruéis.

  Uma semana depois, quando eu sai da loja, vi Marco encostado no meu carro. Quer dizer, o carro que Jacob me empresta para sair. Ele estava lá e sinceramente, estava lindo.
  Marco era mais velho que eu, forte, loiro, olhos castanhos, alto e muito atraente. O que ele poderia querer comigo?
  — O que você faz aqui? — Pergunto.
  — Porquê não estaria aqui? — Ele se aproxima.
   — Você devia ter cuidado. O meu pai não vai ter piedade de você.
   — Eu não tenho medo. Só quero conversar. Não seja ingrata, eu salvei a sua vida.
   — O que você quer conversar?
   — Sobre os homens que estavam atrás de você. Você precisa ter muito cuidado. Se você quiser, posso ser o seu protetor. — Ele sorri.
   — Não, obrigada. Eu sei me defender.
   — Percebi naquela noite!
   — Pára, por favor! Eu só... — Suspiro. — Obrigada pelo aviso. Não precisa se preocupar comigo. Eu estou bem.
   — De qualquer forma, é melhor eu estar sempre por perto. — Ele pára de sorrir. — Você é muito jovem.
   — Mas sou mais madura do que muitas da minha idade. — Passo por ele, mas ele segura o meu braço e me aproxima dele.
   — Tenha muito cuidado!
   — Está bem.
   Ele me solta e sigo o meu caminho. Mas não consigo parar de pensar no porquê dele querer me proteger. Ele é um inimigo e devia ter medo de Jacob.

Completamente quebrados Onde histórias criam vida. Descubra agora