Completamente quebrados

Capítulo nove - Depois do acidente

        Catorze anos atrás

    — Tudo o que você precisa saber é que devemos ser fortes em cada momento das nossas vidas. As fraquezas são o caminho mais fácil de sermos derrotados pelo inimigo. — Jacob diz. Estou no colo dele enquanto ele me diz sobre força e fraqueza.
  — E porquê eu tenho que aprender essas coisas? Eu só quero uma boneca nova! — Faço beicinho.
  A casa do Jacob é muito grande. Eu não consigo entender porquê ele tem mais de vinte homens lá fora, porquê não posso sair de casa ou porque tenho que aprender a ser forte?
   Eu estudo em casa, mas algumas vezes os empregados dele me levam ao parque para brincar onde conheci meus amigos. O meu quarto é muito grande e é cheio de brinquedos. Mas mesmo com tudo isso, eu só quero a minha mãe. E só vejo ela poucas vezes.
   Eu ainda me lembro do que ele fez com o meu pai, mas ele diz que não fez nada. Mas ele não é tão ruim. Ele é bom comigo.
   — Vou comprar a sua boneca nova. — Ele sorri.
   — Jacob?
   — Me chama de papai! Eu sou o seu pai.
   Mamãe disse que ele é louco. — Papai, eu posso ver a minha mãe?
   — Claro que você pode! — Ele me abraça. — Vou pedir para ela ficar com você a semana toda.
   — De verdade?
   — Claro que sim, olhos de Esmeralda. — Ele beija a minha testa.
   — Obrigada! Quer brincar comigo, papai? — Peço.
   — Tudo o que você quiser, filha! — Ele sorri.
  Ele me leva para brincar no meu quarto. Eu tenho saudades do meu pai, mas não digo isso para Jacob porque ele vai dizer que ele é o meu pai. Mas eu sei que não é.

   O meu quarto é tão grande que às vezes me dá medo dormir aqui. Mas o meu quarto é a única parte da casa que tem muita luz e que é colorida. Não sei porquê.
   E eu não gosto de trovões. Fico com medo que vão me machucar e não consigo dormir. A minha mãe sempre cantava uma música quando eu ficava com medo e esperava até eu dormir.
   Levanto da cama e saio do quarto. Os guardas ficam olhando para mim e vou para o quarto do Jacob o mais rápido, onde encontro mais dois guardas.
   — Você devia estar na cama. — Um deles diz.
   — Eu quero falar com o Jacob. Agora!
   Ele abre a porta para mim e mostro a língua para ele antes de entrar.
   Vou correndo até à sua cama e fico em pé ao seu lado. — Papai! — Mexo o seu corpo grande e pesado.
   — O que foi, olhos de Esmeralda? — Ele abre os olhos.
   — Papai, eu tenho medo.
   — Medo de quê, filha?
   — De trovões.
   Ele me coloca na cama. — Você não pode ter medo de nada, Rachel! Apenas os fracos têm medo.
   — O senhor não tem medo de nada?
   — Não!
   — Eu tenho!
   — Vou te contar um segredo. Os trovões não são assustadores. Sabe porquê?
   — Porquê?
   — Porque sempre que há chuva e trovões, significa que o Thor veio para a terra. Um super herói veio salvar o mundo. Devia ficar feliz e não com medo.
   — O Thor existe? — Sorrio.
   — Claro que sim! Assim como o papai Noel.
   — Então, eu não vou mais ter medo. Se ele vem salvar as pessoas, não vou ter medo. — Digo.
   — O medo é para os fracos. Nunca se esqueça disso, olhos de Esmeralda. — Ele me cobre.
   — Está bem. Boa noite, papai!
   — Boa noite, filha!
   Fecho os olhos e tento dormir. Já não tenho mais medo disso. Só tenho medo de não ser forte como ele diz. Eu não quero ser fraca porque Jacob diz que os fracos não conseguem viver nesse mundo. Eu quero ser forte e mostrar para todo mundo.
   Eu quero ser forte para quando eu for grande, proteger a minha mãe. Eu não quero ser fraca e deixar os meus inimigos me derrotarem. Quero ser eu a derrotar eles.

               Presente

   Olho para Daise dormindo ao meu lado quando eu acordo, depois da médica do Shane ter vindo para cá. Felizmente, ela trouxe as coisas que eu tinha esquecido no hospital e me deu remédios.
  Levanto da cama feliz por estar melhor que quando acordei. Não sei como agradecer ao Shane por isso. Espero que ele não esteja sendo observado, mas conhecendo Jacob como eu conheço, tenho a certeza que mandou um homem observar ele vinte e quatro horas por dia.
   Pelo menos que as "observações" não demoram muito tempo. Eles só precisam acreditar que Shane não tem nada a ver comigo. E eu dei uma semana para ele.
   Claro que também vou aproveitar o tempo para pensar no que dizer ao Shane. Ele não é idiota, então não vai acreditar em uma mentira. Tenho que dizer meias verdades.
   Vou beber um copo de água e pego no meu celular para ver se não tem nada de novo. Há apenas uma mensagem do Shane.
  Shane: "Oi! Queria saber como você está. Quando acordar, liga para mim. Beijos"
   Ele está sendo muito fofo comigo. Ninguém me trata assim desde que Marco morreu. Eu gosto que Shane se preocupe comigo e aprecio tudo o que está fazendo, mas eu não gosto dele desse jeito.
   Vou para a sala sentar no sofá. Não pretendo ligar para ele agora, acabei de acordar e minha voz deve estar horrível. Depois faço isso.
   Deixo o celular na mesa, mas não faz nem cinco segundos que ele toca de novo. Mas não é o Shane nem a minha mãe.
   — Alô!
   — Porquê você está fazendo isso, filha? — Jacob.
   Deixo o copo cair no chão.
   — C-Como conseguiu o meu número? — Levanto.
   — Na verdade, foi muito simples.
   — Me deixa em paz, por favor! — Desligo antes que diga mais alguma coisa. Era só o que me faltava.
   Vou correndo para o quarto acordar a Daise. Ela olha feio para mim e me empurra furiosa. Então, puxo o seu cabelo.
   — O que você quer, cadela? Eu estava sonhando com o Chris Evans!
   — Daise, o Jacob ligou para mim. O que eu vou fazer?
   — Como assim o Jacob ligou?
   — Ele ligou para mim. — Respiro fundo. — Eu tenho medo que ele venha nos buscar.
   — E agora? Você nem sequer se aproximou do Lambert.
   — Eu sei. — Choro e sento na cama.
   — Ele não deve saber onde estamos. Não fique assim.
   — Eu não tenho medo por mim. — Limpo as lágrimas.
   — Eu sei.
   A campainha toca, me assustando. Meu coração acelera ao ponto de quase saltar para fora. Tenho medo que sejam os homens dele.
   — Eu vou abrir, você está tremendo. — Ela levanta e vai para a sala.
   Vou até à janela para ver se não há nenhum movimento suspeito. Não vejo nada de estranho, a não ser que eles estejam bem escondidos.
   Porquê as coisas estão se tornando cada vez mais difíceis? Cada dia, surge um outro problema.
   Daise entra no quarto com um sorriso e com uma caixa de chocolates. Há um bilhete na fita da caixa. Espero que não seja para mim.
   — Adivinha de quem é! — Ela me entrega.
   — Do Darwin?
   — Claro que não, sua idiota!
   — Chris Evans? — Pergunto brincando.
   — Está se fazendo de idiota?
   Pego no bilhete e leio:

   Antes que pense que foi outra pessoa que mandou, só estou dando o bilhete para que tenha a certeza que é o Shane Walter, o seu admirador não secreto.

   — Ele não é muito fofo?
   — Ele é. Mas você não esqueceu que o Jacob ligou para mim?
   — Não se preocupe, Rachel. Ele não sabe onde estamos. E isso vai continuar assim até arranjarmos uma solução.
   — Espero que sim. — Abro a caixa de chocolates e provo um. — Uau!
   — Você gosta dele? — Ela também tira um chocolate. — Meu Deus! Que delícia!
   — Pela última vez, Daise Roman, eu não gosto do Shane! — Digo com a boca cheia.
   Parece que ela nunca me ouve!

   É ruim não ter nada para fazer. Estávamos tão entediadas que comemos todo o chocolate e depois vimos um filme. Não esqueci de ligar para o Shane, apenas não quero falar com ele. Só não sei porquê.
   Jacob ligou para mim a tarde toda, eu já esperava isso, mas não sei porquê eu atendi. Nunca deveria atender um número desconhecido. Só a Daise, minha mãe e agora o Shane.
   — Se por acaso, Jacob vir atrás de nós? Para onde a gente vai? — Pergunto.
   — Kansas? Alasca?
   — Eu não devia fugir dele. Estou demonstrando fraqueza ao fazer isso. Eu não quero ser fraca!
   — Mas você não está em condições de enfrentar o Jacob. Você sabe que ele é poderoso.
   — Eu prometi que ia vingar a morte do Marco, que ia acabar com aquele homem. Não é isso que estou fazendo.
   — Rachel, o Marco não ia querer isso. Você não precisa fazer nada, apenas usar o Liam para estarmos livre. Depois cada um segue a sua vida.
   — Ele matou o meu pai, Daise! — Olho para ela. — Me transformou numa outra pessoa e matou o Marco! Eu não posso deixar isso ficar assim.
   — Essa é a outra Rachel falando.
   Pego no celular e ligo para o Shane. Não quero falar com ele, mas se eu não ligar, ele vai ligar.
   — Estava vendo que nunca mais ligava. — Ele atende.
   — Como você está?
   — Bem. Espero que você também esteja bem.
   — Ainda vai demorar. — Respondo.
   — Recebeu o chocolate?
   — Sim. Eram ótimos, obrigada.
   — Tenho algumas perguntas para você.
   — Quer que eu responda agora?
   — Não. Não agora. — Ele suspira. — E como a Daise está?
   — Quer falar com ela?
   Ele ri. — Você não percebeu que estou prolongando a conversa?
   — Não. Mas respondendo a pergunta, a Daise está bem. — Olho para ela, que sorri.
   — Rachel, o quão complicada a sua vida é? — Pergunta.
   — Muito complicada! Eu diria uns 100%. Podemos falar amanhã? Estou com muito sono. Só liguei porque você pediu. — Digo. Mas acho que não devia ter dito isso.
   Ele suspira de novo. — Está bem. Boa noite! — E desliga. Ele parecia magoado, como se soubesse que eu estava despachando ele.
   Não tenho culpa!
   Tudo que eu quero nesse momento é acabar com o Jacob. Tenho que proteger a minha família. Shane não está nos meus planos.

                 Shane

   Estou acostumado a ser perseguido por garotas que não gosto e ser rejeitado pelas garotas que gosto. Não sei porquê doeu tanto quando Rachel me despachou. Talvez tenha alguém entre nós. O tal de Marco.
   Paul olha para mim como se estivesse com pena de mim. Ele sabe que o amor fecha sempre as portas para mim. Às vezes, fico com pena de mim mesmo.
   — Há uma garota que gosta de você! — Ele diz.
   — Ela tem cabelos loiros? — Pergunto.
   — Não.
   — Olhos verdes?
   — Não.
   — Um metro e cinquenta e sete?
   — Não.
   — Então, não estou interessado. — Bebo meu suco.
   — Não consegue perceber quando alguém não te quer?
   — Eu só quero respostas. Quero saber quem é o homem da foto.
   — Shane, você devia ter cuidado.
   — Eu sei cuidar de mim. Você sabe disso! — Reviro os olhos.
   Mal posso esperar para que essa semana termine logo para que eu posso obter todas as respostas de Rachel. E espero que não minta para mim.
   — Mesmo assim.
   — Está bem. Agora, eu preciso ir para a biblioteca.
   — Cuidado para não tremer quando se encontrar com a Blaire.
   — O engraçado é que não estou mais apaixonado por ela.
   — Porque gosta da Rachel?
   Rio. — Não sei o que sinto pela Rachel, mas não é amor.
   Levanto e me viro para ir embora, mas bato contra um homem negro, alto e careca.
   — Desculpa! — Digo.
   — Desculpa eu! — Ele sorri. Olho para baixo, para suas mãos e vejo uma tatuagem de lobo.
   Passo por ele como se não tivesse visto nada e me lembro do que Rachel disse para mim no hospital:

   — ... só posso dizer que ele é negro, careca, é jovem... ele tinha uma tatuagem de lobo nas mãos. Mas isso não interessa.

   Claro que interessa!
   Agora eu sei que os inimigos estão muito perto. Posso não conhecer bem a Rachel, mas o meu coração diz que ela não é má. Ela está fugindo por necessidade e ela precisa de ajuda.
   E eu vou ajudar ela.