Capítulo cinco - Você me usou?

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    É difícil se concentrar quando você está cheia de problemas. Não consigo parar de imaginar o que vai acontecer se Jacob me encontrar. Ou pior! Se ele encontrar o Travis.
   Há coisas tão decepcionantes que nos fazem perder a esperança. Há situações em que não vemos sentido em continuar em pé. Mas temos que fazer isso, não devemos nos render. Temos que lutar.
   Mas é tão difícil!
  Ainda desanimada, pego nas minhas coisas e saio da sala de aulas. Para a minha surpresa, vejo Shane esperando por mim.
   Ah! Agora é assim?
   — Como você está? — Ele sussurra.
   — Melhor. — Tento sorrir.
   — Ainda bem. — Segura a minha mão. Acho que está confundindo as coisas. — Você quer comer com a gente? — Ele pergunta.
   — Não quero deixar a Daise sozinha.
   — Ela também pode ir com a gente. — Ele me aproxima dele. Acho que na sua cabeça, a gente tem um relacionamento.
   — Está bem. — Sorrio. É uma oportunidade de estar perto do Lambert.
   Caminhámos pelos corredores de mãos dadas, mas não porque eu quero. É porque ele quer. Também não estou com cabeça para brigar. Estou preocupada com a minha família.
   Encontramos Daise no caminho conversando com um cara alto e bonito de cabelos loiros. Ele sorri e toca no seu ombro. Não sei quem é, mas parece que gosta dela. E me sinto muito ferida por ela não ter me dito sobre ele.
   Daise olha para nós e sorri. Eu me afasto do Shane e fico entre eles querendo satisfação.
   — Darwin, essa é a minha melhor amiga que te falei. — Daise diz um pouco envergonhada. Daise envergonhada? Nunca vi!
   — Rachel! É um prazer! — Ele aperta a minha mão. Sorriso simpático.
   — E eu sou o Shane. — Shane diz e põe a mão na minha cintura.
   Será que perdi alguma coisa sobre mim mesma? Alguém apagou a minha memória?
   — Prazer! — Ele diz.
   — Eu vou almoçar com o Darwin. Se você não se importar. — Daise olha para mim como se eu decidisse sobre a sua vida.
   — Claro, pode ir. — Digo. Depois eu cobro uma explicação.
   — Podemos ir? — Shane olha para mim.
   — Claro!
   Enquanto nos dirigimos ao refeitório, tento soltar a mão dele, mas ele sempre coloca na minha cintura. Ele tem sorte que hoje não quero suportar suas brincadeiras.
  — Você é ciumenta até com a sua amiga? — Ele pergunta.
   — Apenas com ela!
   — Então, se me ver com outra garota, você não vai ficar com ciúmes? — Ele olha para mim, mas está sério.
   — Porquê eu ficaria, Shane? — Pergunto.
   — Fique sabendo que eu ficaria muito puto se visse você com outro. — Ele fica na minha frente e me impede de continuar meus passos.
   — O que se passa com você? A gente não tem nada! N-A-D-A. — Digo lentamente porque parece que ele não entende.
   — O que a gente fez, não foi só por diversão. Foi para você? — Ele parece triste.
   Céus! Estou confusa sobre ele.
   — Porquê isso agora?
   Ele fecha os olhos por alguns segundos, depois volta a olhar para mim com um olhar matador.
   — Estou morrendo de fome. Vamos. — Ele segura a minha mão e me leva com ele.
   Chegando no bendito refeitório, compramos a nossa comida e vamos sentar perto do Liam. Não acredito que vou ouvir a sua voz. Finalmente!
   — Shane! — Um loiro sorri e olha para mim. — Você deve ser a Rachel!
  Sentamos e olho para o garoto de olhos castanhos sorrindo. Ele até fala de mim para os amigos dele? Será que eu estou namorando e ninguém me contou?
   — Eu sou a Rachel! Prazer... — Olho para ele.
   — Paul. — Ele sorri.
   — E eu sou o Liam. — Ele sorri também.
   Não é que o "irmãozinho" tem um sorriso cinco estrelas!
   — Prazer! — Digo e começo a comer, o que é estranho porque eu sei que Vladivostok está aqui em Boston. Devia estar sem apetite, mas não estou.
   — Então, Rachel, o que você está cursando? — Blaire pergunta desconfiada.
   — Recursos humanos. — Shane responde por mim.
   — Interessante! — Liam.
   — E você estuda aqui há mais tempo, presumo. — Ela diz e arqueia a sobrancelha.
   — Sim. — Olho para o Liam. — E você, Liam. O que está fazendo?
   — Eu... — Ele começa a responder, mas é cortado pela Blaire.
   — Ele está fazendo análises clínicas. — Ela diz.
   — Que bom. Porquê não foi direito para a medicina? — Pergunto.
   — Tenho que me formar numa primeira área para...
   — Para ele fazer medicina. São as regras de Harvard, claro que isso também engloba os que pretendem fazer Direito. — Ela responde mais uma vez.
   — Sinceramente, nunca pensei que você conseguisse, Liam. — Paul começa a rir.
   — Claro que não. A Moreninha era a única que acreditava em mim. — Ele diz. Não faço ideia do que estejam falando.
   Blaire olha para mim como se não confiasse em mim. Acho que pensa que quero tirar ele dela. Se ela soubesse!
   De repente, Shane pega num guardanapo e limpa a minha boca, me fazendo ficar completamente emburrada e muda. O que esse garoto está fazendo? Até agora não consigo entender.
   — E como vocês se conhecem? — Liam sorri de um jeito exagerado.
   — É uma longa história! — Shane responde.
   — Claro que é! — Blaire diz, mas eu consigo ouvir.
   Espera! Shane não está me usando para fazer ciúmes nela, não é?
   Paro de comer enquanto eles conversam e riem de alguma coisa. Não tinha pensado nisso. Como eu sou uma idiota! Ele está só me usando. E como eu não dei conta disso? Ele está olhando muito para ela. E quando Liam faz carícias nela, Shane desvia o olhar com tristeza.
   Sinto uma dor no meu peito. Porquê eu me importo tanto com isso? Eu só quero distância dele. Eu jamais ficaria com ele. Estou aqui por causa do Liam.
   — Rachel! Você está bem? — Paul pergunta.
   — Eu... eu... não me sinto muito bem. Desculpa. — Levanto e saio correndo.
   Corro até o campus e procuro por um lugar para me esconder do Shane. Mas ele é mais rápido e segura o meu braço quando chega até mim. O que eu estou fazendo?
   — Rachel! — Ele me vira para encarar seus olhos castanhos.
   — Eu já entendi tudo! Você está me usando para fazer ciúmes na sua ex!
   — Onde você tirou essa ideia maluca? — Ele cruza os braços.
   — Você não parava de olhar para ela. — Digo.
   — Era para você ficar com ciúmes mesmo! — Ele ri.
   — Mentiroso! Eu não sou idiota! — Empurro ele.
   — Isso significa que você gosta de mim?
   — Você gosta dela!
   Ele pensa um pouco como se não soubesse o que responder. — Eu gostava. — Não está mais rindo.
   — É incrível como você... — Cruzes! Porquê eu estou assim?
   — Não precisa ficar assim.
   — Não? Eu não gosto de ser usada! — Cubro o rosto com as mãos. — Diga uma coisa. Você me usou?
   — Não. Eu jamais faria uma coisa dessas. A Blaire é o meu passado. Mesmo que eu ainda gostasse dela, ela está casada com Liam. Eles se amam. — Ele dá um passo para frente.
   — Porquê você me procurou? Naquela noite, não foi coincidência?
   — Não. Mas não vamos falar sobre isso agora.
   — Não fuja do assunto!
   — O que você quer? Eu não entendo! — Ele tenta me beijar, mas não deixo.
   — Pode parar! Me deixa em paz e suma da minha vida!
   — A gente nem está namorando e você me dá esse ataque de ciúmes?! — Ele se afasta. — Não imagina se estivéssemos namorado.
   — Não imagine porque não vai acontecer!
   — Tudo bem!
   — Esquece que eu existo! — Digo. — Vai embora!
   Ele vira sem reclamar e vai embora em passos rápidos. Fico olhando até ele desaparecer e depois me sinto livre para chorar.
   Mas, céus! Porquê eu estou chorando?
   Eu não sinto nada por ele. Será que é por causa do Jacob. Talvez o meu medo de Jacob me encontrar, o pavor tenha aparecido enquanto eu brigava com o Shane. Já não sei de mais nada.

   Na hora de voltar para casa, fico esperando Daise que provavelmente deve estar com o Darwin. Porquê não contou sobre ele? Pensei que a gente contava tudo uma a outra. Pensei que não tínhamos segredos.
   Eles vêm até mim sorrindo, mas eu não consigo sorrir, principalmente quando Shane passa sem olhar para mim. Eu sabia que era um truque. Só podia ser!
   — Depois a gente se fala! — Darwin diz. — Adeus, Rachel!
   — Vou esperar sua ligação. — Daise beija a bochecha dele, que quase cai no chão e vai embora olhando sempre para trás.
   Subimos no carro e ligo os motores. Daise continua no mundo da lua. Provavelmente, deve ter esquecido que Jacob está perto da gente.

   — Porquê nunca me disse nada sobre o Darwin? — Pergunto.
   — Eu disse. Disse que gostava de um cara, mas nunca disse o nome dele.
   — E como estão as coisas entre vocês?
   — Muito bem. Eu acho. Mas ele me convidou para sair no sábado. Eu estou um pouco nervosa.
   — O que você disse? — Presto atenção na estrada.
   — Que sim. Como eu poderia dizer que não? Ele ia pensar que não estou interessada, poderia desistir de mim. Não quero que isso aconteça porque estou muito interessada. — Ela fala rápido demais.
   — Você deve ser louca, sua cadela! Você sabe se o Vladivostok vai encontrar você? Se ele encontrar você, eu vou voltar com ele. E tudo isso terá sido em vão. E você nunca mais vai ver o Darwin. — Olho para ela.
   — Mas eu não vou num lugar público. Vamos para o apartamento dele. Tenho a certeza que Edmund não vai bater de porta em porta procurando a gente. — Ela endireita o cabelo.
  Volto a olhar para a estrada. — Mesmo assim. Precisamos ter muito cuidado.
    — Eu terei. E o Shane? — Eu sabia que ela ia perguntar sobre o Shane.
   — Não fala o nome desse idiota! Ele é um desgraçado!
   — Vocês estavam bem hoje. Eu vi a forma como ele colocou a mão na sua cintura e olhou para você. — Ela ri. — Alguém está apaixonado!
   — Sim, mas não por mim.
   — Como assim? — Ela pergunta.
   — Você acredita que ele me usou simplesmente para fazer ciúmes na ex? Ele me usou! Você entende?
   — Não!!! — Ela põe a mão no peito. Que dramática! — Já não se fazem garotos como antes.
   — E... doeu saber disso. — Digo em quase um sussurro.
   — Talvez porque você está gostando dele.
    — Duvido! Não posso gostar dele. Ele não tem nada a ver comigo!
   — Pode ser, mas ninguém manda no coração, Rach!
   Ela tem razão. Espero que não esteja gostando daquele desgraçado.

   Não consigo dormir.
   Mesmo que eu tentasse dormir com a Daise não ia conseguir. Fico sentada na cama olhando para as paredes. Fico pensando no Travis, na minha mãe, na Daise que conheceu alguém e em mim. Porquê tive que nascer numa família que tinha segredos com o Evanovisk?
   Se ao menos Travis estivesse do meu lado, eu ia conseguir lutar com maior força e dedicação. Mas isso está difícil. Está difícil porque eu sou fraca.
   Limpo as lágrimas e pego no celular para ligar para a minha mãe. Eu também queria que ela estivesse aqui. Mas Jacob ia manter ela prisioneira.
  Ligo, mas está desligado. Amanhã eu tento de novo. Não quero incomodar.
   Quando estou prestes a desligar o celular, vejo uma mensagem do Shane.
   Fico pensando se leio ou se não leio. Eu estou com raiva dele.
   Abro mesmo assim:
   Shane: "Sei que deve estar pensando um monte de coisas sobre mim. Peço desculpas por hoje. Estou preocupado com você, Rachel. Por favor, me responda"
   Eu ligo para ele, simplesmente para uma coisa. O desgraçado atende o celular e oiço sua respiração depois de sua voz grave.
   — Rachel!
   — Eu só preciso que responda uma coisa. — Digo.
   — O que é? Já falei tudo para você, amor.
   — Eu não estou brincando, Shane.
   — Eu também não estou.
   — Só preciso de saber de uma coisa. Depois quero que suma da minha vida.
   — É isso que você quer? Cuidado com o que deseja!
   — É o que eu quero. — Suspiro. — Você ainda gosta dela?
   — Você quer saber a verdade? Tudo bem. Eu achava que a amava até que conheci você. E depois que transei com você, meus sentimentos por ela diminuíram. Porquê eu continuei atrás de você? Porque você me faz bem... ou fazia. — E ele desliga na minha cara.
   Meu Deus!
   O que está acontecendo aqui?

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O que acharam?
O Shane usou ela?

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