Capítulo quinze - Agora eu sinto!

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    Uma semana e dois dias depois que Shane me expulsou do seu apartamento, eu fico olhando para Daise, que está escolhendo um vestido para um jantar romântico com o Darwin. Não estou com cabeça para isso, estou mais preocupada com o fato de Jacob saber sobre a gente. Tudo aquilo foi só um disfarce. Mas como Shane sabe disso?
   — Você ouviu o que eu disse? — Daise olha para mim.
   — Não. Não consigo parar de pensar no Jacob.
   — Está bem. Então, vou abrir a porta! — Ela vai até a porta.
   Suspiro e pego no seu vestido que está por cima do sofá. De repente, fico curiosa para saber quando Shane faz aniversário.
   — Quem é, Daise? — Pergunto.
   Darwin aparece na minha frente, depois Daise fecha a porta. Ele está usando preto e está com uma cara estranha. Quer dizer, mais estranha que o normal.
   — Oi, Rachel!  — Ele sorri.
   — Tudo bem?
   — Claro que estou.
   — À propósito, amor, há uma coisa muito importante que precisa saber.
   — O que pode ser tão importante assim? — Ele fica sério olhando para Daise.
   — Vamos para o quarto! — Daise segura a mão dele e vão para o quarto.
   Gostaria de saber se Shane está com aquela ruiva nesse momento. Ele poderia estar comigo agora se eu não fosse uma idiota. Porquê as pessoas só valorizam quando perdem? Porquê eu fui muito burra?
   Mas agora já não importa. Eu já errei e tenho a certeza que ele não quer me ver mais.
   Pego no celular e penso em ligar para ele, mas a outra Rachel diz para não perder o meu tempo. Não quero ter o azar de ligar e ele atender gemendo. Seria muito ruim.
   — Isso não faz sentido! — Darwin sai do quarto rindo. — Você é louca e é por isso que sou louco por você!
   — Que lindo! Eu também sou louca por você! — Eles se beijam.
   — Por acaso, vocês esqueceram que não estão sozinhos? — Pergunto aborrecida. Mas parece que eles nem me ouvem.
   Desgraçados!
   Levanto do sofá e vou para o meu quarto ligar para a minha mãe. Travis pediu que eu ligasse sempre. É isso que eu vou fazer. Já faz uma semana que deixei ele chorando.
   — Rachel!
   — Tudo bem, mãe?
   — Sim. Tudo muito bem.
   — O Travis está por perto?
   — Sim, ele está aqui comigo. — Pára. — Travis, mamãe quer falar com você!
   — Mamãe, sou eu! — Oiço a sua voz fofa.
   — Oi, meu bebê! Tenho muitas saudades de você.
   — Eu também. Quando vochê vem me buscar?
   — Daqui a pouco! O que você está fazendo?
   — Bincando. Vovó me compou um binquedo novo.
   — Que bom! Eu também tenho uma coisa para você! — Olho para o ursinho que Marco tinha me dado.
   — O quê?
   — Depois você vai ver. Vou levar quando for buscar você.
   — Vou espeiar.
   — Agora, entrega o celular na vovó.
  — Adeus, mamãe. Beso!
  — Para você também, meu pequeno! — Sinto dor ao saber que não posso abraçá-lo nesse momento.
   — Ele está melhor a cada dia. Sempre que você liga, ele fica mais animado. — Minha mãe recebe o celular.
  — Já percebi isso. Cuide bem dele.
   — Claro. Tchau.
   Desligo e deito na cama. Pego no ursinho que Marco tinha me dado e sorrio eu lembrar do momento. Ele era violento com armas, mas também era muito carinhoso com as pessoas que amava. Tenho saudades dele.
   Vou para a cozinha comer alguma coisa porque de manhã meu estômago estava rejeitando todo o tipo de comida. Agora estou com fome de dez elefantes.
   Darwin está vendo um filme com Daise. Reviro os olhos e aqueço a lasanha no microondas. Depois de alguns minutos, eu como e repito, depois como uma grande fatia de bolo de chocolate para compensar.

   Depois que Daise e eu finalmente ficamos sozinhas, aproveitamos para analisar a questão do Jacob. Realmente, é muito estranho e pensando bem não faz qualquer sentido para mim. O que aquele homem realmente quer?
   Ficamos uma hora analisando a minha situação. Se Jacob sabe que estudo em Harvard, sabe onde vivo. O que não consigo entender é porquê ele mandou Edmund no hospital? Porquê isso? Para me enganar? Para despistar alguma coisa?
   Durante esse tempo todo eu pensei que estava fugindo dele, mas me enganei. Essa história está muito mal contada. Faz já uma semana que não vejo Shane e sinceramente, tenho vergonha de aparecer na frente dele. Não quero vê-lo com a sua namorada ruiva. Tenho medo de ser humilhada ou de não suportar.
   — Então, estamos vivas e bem porque Jacob sabe onde estamos? — Daise pergunta.
   — Não sei. Pior é que eu não sei, Daise. Ele quer alguma coisa. Está tramando alguma coisa. — Desde que Shane me disse isso que não paro de pensar no assunto.
   — O que vamos fazer? — Ela pergunta.
   — Vou ligar para ele. Isso tem que acabar! — Digito o número dele. — Eu tenho que voltar para o Travis.
   — Eu sei.
   — Filha! — Ele atende. Não consigo ver seu rosto, mas com certeza deve estar sorrindo com um cigarro nas mãos.
   — Não me chame assim!
   — Mas você é a minha filha, Rachel. Um dia, você vai perceber que todo esse ódio que sente por mim não deveria existir. Não para o seu pai. Antes você me amava.
   Nem me dou ao trabalho de responder. Ele sabe muito bem que não sou filha dele.
   — Porquê você fez aquilo? — Tento não chorar. — Ele não fez nada.
   — Ele fez!
   — Jacob, por favor! Não quero que machuque nem se aproxime dele. Ele não merece. Faça isso por mim!
   — Fico feliz que tenha ligado para mim. Antes que pense que quero que volte, devia saber que só quero proteger você dos lobos negros. — Está mudando de assunto.
    — Obrigada pelo aviso. Eu sei muito bem que estão atrás de mim. E você precisa me deixar em paz. Eu não quero ir atrás do Liam Lambert!
   — Eu sei que nunca faria uma coisa assim.
   — Quer pagar para ver?
   — Porquê você fala comigo com tanto ódio? A gente devia recomeçar. Eu sou seu pai.
   — Não é!
   — E o Travis? — Ele pergunta mais uma vez.
   — Isso não é da sua conta!
   — Ele é meu neto. Quero saber dele.
   — Deixa o Shane em paz, por favor! Proteja ele, se você quer que eu te perdoe por matar o Marco.
   — Você nunca vai entender. Ele era inimigo. Ele levou você, manipulou você. Tirou você de mim.
   — ELE ME AMAVA! — Grito. —  Eu só quero saber o que quer comigo? Porquê mandou Edmund no hospital?
   — Fique bem, olhos de Esmeralda. — Ele desliga.
   Não acredito que ele fez isso!
   — Eu odeio ele! — Choro.
   Daise vem me consolar. — Odeia? Se odiasse já devia ter feito ele pagar.
   — Você sabe que eu odeio. Ele matou o Marco. Tentou fazer o mesmo com o Shane. Eu tenho muito medo. — Choro mais ainda. — E eu sei que conheço Shane há apenas um mês, mas tenho saudades dele.
   — Eu sei. Você devia reconquistar ele. Tenta fazer isso com comida.
   — Você é louca! Eu transei com ele, disse que foi só um momento, que não foi importante e você acha que é só fazer comida que ele vai perdoar? — Limpo as lágrimas.
   — Quem não petisca não arrisca! — Ela diz.
   — É ao contrário. Quem não arrisca não petisca, idiota!
   — Estou tentando ajudar. Então, liga para ele.
   — Há uma semana que eu não saio de casa, que não procuro ele, e você quer que eu ligue para ele? — Acho isso um absurdo.
   — Faça o que você quiser! Eu já dei as minhas sugestões. — Ela levanta e vai para o quarto.
   Pego no meu celular e ligo para o Shane, mas ele não atende. Agora eu percebo o que ele sentia, porque acho que sinto o mesmo. Ele está me rejeitando.
   Desisto de ligar para ele e vou comer qualquer coisa porque estou morrendo de fome, outra vez. Aproveito ver um filme também para me distrair e não pensar muito nele.

   Finalmente, depois de quase três semanas, estou voltado para as aulas. Perdi muita coisa e quando penso em toda matéria que tenho que recuperar, me dá vontade de desistir. Mas eu não posso desistir. Vou tentar ser forte por mim e por Travis.
   Daise me leva para comer no refeitório para não me deixar sozinha. Mas claro que o Darwin também está aqui e ver eles se beijando me faz lembrar do Shane. Porquê eu tenho tantas saudades dele?
   No dia que ele perguntou se eu pensava nele, eu menti. Claro que eu sempre pensei, só tinha medo de admitir para mim mesma e estava com medo que Travis não fosse gostar. Eu pensava que não queria nada com ele. Mas eu quero. E quero muito. E já sei que estraguei tudo. Mas Daise tem razão. Não posso desistir assim.
   E agora, só posso olhar para ele. Não posso fazer nada. E hoje ele está lindo usando um casaco jeans, calça preta justa e ténis da Adidas. Continua lindo apesar dos sinais de surra no seu rosto.
   Ele está rindo daquele jeito fofo enquanto conversa com os seus amigos. Queria que ele estivesse do meu lado agora, me chamando de "pequena" e me roubando beijos. Talvez falando sobre os nossos momentos juntos ou sobre a nossa viagem.
   Ele diz alguma coisa para o Paul e levanta para sair do refeitório. Eu aproveito o momento para ir atrás dele sem dizer nada para Daise. Ela está distraída com Darwin, não vai notar a minha ausência.
   Vou correndo até ele e seguro o seu braço. Shane vira para mim com um olhar nada amigável. Será que me odeia tanto assim.
   — Eu posso falar com você? — Pergunto.
   — O que você quer?
   — Você está melhor?
   — Não graças a você. — Ele olha para baixo.
   — Eu sinto muito o que eu fiz, Shane. Agora, eu sinto...
   — Não! Você não sente. Eu não quero ser rude com você. — Ele suspira. — Eu tenho uma namorada e ela não vai gostar de saber que tenho visto você. É melhor ficar longe de mim, por favor! Não quero mais te ver.
  Sinto uma dor no peito muito forte e minha garganta dói. Não consigo dizer nenhuma palavra e agradeço quando ele passa por mim e vai embora para não me ver chorar.
   Eu mereço! Eu sei que eu mereço!
   Caminho até o estacionamento para encontrar o meu carro, quando recebo uma ligação do Jacob. Nem sei o que me dá para atender, mas atendo.
   — Alô! — Limpo as lágrimas.
   — Mamãe? Mamãe, eu tenho medo. — Oiço a voz do Travis. Meu coração pára.
   — Travis! Meu bebê!
   — Agora você tem uma resposta, olhos de Esmeralda. — Agora é Jacob falando. — Porquê que eu mandei homens atrás de você? Porque eu queria o meu neto. Só você podia me levar até ele.
   — Não! Jacob, por favor, não faça nada. Eu faço tudo o que você quiser! — Choro.
   — Travis, diz adeus na mamãe!
   — Eu queio a minha mamãe! — Ele está chorando.
   — Não chora, meu bebê!
   — Adeus, filha. Em breve terá mais notícias. — E desliga.
   Sinto que o mundo inteiro caiu por cima de mim. Ninguém se mete com o meu filho, principalmente o Jacob. Eu não sei o que vou fazer.
   — Você está bem?
   Viro e vejo Liam olhando para mim com a testa franzida. Faço que não e continuo chorando. Eu poderia sequestrar o Liam e trocar ele pelo meu filho, mas não tenho forças para isso.
   — Por favor, me ajuda! — Eu imploro.
   — O que aconteceu? — Blaire aparece e fica do lado dele.
   — Por favor! — Fico na frente dele. — Eu faço tudo o que você quiser.
   — Desculpa, mas eu não sei do que você está falando. — Ele responde.
   Blaire segura os meus braços. — Fica calma. Diga o que aconteceu. Como Liam pode te ajudar?
   — Ele pode me ajudar! — Não consigo parar de chorar. Não consigo me controlar. Não sei o que Jacob faria ao meu filho por ter metade de sangue dos lobos negros. — Por favor!
   — Eu vou tentar, mas você precisa dizer o que está acontecendo. — Liam olha para mim.
   Eu me afasto um pouco tonta. Vejo tudo girando e fecho os olhos para que isso passe, mas parece que fica mais forte quando abro os olhos de novo.
   — Rachel! — Blaire diz como se estivesse debaixo de água.
   — Jacob! — Consigo dizer.
   Mas não consigo dizer mais nada. Sinto a cabeça pesada e caio no chão, depois meus olhos também ficam pesados.

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