Capítulo oito - Não precisa entender

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    Quando um dos homens do Vladivostok vê a gente, Daise me puxa para voltarmos para trás, mas eles vêm correndo atrás da gente. Eu faço um grande esforço e meu corpo ainda está doendo. Não preciso saber para onde estou indo, nem sinto os pés, só estou tentando fugir. Não posso deixar que eles arruinem a minha vida de novo.
   Os homens estão um pouco longe, mas ainda bem que não são tão rápidos. Somos mais rápidas por sermos mais pequenas e conseguimos desviar o caminho deles, mas do outro corredor está Edmund Vladivostok.
   — Rachel! — Oiço ele gritando o meu nome, mas não paramos. Não acredito que ele nos encontrou.
   Voltamos para trás já que despistamos os outros dois e tentamos fazer o mesmo com Vladivostok. As minhas dores estão piorando.
   Entramos num quarto e fechamos a porta imediatamente. Espero que não tenha nos visto entrar aqui. Recupero o meu fôlego e viro para saber onde estamos.
   Shane olha para nós com as sobrancelhas arqueadas. Ele está na cama lendo o jornal e, sinceramente, não podíamos ter entrado num lugar pior. Estamos ferradas.
   — Rachel? — Ele levanta da cama. — Porquê você está aqui?
   Não respondo. Sinto uma fraqueza e sinto que meu coração está indo a baixo. Como se eu fosse um robô. Caio nos seus braços.
   — Rachel! — Ele me agarra e me coloca na cama. — O que aconteceu? Porquê vocês estavam correndo?
   — N-Nada! — Daise responde.
   — Vai chamar um médico, Daise! Ela não está bem. — Shane diz. Daise não se move. — O que está esperando?
   — Shane, não! — Seguro a sua mão. — Eu estou bem.
   — Claro que não! Você só deve ser louca para ficar correndo depois de um acidente. — Ele levanta. — Eu mesmo chamo o médico.
   — NÃO! — Daise e eu dissemos em uníssono.
   — Porquê não, Rachel? — Ele olha para mim.
   — Shane, é uma história muito longa e muito complicada. Não faça isso.
   — Você não pode brincar com a sua saúde. Porquê estavam correndo?
   — Eu só peço uma coisa. Não deixe ninguém saber que estou aqui, por favor!
   — Mas...
   — Senão, nunca mais vai me ver. — Imploro com o olhar.
   — Está bem, mas eu preciso entender o que está acontecendo. Me diz porquê tudo isso! — Ele deita ao meu lado na cama.
   — Depois eu digo! — Olho para Daise que está sorrindo para nós. — Você devia estar guardando a porta!
   — Tem razão! — Ela fica na porta.
   Fecho os olhos para não ter de olhar para Shane que não tira os olhos de mim. E ele acaricia o meu cabelo de um jeito carinhoso, me deixando confortável.
   — Sempre soube que você era complicada. — Ele sussurra no meu ouvido.
   — Eu não escolhi ter uma vida complicada. — Seguro a sua mão para que pare, apesar de eu estar gostando do carinho.
   — Eu quero saber sobre você. — Sinto que ele mudou de posição, mas geme com dor.
   Abro os olhos. — Você está bem?
   — Preocupada comigo? — Ele sorri. — Eu estou bem, pequena!
   — Tem a certeza?
   — São as dores. Não sei quando vão passar. — Ele aproxima o rosto do meu.
   — Shane, não se aproveite de mim! — Toco seu rosto.
   Ele me beija, mas não tenho forças para afastar ele. Ignoro a dor e aproveito o gosto especial, tão bom da sua boca...
   — Eu não quero estragar o momento, mas eles estão vindo. — Daise diz.
   Eu me afasto. — O quê?
   — Se escondam no banheiro! — Shane me ajuda a levantar.
   Daise também me ajuda me levando para o banheiro. Mas quais são as chances do Vladivostok não entrar no banheiro?
   — Obrigada! — Digo para ele, que me dá um beijo casto e sai do banheiro.
   É melhor eu não comentar sobre isso.
   Ouvimos passos e cubro a minha boca como se podesse escapar alguma coisa.
   — Onde elas estão? — É a voz do meu médico.
   — Quem?
   — A garota loira e a negra? — Ele pergunta mais uma vez.
   — A Rachel e a Daise! — Agora é a voz do Edmund Vladivostok.
   — A Rachel desapareceu? — Ele parece mesmo surpreso. Pelo tom de voz dá para perceber.
  — Você não sabe onde elas estão? — Edmund.
   — Não. Elas não podem ter fugido. Rachel não está bem.
   — Você conhece a Rachel?
   — Não como eu gostaria. Só sai com ela uma vez. E essa vez foi ontem antes do acidente. — Shane diz. Ele mente bem. Isso é bom ou ruim?
   — Você sabe onde ela vive? O que faz, onde estuda? — Edmund.
   — Quem me dera!
   — Espero que esteja dizendo a verdade!
   — Espera! — Shane. — O que está acontecendo? Porquê está atrás dela?
   — Não é da sua conta!
   — Tem razão!
   E oiço passos a se afastarem, mas mesmo assim, ficamos no banheiro por mais dez minutos.
   Shane vem ter conosco. — Caminho livre. Vou ligar para o meu amigo vir buscar vocês.
   — Ele não desconfia de nada? — Pergunto.
   — Acho que não.
   — Por via das dúvidas, não podemos nos ver durante uma semana. Precisamos convencê-lo que você não tem nada comigo.
   — Está bem, mas você não acha que uma semana é muito tempo, pequena?
   — Só peço que confie em mim. Por favor! — Não sei porquê, mas abraço ele.
   — Vou confiar em você! — Ele diz e me beija.
   — Não esqueçam que temos que fugir daqui, por favor! — Daise me puxa. — Eu sei que ele é irresistível, mas sabe o que também é irresistível? A morte!
   — O quê? — Shane parece mais confuso que antes.
   — Prometo que vou contar. — Digo. Eu sei que ele é muito inteligente e é capaz de descobrir sozinho, então prefiro ser eu a contar.
   Shane liga para o seu amigo que depois de uma hora vem nos buscar. E Shane se despede de mim, me dando um abraço muito carinhoso. É cedo demais para ele gostar de mim.

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