CAPÍTULO 02
VERNEApesar de toda a histeria dos últimos dias vir para Índia sempre era um refúgio. Estar com minha sobrinha não tinha preço, Jade era uma criança maravilhosa e idêntica a mãe dela.
- Jade não se pendure aí. – Aviso vendo ela se pendurando no balanço.
Vejo Jennifer se aproximando de nós com dois refrigerantes em mãos. Ela me oferece um e eu arqueio a sobrancelha.
- Refrigerante? – Indago e ela ri.
- Bebe logo. – Ela se senta no banco ao meu lado.
Ficamos um tempo sentados no silencio do parque vendo Jade brincando até eu sentir o peso do olhar de Jennifer em cima de mim.
- Pode falar. – Deixo a latinha de refrigerante de lado.
- Andei pensando em tudo o que me falou. – Suspira pesadamente. – E peço desculpas pela minha reação.
Me viro para encara-la e vejo que Jenny está realmente triste com tudo o que aconteceu. Assim que cheguei na casa da minha irmã decidi contar para ela sobre meu envolvimento com Avia e Jennifer se sentiu traída com tudo e sua reação não foi das melhores.
- Não se preocupe com isso. – A puxo para perto de mim e beijo o topo da sua cabeça. – Sei que fui imprudente e podia colocar tudo a perder me envolvendo com ela.
Jennifer tem os olhos grudados em Jade e encosta a cabeça em meus ombros.
- Não escolhemos por quem nos apaixonar, Verne. – Ela suspira pesadamente.
- Eu não sou apaixonado por Avia. – Falo me afundando em toda mágoa guardada dentro de mim. – Eu amo aquela mulher e por isso eu deixei que ela fosse embora.
- Eu a entendo. – Jennifer desencosta dos meus ombros para fitar meus olhos. – Ela estava livre de tudo, Verne. Ela finalmente poderia viver em paz longe de tudo isso que nos assombra e eu se estivesse no lugar dela também não abriria mão disso. Da famosa liberdade.
Engulo em seco.
Eu não julgava Avia por ter ido embora, eu não a odiava e nem nada disso. Eu só sentia uma ferida enorme aberta em meu peito, pulsando, viva. E doía demais, a ausência dela doía demais e as vezes me amaldiçoo por ter amado aquela mulher, pois entre tantas mulheres eu fui amar logo a mulher que eu nunca poderia ter.
Olho minha sobrinha brincando na grama e sorrio, era isso que valia a pena. Ver quem amávamos feliz.
- Nosso pai tem tentado falar contigo. – Trago o assunto à tona mesmo sabendo que Jenny odeia.
- Não começa. – Ela resmunga.
- Jenny, ele voltará a ser investigado. – Falo e ela me olha incomodada.
- Dimitre não tinha deixado isso de lado e somente o afastado do cargo?
- Sim, porém os Martinez não aceitaram o que ficou como julgamento final. Eles não acreditam na história que papai contou. Você algum momento acreditou naquela história? Acredita que ela foi assassinada?
- Nosso pai mentiu a primeira vez sobre o suicídio, então como posso acreditar que ela foi assassinada por vingança. – Jennifer me olha apreensiva.
Minha irmã odiava esse assunto.
- Estou disposto a pegar esse caso e levar até o final. Sabe que se for provado que nosso pai a matou e mentiu em toda a investigação a cabeça dele será oferecida aos Martinez, certo?
- No final de tudo, Verne... – Jennifer suspira. – Eu prefiro acreditar que ela se matou e nem ela e nem o bebe sofreram nessa hora. – Ela me encara triste. – Se não diretamente, indiretamente pelo menos nosso pai a matou. Ele a matou por dentro.
- Eu vou dar aos Martinez uma resposta, devemos isso a eles. – Falo e ela concorda.
Me levanto e pego Jade no colo e sigo com Jennifer e Jade de volta para casa, já estava tarde e logo Kabir estaria em casa e eu nem ao menos o tinha visto hoje.
Chegamos na enorme casa e vejo Kabir na sala em seu notebook concentrado. Assim que ele avista Jade que grita por ela assim que o vê, Kabir deixa o notebook de lado e corre para abraçar a pequena que ria.
- Verne, que bom que veio nos visitar. – Kabir me cumprimenta.
- Fazia tempo que eu não via essa sapequinha. – Aperto o nariz de Jade que resmunga.
Kabir coloca Jade no chão e vai até minha irmã a beijando. Depois fala algo com Jennifer que não escuto e vejo ela subir com Jade rindo com a pequena no colo.
- Fiquei sabendo dos acordos que estão tentando com os Hoffman. – Kabir se aproxima de mim me entregando um copo de whisky e agradeço mentalmente por não ser refrigerante.
- Acordos? – Bufo. – Estamos sendo muito arriscados.
- Charles Hoffman era bem perseguido em seu pais. – Kabir diz pensativo. – Sabemos que ele não era muito amigo do Capo vigente, não sei se está fazendo bons negócios.
- Charles está morto. – Falo e me sento no sofá e bebe o liquido âmbar. – E Elizabeth é sua única herdeira e nós dois sabemos que na Alemanha mulheres não podem exercer papel de chefe de família.
- Se aliar aos Hoffman é uma afronta para Paul Schäfer e sabemos que ele não é um homem muito paciente.
Kabir se senta no sofá de frente para mim e sua atenção é desviada para minha irmã que desce as escadas sem Jade contigo.
Jennifer senta ao lado do marido e pega o copo de whisky de sua mão e bebe todo o liquido âmbar antes de fixar seus olhos em mim.
- Eu conheci Elizabeth. – Jennifer pensativa. – Quando a conheci ela tinha vinte quatro anos, me lembro claramente dela. Elizabeth tinha uma alma livre, todos perto dela sorriam e se interessavam por suas histórias. É... – Jennifer agora encara o copo pequeno de vidro em sua mão. – Eu gostei dela desde a primeira vez que eu a vi, pois ela representava tudo o que eu queria na época, ser livre, sorrir tranquilamente e fazer todos a minha volta felizes.
- Onde quer chegar, Jenny? – Pergunto.
- Sei que estará indo atrás dela pela fortuna que ela carrega e pela influência que seu sobrenome possui. Mas... – Minha irmã bufa. – Ela merece mais, Verne. Então pense bem no que irá fazer, suas escolhas podem mudar drasticamente a vida de outra pessoa.
Eu não tinha escolha e se eu tivesse eu não queria mais perder tempo pensando sobre os prós e os contras de outra ação.
Amanhã estarei a caminho da Alemanha.
•••
NOTAS:
• Destinazione se passa três anos e meio depois de Cattiveria.
• Avia/Cloe é 12 anos mais nova que Verne. Ela o conheceu com 17 anos e se envolveu com ele quando fez 19 anos. Avia/Cloe atualmente tem 23 anos.
• Verne atualmente tem 35 anos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Destinazione I Spin Off - Série Obscuros
Literatura FemininaDestino, são linhas curvadas e sinuosas que se encontram em nosso futuro e nem sempre sabemos onde elas irão nos levar. E foi no olhar dela, calmo e destemido que ele encontrou moradia, ele tinha certeza que ela era seu destino. Nesse mundo obscuro...