CAPÍTULO I - MATTEO

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"A gente fica mordido, não fica?
Dente, lábio, teu jeito de olhar..."
(Liniker)


Matteo Resende entrou pelas portas do edifício Lummia Empreendimentos, localizado na Avenida Paulista, apressado. Sempre fora considerado um homem realmente atraente. Alto e de feições bem marcadas, trajava um terno de corte Italiano Armani, ao qual lhe conferia um ar de muito poder e seriedade.

Ao adentrar a recepção cumprimenta os funcionários com um bom dia seco, cruza todo hall causando uma sensação de constrangimento. Matteo sabia que ao desaparecer pelo saguão os porteiros correriam para um telefonema alertando aos demais funcionários dos outros setores que ele estava a caminho. O motivo; Matteo dificilmente comparecia ao escritório pela manhã.

Chegando no elevador e a porta começar a se fechar automaticamente escuta uma voz suave à distância em passos apressados de um jovem de cabelos curtos e negros, num corpo baixo e atlético, provavelmente um dos funcionários.

— Segure a porta, por favor... — disse o homem que trajava um terno azul e trazia a mão uma maleta executiva. Pela forma de como falava nem imaginava de quem se tratava Matteo, provocando um leve espanto nos demais funcionários que observavam tudo a poucos metros na recepção — obrigado! — agradeceu com um sorriso enquanto Matteo fechava a porta do elevador.

— Trabalha aqui? — Perguntou Matteo, pelas horas, pouco mais de nove, se fosse algum funcionário estaria bem atrasado, os horários da empresa iniciavam às oito. Claro, o rapaz à sua frente estava bastante atrasado.

— Hah, sim, — respondeu enquanto tentava em vão controlar a respiração acelerada — trabalho no setor do Sr. Fábio Pifano, que provavelmente vai ficar uma fera comigo...

— No sétimo andar seu setor, isso?

— Hãham, fica. Estou suado e atrasado, levarei advertência, colocamos o despertador para tocar, mas não o escutamos, Antony jurou que estava regulado para isso, não entendo.

— Antony?

— Ahãn, Antony, um amigo que divide o Kitnet comigo, bem, não chega a ser um Kitnet, está mais para uma caixa de sapatos — sorri achando graça de si mesmo — ele está terminando sua Pós-Graduação em Arquitetura e alugou seu apartamento para arcar com as mensalidades na PUC.

— Entendo... — Matteo observava o rapaz e sentia-se de alguma forma atraído por ele. O fato de não saber de quem se tratava ali naquele elevador deixava a conversa desinibida.

— Ainda não havia lhe visto por aqui — disse o encarando com curiosidade. — Bem, como conheço todos que trabalham neste edifício me lembraria se já tivesse lhe visto, eu acho... ainda mais um homem tão alto, quase sou um anãozinho perto de você.

— Vou levar isso como um elogio. Chegamos ao sétimo andar.

— Hoh, é mesmo, só faltava eu passar direto e piorar minha situação com o chefe de setor.

— Não iria acontecer — disse sério Matteo.

— Você trabalha também no prédio?

— Sim, também — respondeu com um sorriso largo.

— Então está tão atrasado quanto eu, né... estou aqui tem vinte dias — explicou.

— Espero que seu chefe não fique tão bravo com você.

— Espero também, e como espero — disse desanimado saindo do elevador. — Bem, nos vemos pelos corredores em algum momento.

— Sim, nos veremos, sim... — interrompido pelo elevador que fechou a porta automaticamente.

A sala de Matteo localizava-se no último andar do Edifício Lummia. Neste andar estavam também localizadas as salas da administração. Matteo possuía dois secretários particulares e de confiança para cuidar de sua agenda conturbada. Um deles, Bruno Narciso, não era muito de conversa, mas era um excelente funcionário. O outro, Rudney, que sabia nutrir um sentimento por ele, trabalhava para Matteo havia mais de vinte anos. O jeito jovial e despojado incomodava bastante Matteo, mas relevava, afinal até reconhecia que isso deixava-o ainda mais bonito, não que não soubesse dos sentimentos de Rudney por ele que, felizmente, permaneceram sempre no campo profissional e o que de certa forma deixava ele com uma mágoa latente e quase exposta.

— Sr. Matteo — disse ao escutar a porta batendo levemente ao ser fechada à entrada do chefe. — Não o aguardávamos hoje aqui no escritório tão cedo.

— Rudney, me poupe dessa falsa surpresa. Óbvio que já ligaram da recepção anunciando minha chegada. Praticamente nem esperaram eu chegar ao elevador para fazerem as ligações. — Concluiu em tom nada amigável.

— Todos os documentos que me solicitou estão separados em sua mesa — disse mudando o rumo da conversa rapidamente. — Caso o senhor precise de algo mais...

— Por favor, me chame aqui o Fábio, preciso conversar com ele imediatamente — interrompeu.

— Fábio Pifano?

— Contrataram outro Fábio e não estou sabendo? — rosnou ríspido enquanto Rudney saía da sala em direção à sua mesa com a cara fechada e enraivecida.

NICK E MATTEO (REVISADO 02/08/19)Onde histórias criam vida. Descubra agora