"Avisa que eu cheguei, que a gente vive apenas uma vez"
(Naiara Azevedo)O Kitnet que Nick dividia com Antony estava localizado na periferia da Zona Norte de São Paulo. Era um casarão reformado que havia sido adaptado para receber vários inquilinos e assim garantir um dinheiro a mais para o locatário.
Nick havia perdido seus pais quando ainda era uma criança, sendo criado por uma tia por parte de pai que cuidou dele como a um filho. Quando Antony decidiu deixar seu apartamento para alugar e assim custear seu curso de Pós-Graduação, convidou Nick para dividirem o valor de um Kitnet. Nick ficou empolgado com a ideia de liberdade já que conhecia o amigo desde a infância. Tia Carmem não se opôs quando recebeu a notícia. Nick sempre fora mais reservado, mas Antony era quase um compulsivo sexual, vivia em constantes flertes e encontros sexuais sem compromisso.
Antony era alto, vinte e quatro anos, seus pais viviam atualmente na capital Mineira e ele havia se oposto a ideia de se mudar de São Paulo, assim a casa que viviam ficou para si e agora alugada para estranhos à contragosto, mas como precisava do dinheiro e o orgulho de aceitar ajuda dos pais era ainda maior, apenas reclamava com o amigo Nick.
Para Nick os homens sempre tiveram papel irrelevante em sua vida, não que deixasse de dar uns beijos ou uns amassos por aí, mas o que gostava mesmo era de ir às galerias de arte, comprar e se esbaldar em livros. Gostava de cozinhar, de música e cães. Não podia ver um cão de rua que logo corria para fazer amizade, chegava a dar o lanche que levava na bolsa para o trabalho. Antony era o oposto, passava os finais de semana nas danceterias e no dia seguinte era como se nada tivesse acontecido. Nick não se imaginava assim.
O mês de julho se fazia cruel na alta temporada do inverno, Nick acordara e olhou pela janela vislumbrando a serração baixa que deixava toda a rua esbranquiçada. Desolado puxou a blackout, virando-se para Antony que acordado fazia uma careta pela luz da lâmpada que machucava sua visão acendida naquele exato momento.
— Vamos, Príncipe Encantado, — disse com sua voz bêbada de sono—temos que ir logo, mais um atraso e colocam minha cabeça a prêmio e com essa cerração baixa...vamos virar picolés.
— Hah, não! — resmungou escondendo a cabeça no edredom — eu estou resfriado, Nick!
— Hah, tá, como se eu não o conhecesse, né? Vamos logo — reclamou indo escovar os dentes.
— Não estou de corpo mole hoje, realmente não estou bem — insistiu, Antony. Deve ser esse mês maldito de julho, essa friagem do cão.
— Vamos trabalhar logo — disse colocando água para ferver para preparar o café.
— Estou morrendo — choraminga Antony.
— Eita, por isso somos o sexo frágil. Vou te preparar um chá de cidreira com limão para você tomar com aspirina. E você se apronte para eu não me atrasar novamente.
— Vai ser uma boa combinação, remédio com chá quente nessa friagem — ironizou — e não se preocupe, exigir pontualidade em São Paulo e nesse frio, é até insano.
— Você não tem jeito, Antony! Vamos.
— Vamos, vamos — disse com a xícara estendida com o chá e segurando a aspirina com a outra mão — quer comer alguma coisa?
— Não, só quero morrer! — respondeu mal-humorado. Irei ficar em casa e dormir que amanhã serei outro.
— Está bem, Antony, desisto, vai faltar às aulas e ficar apertado depois. Na hora do meu almoço dou um pulo aqui e lhe trarei uma própolis para espirrar nessa garganta também.
Nick já estava mais que em cima da hora para pegar a condução, o que não daria era para tomar o seu próprio café. Chegou ao ponto de ônibus e ficou por longos minutos aguardando, com aquela cerração não era difícil compreender o atraso, quando o ônibus veio e abriu a porta sentiu uma onda de calor sair, não tinha mais onde empilhar passageiros. Iria em pé, apertado, e chegaria atrasado por causa do enorme congestionamento que já se fazia na Avenida Paulista. Hoje Fábio iria lhe arrancar o fígado... não iria escapar.
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NICK E MATTEO (REVISADO 02/08/19)
RomanceMatteo Resende, um empresário Paulistano, tem sua vida virada de ponta à cabeça após um "encontro" com um de seus funcionários no elevador. Nick estava atrasado para o trabalho, como sempre, e pede ao estranho que segure a porta enquanto corre ap...