CAPITULO 3 - ANTONY

780 95 2
                                    

"Avisa que eu cheguei, que a gente vive apenas uma vez"
(Naiara Azevedo)

O Kitnet que Nick dividia com Antony estava localizado na periferia da Zona Norte de São Paulo. Era um casarão reformado que havia sido adaptado para receber vários inquilinos e assim garantir um dinheiro a mais para o locatário.

Nick havia perdido seus pais quando ainda era uma criança, sendo criado por uma tia por parte de pai que cuidou dele como a um filho. Quando Antony decidiu deixar seu apartamento para alugar e assim custear seu curso de Pós-Graduação, convidou Nick para dividirem o valor de um Kitnet. Nick ficou empolgado com a ideia de liberdade já que conhecia o amigo desde a infância. Tia Carmem não se opôs quando recebeu a notícia. Nick sempre fora mais reservado, mas Antony era quase um compulsivo sexual, vivia em constantes flertes e encontros sexuais sem compromisso.

Antony era alto, vinte e quatro anos, seus pais viviam atualmente na capital Mineira e ele havia se oposto a ideia de se mudar de São Paulo, assim a casa que viviam ficou para si e agora alugada para estranhos à contragosto, mas como precisava do dinheiro e o orgulho de aceitar ajuda dos pais era ainda maior, apenas reclamava com o amigo Nick.

Para Nick os homens sempre tiveram papel irrelevante em sua vida, não que deixasse de dar uns beijos ou uns amassos por aí, mas o que gostava mesmo era de ir às galerias de arte, comprar e se esbaldar em livros. Gostava de cozinhar, de música e cães. Não podia ver um cão de rua que logo corria para fazer amizade, chegava a dar o lanche que levava na bolsa para o trabalho. Antony era o oposto, passava os finais de semana nas danceterias e no dia seguinte era como se nada tivesse acontecido. Nick não se imaginava assim.

O mês de julho se fazia cruel na alta temporada do inverno, Nick acordara e olhou pela janela vislumbrando a serração baixa que deixava toda a rua esbranquiçada. Desolado puxou a blackout, virando-se para Antony que acordado fazia uma careta pela luz da lâmpada que machucava sua visão acendida naquele exato momento.

— Vamos, Príncipe Encantado, — disse com sua voz bêbada de sono—temos que ir logo, mais um atraso e colocam minha cabeça a prêmio e com essa cerração baixa...vamos virar picolés.

— Hah, não! — resmungou escondendo a cabeça no edredom — eu estou resfriado, Nick!

— Hah, tá, como se eu não o conhecesse, né? Vamos logo — reclamou indo escovar os dentes.

— Não estou de corpo mole hoje, realmente não estou bem — insistiu, Antony. Deve ser esse mês maldito de julho, essa friagem do cão.

— Vamos trabalhar logo — disse colocando água para ferver para preparar o café.

— Estou morrendo — choraminga Antony.

— Eita, por isso somos o sexo frágil. Vou te preparar um chá de cidreira com limão para você tomar com aspirina. E você se apronte para eu não me atrasar novamente.

— Vai ser uma boa combinação, remédio com chá quente nessa friagem — ironizou — e não se preocupe, exigir pontualidade em São Paulo e nesse frio, é até insano.

— Você não tem jeito, Antony! Vamos.

— Vamos, vamos — disse com a xícara estendida com o chá e segurando a aspirina com a outra mão — quer comer alguma coisa?

— Não, só quero morrer! — respondeu mal-humorado. Irei ficar em casa e dormir que amanhã serei outro.

— Está bem, Antony, desisto, vai faltar às aulas e ficar apertado depois. Na hora do meu almoço dou um pulo aqui e lhe trarei uma própolis para espirrar nessa garganta também.

Nick já estava mais que em cima da hora para pegar a condução, o que não daria era para tomar o seu próprio café. Chegou ao ponto de ônibus e ficou por longos minutos aguardando, com aquela cerração não era difícil compreender o atraso, quando o ônibus veio e abriu a porta sentiu uma onda de calor sair, não tinha mais onde empilhar passageiros. Iria em pé, apertado, e chegaria atrasado por causa do enorme congestionamento que já se fazia na Avenida Paulista. Hoje Fábio iria lhe arrancar o fígado... não iria escapar.

NICK E MATTEO (REVISADO 02/08/19)Onde histórias criam vida. Descubra agora